22/08/2023
Agronegócio

Embrapa desenvolve alface com maior teor de ácido fólico

O Brasil é o quarto país do mundo com maior prevalência de nascimentos de bebês com anencefalia, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). No País ocorrem cerca de 1.800 casos por ano. Apesar de a causa da anencefalia ainda não estar completamente definida – provavelmente é desencadeada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais – já se sabe que a ingestão de ácido fólico meses antes da concepção pode prevenir em mais de 50% a ocorrência dessa doença. Por outro lado, a boa notícia é que a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF) está desenvolvendo uma pesquisa para aumentar o teor de ácido fólico, ou vitamina B9, nas plantas de alface.

A anencefalia tem sido foco de discussões no Brasil que envolvem médicos, cientistas, juristas, religiosos e a sociedade em geral. Polêmicas à parte, a má notícia é que a incidência de fetos anencéfalos vem aumentando nas últimas décadas e hoje é de um em cada 700 no Brasil, o que é um índice relativamente alto.

A pesquisa, coordenada pelo pesquisador Francisco Aragão, começou em 2006 com o objetivo de desenvolver plantas de alface geneticamente modificadas com maior teor de ácido fólico. Segundo ele, a alface já produz essa vitamina, mas em pequenas quantidades. O que ele e sua equipe fizeram foi aumentar a produção das moléculas que dão origem ao ácido fólico através da introdução de genes deArabidopsis thaliana, que é uma planta-modelo, muito utilizada na biotecnologia vegetal.

Os estudos foram realizados de duas maneiras: no primeiro caso, o gene foi inserido no genoma nuclear da planta e no segundo, no cloroplasto (parte da planta responsável pela fotossíntese). A primeira vertente resultou em linhagens de plantas com até 15 vezes mais ácido fólico e a segunda, com duas vezes mais. Aragão pretende iniciar o cruzamento entre as duas variedades para tentar alcançar índices ainda maiores da vitamina nas plantas. “Manipulando as duas rotas, pode ser que essa quantidade chegue a até 30 vezes mais, como indicam alguns estudos semelhantes realizados nos Estados Unidos”, afirma.

Vantagens
A vantagem da alface é que, além de ser uma hortaliça que faz parte da dieta da população brasileira, ela pode ser ingerida crua, o que é muito melhor para a absorção das vitaminas. As plantas modificadas pela Embrapa são de um tipo de alface crespa, que é a preferida da população do Distrito Federal. “Mas, a pesquisa pode ser estendida a outras variedades”, diz Aragão.

As plantas foram testadas com ratos para avaliar a capacidade da absorção do ácido fólico por mamíferos e os resultados foram muito bons. Na primeira semana em que receberam as folhas de alface geneticamente modificadas, os animais tiveram um crescimento significativo do teor da vitamina no sangue. 

Fonte: Agência Brasil

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.