22/08/2023

Em nome de Deus!

Já nos convenções municipais realizadas em Guarapuava foi possível observar a influência que a religião terá nesta campanha eleitoral. Isso ficou evidente na escolha da candidata à vice na chapa encabeçada pelo candidato a prefeito Fábio Ribas, Rita Felchak. “Ela é uma pessoa que tem uma boa entrada na igreja”, teria dito o prefeito Fernando Ribas Carli, por telefone, ao comunicar a decisão aos demais postulantes da vaga. É claro que a intenção do grupo Carlista é contrapor Rita à liderança política e religiosa da candidata a vice-prefeita na chapa liderada pelo deputado Cesar Filho, a vereadora Eva Schran. Vamos aos fatos. Que a Rita Felchak é uma pessoa de fé, ligada à Igreja Católica, isso ninguém duvida. Mesmo porque suas manifestações religiosas se tornaram mais expostas a partir do espetáculo “Paixão de Cristo” que é produzido e dirigido pela Companhia de Teatro Arte e Manha, trupe liderada por Rita Felchak. É claro que por conta dos espetáculo cênico a candidata se aproximou mais das paróquias, da Diocese, se envolveu de corpo e alma com as passagens bíblicas.

Porém, falar da trajetória política de Eva Schran é confundir com a sua atuação na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, na Vila Primavera, com o Movimento de Mulheres, com pastorais e outros movimentos sociais ligados à Igreja Católica. Aliás, a sua candidatura à vereadora nasceu dentro da Igreja e é nos princípios religiosos do bem comum que o seu mandato se sustenta. O PHS, partido no qual é filiada, representa a atuação política religiosa calcada no dueto fé x politica que gera uma escola com essa diretriz em Guarapuava. Cesar Filho, por sua vez, foi criado em colégio de religiosas, o Nossa Senhora de Belém. Só saiu de lá pela vontade de cursar o ensino público indo para o Colégio Ana Vanda Bassara.

O candidato a prefeito pela coligação “Bons Ventos Guarapuava”, o médico Antenor Gomes de Lima (PT) também é um homem de fé católica. Desde cedo participou do Juca (Grupo de Jovens da Catedral) e foi nesse segmento que encontrou também apoio financeiro para concluir o curso de Medicina na Universidade Evangélica. Quem acompanhou essa fase da sua vida, mesmo de longe, sabe muito bem quantas vezes o Juca se reuniu para promover eventos cuja arrecadação seria destinada ao auxílio financeiro para as rematrículas de Antenor na Universidade. Uma vez formado passou a ter grande inserção em movimentos e pastorais, principalmente, a Operária.

O mesmo acontece com o candidato a prefeito Jauri Gomes, que chegou a estudar em seminário com o desejo de tornar-se sacerdote. A fé de Jauri Gomes em Nossa Senhora de Belém rendeu até uma música em homenagem à Padroeira de Guarapuava.

A manifestação religiosa de cada pessoa, independente, de qual linha seja, é um direito constitucional, portanto, cada um tem o direito de exercê-la e qualquer intolerância nesse sentido é crime. E há políticos que sabem muito bem disso e aproveitam a campanha para expor a sua fé. “Quando fui convidado pelos amigos do Partido Progressista para ser candidato a prefeito, me ajoelhei e pedi que Deus me iluminasse para fazer a melhor escolha”, disse Fábio Ribas no sábado (14) durante uma benção ecumênica na Lagoa das Lágrimas, no sábado (14) e que reuniu pastores e o padre Ari Marcos, além da equipe de campanha. QA manifestação da sua fé religiosa vem sendo o estandarte de Fabio Ribas em seus discursos desde a convenção.

Já desde as últimas campanhas presidenciais no Brasil a influência das religiões na política brasileira chama a atenção até mesmo da imprensa internacional. “A Igreja Católica tem forte influência política no Brasil””, disse a Agência Reuters

Na véspera do segundo turno das eleições, o Brasil é apresentado pelo correspondente do diário francês Le Monde no Rio de Janeiro, Jean-Pierre Langellier, como um Estado laico onde o poder das religiões populares é capaz de influenciar os temas dos debates dos candidatos à Presidência.
O jornalista disse que, depois das polêmicas sobre o aborto, a petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra decidiram excluir de suas propostas a legalização do direito à interrupção da gravidez e que, agora, preferiram falar em "direito à vida" para agradar aos cristãos de todas as correntes.

Por outro lado, o papa Bento XVI manifestou ser favorável à participação política de sacerdotes da Igreja Católica nas eleições brasileiras. Em reunião no Vaticano com uma delegação de 15 bispos brasileiros do Nordeste, o pontífice declarou que “quando os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas”. Bento XVI disse que “quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia (…) o ideal democrático é atraiçoado nas suas bases”.

Sabemos que as principais sociedades políticas existentes são a família, o Estado e a Igreja. Todas possuidoras de estruturas complexas e bem definidas que, ao contrário do que se possa pensar, não as tornam independentes umas das outras, mas sim cria vínculos de inter-relacionamentos.

Nesse sentido, entendo que embora se constitua em fator de poder, a Igreja, diferentemente do que aconteceu no passado, não deveria exercê-lo de forma direta.  Afinal, estamos diante da consolidação do processo democrático e do pluralismo religioso dentro da sociedade. Mas não podemos desmerecer o compromisso da Igreja  dos mais diferentes segmentos, assim filosofias pagãs no Brasil com a democracia, com o Estado de Direito e sua opção de apoiar um modelo democrático, politicamente soberano e participativo, economicamente inclusivo e socialmente justo. Mas daí candidatos se permitirem a usar a fé como mote de discurso tentando alcançar a fé de cada eleitor de maneira repetitiva é no mínimo apelativo demais para o meu gosto.

Cristina Esteche

Jornalista

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