Da Redação
Guarapuava – A possibilidade de existir uma lei municipal determinando a contratação de músicos locais na abertura de grandes shows pode tirar Guarapuava do circuito nacional nesse setor. A preocupação foi demonstrada por três dos sete produtores de shows nacionais e internacionais da cidade.
“Essa decisão está sendo unilateral, uma vez que não fomos procurados e nem convidados para participar do debate, mesmo sendo os maiores interessados, já que seremos os principais atingidos”, disse o produtor Orivaldo Chagas, o 'Bolo'.
Ele se refere à proposta de emenda a uma lei municipal, que determina a contratação de músicos, bandas e grupos de Guarapuava na abertura de qualquer show com artistas de renome nacional e internacional, mediante pagamento de cachê e descontos na taxa de imposto (ISSQN).
Provocada pela Associação dos Artistas e Músicos do Paraná (AAMUP) e acatada pelo vereador Samuel da Silva Pinto, o Samuca, a proposta foi apresentada durante encontro com cerca de 70 músicos na noite dessa segunda (25). “A aprovação foi unânime”, disse Samuca à RSN. LEIA AQUI
“Essa proposta vai atingir diretamente quem paga a conta”, observa Sidney Chass, na manhã desta terça (26), no Departamento de Jornalismo da RedeSul de Notícias. “Se aprovarem essa emenda, não vai ter mais shows de peso na cidade”, ratifica Juliano Evandro Cordeiro. Ele promove eventos há 18 anos.
A dificuldade na execução do que está sendo proposto esbarra inicialmente na produção dos grandes artistas. “Nenhum produtor de artista renomado permite que outro artista toque no mesmo palco. Isso é contratual e se for burlado é quebra de contrato. O artista não faz o show, gera multa para o contratante e prejudica o público”, diz Bolo.
Além desse item, a logística terá geração de mais despesas e também influencia na posição contrária dos produtores. “Para cumprir o que estão querendo nos impor goela abaixo vai encarecer os shows”, diz Juliano. Segundo Bolo, será necessária a montagem de um novo palco, a contratação de mais equipamentos de som e de luzes. “E vamos colocar esse palco onde? No meio do povo?”, questiona. Nas contas dos produtores, serão no mínimo mais R$ 10 mil de despesas, além do pagamento dos cachês.
“Já pagamos impostos, taxa de alvará, Ecad, Funrespol, RT anual do Corpo de Bombeiros, TAC anual para o Bombeiro, contratamos empresa de som e de iluminação que no caso dos grandes shows vem de fora e agora mais essas proposta? Por que penalizar quem faz as coisas na cidade?” pergunta Sidney.
Outro argumento é que a proposta prevê o espaço para músicos autorais, ou seja, que possuem composições próprias. “A maioria dos shows em Guarapuava é sertanejo. Qual músico sertanejo de Guarapuava é autoral?” questiona Bolo. “Essa proposta pode até prejudicar o músico local que pode ser ‘queimado’ pelo público que está ali esperando uma atração de renome", avalia Juliano. A maioria dos músicos de Guarapuava é amadora e isso pode ter efeito revés”, observa Juliano.
De acordo com Bolo, Guarapuava tem uma média anual de seis grandes shows por ano. “Será que vale a pena criar essa polêmica e prejudicar um setor que já vem sendo afetado drasticamente pela crise econômica nacional? Temos artistas renomados que estão cancelando shows por falta de público”, exemplifica.
“Essa reserva de mercado é perigosa, pode limitar a alguns artistas”, diz Juliano. “Estão querendo prejudicar quem paga a conta”, emenda.
ABERTURA
Os produtores dizem que são favoráveis à valorização dos artistas locais desde que haja critério e que o debate não seja unilateral. De acordo com Bolo, existem outras alternativas que proporcionam a projeção dos talentos. “Nós já disponibilizamos espaço e oferecemos parcerias para vários eventos nesse sentido, mas nunca fomos procurados”, diz. Com 30 anos de estrada na promoção de eventos, Bolo lembra que em anos anteriores a Prefeitura incentivava os músicos locais.
“A 92 FM possui na grade diária um espaço para a divulgação” de músicas autorais, além de um programa aos domingos”, divulga Juliano Evandro Cordeiro, que há 20 anos trabalha com shows.
ORGANIZAÇÃO
Para trabalhar e defender o interesse da classe, os produtores de eventos em Guarapuava estão mobilizados para a criação de uma associação. “Estamos nos organizando para isso”, anuncia Orivaldo Chagas.
QUER OUVIR
O vereador Samuel da Silva Pinto, o Samuca, disse à RedeSul de Notícias que na próxima semana deverá se reunir com os produtores para explicar a proposta. “Nesta semana viajo, mas na semana que vem vou convidar todos eles [produtores] para explicar a nossa proposta e ouvi-los. A nossa intenção é propor uma solução que fique bom para os dois lados”.