O Mundo acordou triste com a morte do Papa Francisco e a Igreja Católica com um novo desafio. Embora tenha a raiz da minha fé no Cristianismo, mas transito por outras crenças, mais focadas no culto à natureza, que é Divina, sou fã do Papa Francisco e o legado que ele deixa me leva à reflexão.
Ou seja. A morte de Francisco projeta inevitavelmente a Igreja Católica para uma encruzilhada histórica. O primeiro papa latino-americano, jesuíta e com nome inspirado no santo da humildade e da fraternidade, deixa um legado profundo. Marcado por gestos simbólicos, reformas institucionais e uma tentativa incansável de aproximar a Igreja dos pobres, dos excluídos e dos desafios contemporâneos.
Francisco não foi apenas um reformador administrativo ou teológico. O pontificado dele representou uma virada pastoral. Desde o famoso “quem sou eu para julgar?” ao acolher pessoas LGBTQIA+, até a crítica aberta a um sistema econômico que “mata”, Francisco reposicionou a Igreja. Deu à ela uma voz ética em defesa da dignidade humana e da justiça social.
TEOLOGIA DO POVO
Na opção pelos pobres e a periferia, Francisco trouxe a ‘Teologia do Povo e da Libertação para o centro da Igreja. Não como ideologia, mas como prática concreta. Escolheu visitar os lugares esquecidos, lavar os pés de presidiários, acolher refugiados e alertar para a crise dos migrantes.
Dentro da Cúria Romana, mais do que reorganizar departamentos, tentou romper com a lógica de poder centralizado e com práticas de carreirismo e corrupção dentro da estrutura vaticana. A encíclica ‘Laudato Si’ foi um marco na aproximação entre fé e ecologia, tornando Francisco uma das principais vozes globais na defesa do meio ambiente.
Trouxe também a ideia de uma Igreja “em saída”, que escuta e dialoga e que esteve no centro dos sínodos convocados por Francisco. Inclusive no recente Sínodo da Amazônia e o processo sinodal sobre o futuro da própria Igreja.
O PESO DA RESPONSABILIDADE
E agora pesa sobre o Conclave a escolha e a responsabilidade do sucessor. No meu entendimento leigo em relação à Igreja, ouso dizer que três palavras devem pautar essa escolha: continuidade, coragem e unidade. O novo papa, seja quem for, herda não apenas a cadeira de Pedro, mas também um contexto e um conjunto de expectativas moldadas por um pontificado que desafiou confortos internos e externos.
Portanto, a escolha do próximo pontífice será determinante para o rumo da Igreja nas próximas décadas. Manter o espírito de Francisco sem torná-lo apenas simbólico. A força transformadora do Pontificado não pode ser reduzida a uma estética de simplicidade. É preciso aprofundar a reforma da Igreja com base na escuta e no serviço.
TERRENO EXPOSTO
Francisco deixou um terreno fértil, mas também exposto. As resistências ao estilo dele, principalmente por parte de setores ultraconservadores, exigirão do novo papa equilíbrio, firmeza e capacidade de promover unidade sem retrocesso.
Isso porque a Igreja pós-pandemia, pós-crise climática e em plena era da inteligêrcia artificial exige novas respostas sobre ética, tecnologia, exclusão e espiritualidade. O próximo papa terá que ampliar o diálogo com outras religiões, culturas e saberes.
A crise de vocações, o afastamento de jovens e a necessidade de novos modelos de ministério pastoral (incluindo a discussão sobre o papel das mulheres na Igreja) também estarão sobre a mesa. Portanto, o próximo conclave não é apenas um evento interno do Vaticano. É um fato global, carregado de sentido político, espiritual e cultural. O novo papa será chamado a continuar um projeto que não é apenas de Francisco, mas do Evangelho vivido com coragem, empatia e profecia.
DESAFIO
O desafio é imenso: manter viva a centelha de uma Igreja que caminha junto com os que sofrem, fala com os que estão à margem e resiste às tentações de poder e autorreferência. O legado de Francisco não pode ser apenas honrado. Deve ser vivido, ampliado e atualizado com o mesmo espírito que o inspirou a dizer: “prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, do que uma Igreja enferma pelo fechamento e pela comodidade de se agarrar às próprias seguranças.”
O mundo observa, espera e, quem sabe, reza por um novo pastor que compreenda que a autoridade da Igreja nasce do serviço.
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