A recente troca de farpas entre o senador Sérgio Moro (União) e o deputado estadual Ademar Luiz Traiano (PSD), Presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, pelas redes sociais vai além de uma mera divergência pessoal. Isso porque revela um embate que parece motivado por interesses eleitorais para 2026. A investida de Moro no Senado Federal, na última terça (15), ganhou eco nas redes. É que ele trouxe à tona o caso em que Traiano confessou ter recebido dinheiro, em 2016, para fechar contrato em nome do Legislativo, juntamente com o deputado Plauto Miró. Quem pagou foi o empresário Vicente Malucelli. Traiano confessou o recebimento do recurso e se comprometeu a devolver o valor, para não ser condenado.
Mas o discurso do senador, aparentemente deslocado no tempo e sem novos fatos concretos, sugere algo mais profundo. Surge como uma articulação estratégica envolvendo os irmãos Guerra — Ricardo Guerra, suplente de Moro no Senado, e Luis Fernando Guerra, deputado estadual.
O fato de ambos estarem politicamente alinhados e ativos na cidade de Pato Branco indica que a ofensiva de Moro contra Traiano pode ser uma jogada antecipada. A ‘cartada’ seria para enfraquecer adversários e garantir alianças antes das próximas eleições. Nesse contexto, as redes sociais funcionam como um palco eficiente para esse tipo de disputa política disfarçada de embate pessoal.
Em resposta pelas redes, Traiano buscou desqualificar a crítica ao defender o acordo de não persecução penal (ANPP). Fato esse, homologado pela Justiça e implementado na legislação sob a gestão de Moro como ministro da Justiça. Ao destacar essa contradição, Traiano expõe um ponto sensível: o senador estaria atacando algo que ele mesmo ajudou a criar, o que mina a consistência do discurso de Moro e sugere incoerência.
DERROTA EM CURITIBA
Além disso, Traiano atribuiu a crítica do ex-juiz a uma motivação pessoal, mencionando a derrota eleitoral da esposa dele, Rosangela Moro, em Curitiba. Ela foi vice na chapa liderada por Ney Leprevost. Ao associar as críticas ao ressentimento por essa derrota, o deputado procura enfraquecer os argumentos do senador. Ou seja, insinuando que Moro estaria desviando o foco para encobrir um revés político recente.
Traiano ainda ampliou a ofensiva ao citar Ney Leprevost, que rotulou Moro como um “traidor contumaz”. A acusação reforça a narrativa de que o senador não teria demonstrado lealdade nem na magistratura, nem com aliados políticos, ampliando o desgaste da imagem dele. A crítica vai além: ao mencionar o uso de R$ 230 mil do fundo eleitoral para promover a candidatura de Rosangela, o deputado insinua que Moro pode ter cometido abuso eleitoral, crime previsto no artigo 354-A do Código Eleitoral.
PANO DE FUNDO
Embora a discussão pareça motivada por ressentimentos pontuais, o ‘pano de fundo’ político se torna mais claro ao analisar o papel dos irmãos Guerra. A proximidade entre Ricardo Guerra, suplente de Moro, e Luis Fernando Guerra, deputado estadual, sugere que as críticas direcionadas a Traiano podem ser uma manobra antecipada para enfraquecer potenciais adversários e solidificar alianças com vistas às eleições de 2026, na Região Sudoeste. Traiano é de Francisco Beltrão. O uso das redes sociais para intensificar a disputa evidencia a tentativa de Moro de ganhar visibilidade e influência, mesmo em debates aparentemente descontextualizados.
O desfecho da resposta de Traiano foi marcado por um desafio simbólico: nessa quarta (16) ele pediu que Moro apresentasse uma certidão de antecedentes criminais e civis em cartório, destacando a própria ausência de processos judiciais. Além disso, comparando com o fato de que o senador é réu em ações no STF. O gesto buscou reforçar a narrativa do Presidente da Assembleia Legislativa, contrapondo-se à imagem de Moro. No entanto, nesta quinta (17) o senador aceitou o desafio, mantendo a tensão viva e sugerindo que esse confronto continuará, tanto nas redes quanto nos bastidores políticos.
Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos.
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