22/08/2023
Blog da Cris Guarapuava

Entre discursos e canções: o silêncio que Neto Rauen deixou

Aos 50 anos, parte um homem que fez da amizade um ato de entrega e da música uma extensão da alma. Sua voz seguirá viva na memória da cidade

Neto Rauen (Foto: arquivo/RSN)

Há silêncios que pesam mais do que qualquer palavra. A morte de Neto Rauen, aos 50 anos, trouxe esse tipo de silêncio: o que interrompe vozes, sonhos, conversas inacabadas. Neto era feito de sons. A voz firme nos microfones da política, e a alma embalada em canções que pareciam saídas de um disco sertanejo.

Quem o conheceu sabe: Neto não passava despercebido. Tinha a presença de quem sabia escutar o povo, mas também de quem sabia cantar as próprias dores e amores, com uma voz tão marcante que parecia cover oficial de Bruno e Marrone. Entre sessões na Câmara Municipal de Guarapuava entre 2013 e 2016 e apresentações improvisadas em rodas de amigos, a vida dele foi um revezar constante entre o microfone da política e o microfone da emoção.

Foi vereador, ocupou cargos públicos com seriedade e paixão. Amava Guarapuava com a intensidade de quem acredita que a política ainda pode transformar. E lutava por isso, mesmo quando tudo parecia ir na contramão. No governo do Paraná, o nome também ecoou com respeito. Porque Neto tinha uma habilidade rara: unir a técnica com o afeto, o discurso com o coração.

Mas havia também o Neto das madrugadas na ‘Morada da Lua’, do microfone ao alcance da mão, dos refrões que nasciam entre risos, das conversas ao pé do ouvido. Era aquele tipo de amigo que sabia cantar com você, e por você, quando faltavam palavras. Hoje, o que falta é ele. Falta a gargalhada em alto volume, a indignação honesta sobre muitas coisas da vida, a generosidade simples. Falta a voz.

A MÚSICA SILENCIOU

A vida, essa maestra que nunca ensaia as perdas, decidiu encerrar cedo demais a canção de Neto Rauen. Mas como toda boa música, ele deixou uma melodia que resiste ao tempo. Está nas memórias de quem o ouviu falar com firmeza, nas mãos que ele apertou com sinceridade pelas ruas da cidade, nas noites em que  a voz dele embalou corações cansados.

Neto Rauen partiu, mas não em silêncio. O legado ainda canta, e continuará sendo ouvido por quem acredita que a amizade se faz com alma, e que viver, no fundo, é sempre um pouco cantar.

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Cristina Esteche

Jornalista

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