22/08/2023

Entre xeque-mate e gol contra

Guarapuava – Por Cristina Esteche

Se o prefeito Fernando Ribas Carli (PP) espera ter tranquilidade nas próximas votações da Câmara terá que “fechar o cerco” em torno dos vereadores que estão sendo assediados para garantir a tão propalada “governabilidade”.
O que os estrategistas do prefeito traçam para arrebanhar mais quatro votos e desta forma inverter o atual quadro na Câmara já foi “pedra cantada” para quem conhece o histórico político local. Até demorou, dizem os mais pessimistas, ou ainda: há vereadores que estão perdendo a chance de mudar essa história, mas foi bom enquanto durou, como disse um conhecido político da cidade na quarta-feira, dia 23.
Situação como essa pela qual passa o meio político de Guarapuava pode ser comparada a cenas típicas de campo de futebol, a um leilão, a uma partida de xadrez ou de pôquer. Quando se pensa que o jogo está ganho o adversário contra-ataca rapidamente, blefa ou tira uma carta da manga. O que poderia estar ganho, de repente, pode se transformar em derrota, assim como aconteceu nas eleições para a presidência da Câmara.
Avisos diversos chegaram ao prefeito Fernando Carli, prevendo a “tragédia anunciada” de que a “tucana” Maria José Mandu Ribas perderia a eleição. Mas a hipótese de derrota estava afastada entre os poucos metros que separam o Paço Municipal da Câmara de Vereadores. Nos dias que se aproximaram das eleições, o sumiço de três vereadores aliados (João Napoleão, Nélio Gomes da Costa e Sadi Federle) começou a aproximar Fernando Carli da realidade evidente. Sem querer acreditar no que todos já sabiam, Carli fez um discurso de posse emocionado na Câmara Municipal. Evocou o tema “lealdade”. A mais atingida da noite, a vereadora Maria José, manteve-se num silêncio profundo, forçada pelas circunstâncias.
Em coletiva à imprensa à época, respondendo a perguntas da “Rede Sul” e “Tribuna Regional”, Carli considerou “pesado demais” o termo “traição”, sobre a decisão dos vereadores “rebeldes”. Deixou claro, entretanto, que houve uma quebra de confiança, passível de punição. A pena a ser aplicada? “Cada cabeça uma sentença”, respondeu ele.
Mas voltemos aos fatos atuais sem qualquer pretensão de remeter os fatos presentes aos passados.
As jogadas que foram feitas durante a semana ficaram apenas nos vestiários, ou melhor, nas conversas ao pé de ouvido que se observou durante as duas sessões da semana, capitaneadas pelo situacionista Fernando da Maçã, ou pelos emissários que circularam pelos corredores da Câmara em busca do alvo escolhido. Gente que há muito não se via passou a ser presença diária no Legislativo entre uma conversa e outra, revezando-se entre idas e vindas entre a Câmara e a Prefeitura, ali, a dois passos.
Os próprios vereadores da bancada “carlista” (Maria José Mandu Ribas, Elcio Melhem, Fernando da Maçã e Magrão) conversaram muito com vereadores do bloco oposicionista em tom amigável como há muito não se via, o que pode fazer supor uma aproximação, com pitadas de cumplicidade.
Não faltaram também conversas isoladas ou em conjunto (um ritual que estava se tornando tradicional, as reuniões do bloco oposicionista, ainda aconteceram) com o presidente da Câmara, Admir Strechar, que se mantém firme, apostando nos seus pares. “Até que me comuniquem oficialmente e que se pronunciem publicamente na tribuna eu digo que o G-8 se mantém firme”, insiste o peemedebista. “Somos companheiros; construímos um projeto de fiscalizar os atos do Executivo com rigor e não nos submeter a nenhuma ordem que viesse prejudicar a população, como vinha acontecendo em legislaturas anteriores e estamos cumprindo essa proposta. Agora, se alguém vai desviar essa trajetória e vai permitir que esse jogo seja invertido não é a mim que deverão dar explicações, mas aos eleitores que os elegeram”, disse Strechar.
“Se alguém me perguntar se o libero desse compromisso para que possa votar com a bancada do prefeito quem sou eu para tentar impedir? Vou dizer que essa pessoa está liberada para fazer o que quiser. Se somos contra qualquer imposição, como vou impedir alguém de escolher o caminho que quer seguir?” pondera.
A segurança de Admir Strechar é grande, mas em relação à sua posição política. “Eu continuo na oposição”, afirma.
Nos corredores da Câmara há apostas para todas as situações, entre uma confabulação e outra. Alguns “cantam a pedra”, como se diz no jogo de bingo, de que 4 já estão no “lado de lá”.
Outros preferem desafiar o “improvável” e dizem que pelo menos 2 vão recuar e vão preferir se manter fiéis à oposição, condição para a qual foram eleitos.
Enquanto vereadores e prefeito continuam a jogada, a sociedade de Guarapuava espera que as cartas sejam colocadas à mesa. Um dos principais líderes políticos do município ratifica o que já foi dito anteriormente, de que entrará com medidas judiciais para “derrubar” o voto secreto para que o cidadão possa saber quem é quem na ordem do dia.
Por enquanto, apesar da tensão que paira sobre o bloco oposicionista, tudo continua como antes, até a próxima rodada.
O que ainda não foi percebido é que no tabuleiro de xadrez novas pedras podem ser colocadas. Se 4 são eliminadas, outras 9 podem entrar na jogada e proporcionar um xeque-mate.

Cristina Esteche

Jornalista

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