22/08/2023
Cotidiano Política

“Era óbvio que em questão de tempo a Rússia faria isso”

Professor explica que a Ucrânia tem se aproximado de instituições como a Otan e a União Europeia o que vinha incomodando a Rússia

Conflitos

Conflitos com a Rússia envolve vários territórios (Imagem: Google Maps – Edição: Portal RSN)

Na manhã desta quinta (24), militares da Rússia efetivaram as ameaças de Vladimir Putin contra a Ucrânia. Os ataques às cidades ucranianas atingiram civis e militares e muitas pessoas já tentam fugir do país. As origens do conflito mostram que as atitudes do governante russo já eram esperadas por especialistas no assunto.

De acordo com o pesquisador Washington Ramos dos Santos Junior, era uma questão de tempo para que a Rússia iniciasse os conflitos. “Isso porque ela já fez isso em Moldova [Moldávia], quando a população russa se declarou independente de Moldova e fundou a República da Transnístria”.

Washington é doutor em Psicologia Social e explica que esse conflito até hoje não foi resolvido e se repete agora nos confrontos contra a Ucrânia. “Não é nenhuma surpresa que isso aconteça”. As tensões iniciaram há muito anos e um dos pontos principais ocorreu em março de 2014,  quando a Rússia anexou a Crimeia.

Isso ocorreu sob o pretexto de que a Rússia estava defendendo os interesses do país e dos cidadãos de língua russa. “É um território do qual a Rússia não vai abrir mão nunca porque está relacionado a defesa e ao acesso ao Mar Negro”.

Isso ocorre hoje, especificamente, por conta da geopolítica norte-americana de tentar evitar uma aproximação do continente europeu com a Rússia, principalmente da Alemanha. A Alemanha iria ampliar o consumo de gás natural da Rússia, sem depender que esse gás passasse pela Ucrânia.

Conforme Washington, que também é professor de Geografia da Unicentro, o que ocorre agora é cortina de fumaça, “porque o que a Rússia está fazendo agora, ela vem fazendo desde 1992, já tem 30 anos. Mas só agora que o Ocidente, capitaneado pelos Estados Unidos, decide interferir de forma mais próxima, mais direta sobre o conflito”.

DISCURSO OCIDENTAL E A OTAN

Um dos pontos discutidos por especialistas é o do discurso ocidental que busca “demonizar a Rússia”. O professor Washington explica que, apesar do discurso de Vadimir Putin ocorrer de forma ditatorial, “o Ocidente não é tão santo assim”. Isso porque, os conflitos com a Ucrânia já iniciaram com o fim da União Soviética e não é uma surpresa o que ocorre agora.

Dessa forma, os conflitos neste momento relacionam-se com os interesses do Ocidente. E, como afirmado pelo professor, vinculam-se com a ampliação da Alemanha, do consumo de gás natural russo pelo ‘Nord Stream’. Isso porque haveria a inauguração do ‘Nord Stream 2’ que passa pelo Mar Báltico e não depende do território ucraniano para abastecer a Europa.

Então o conflito na Ucrânia tem uma questão logística e de abastecimento muito direta que não foi um problema no caso da Geórgia e da Moldova, 30 anos atrás e em 2008, respectivamente.

Outra questão importante é a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que, conforme o geógrafo Washington, “é uma organização de defesa que preconiza que se um membro é agredido todos os membros da organização vão debelar essa agressão”. Dessa forma, “o problema da Rússia não é com a Ucrânia, mas com a Otan”.

A Ucrânia tem se aproximado de instituições europeias, como a Otan e a União Europeia, o que tem incomodado a Rússia. Por isso, o presidente da Rússia afirmou que o país virou uma “marionete do Ocidente” e “nunca foi um Estado adequado”.

Além disso, Putin exigia que a Ucrânia garantisse que não se juntaria à Otan. Isso porque a Organização é uma aliança militar de 30 países e a Rússia pedia que as autoridades ucranianas desmilitarizasse o país e o tornasse um Estado neutro.

Se a Ucrânia entra na Otan, imediatamente, todos os países da Otan vão ter que debelar essa agressão russa. Tanto em relação a anexação da Crimeia quanto à recente invasão do território ucraniano pelas tropas russas. Isso sob o pretexto de serem forças de paz, claro.

DEFESA DA IDENTIDADE RUSSA

O professor Washington, que é membro do grupo de pesquisa ‘Redes de Poder, Migrações e Dinâmicas Territoriais (Gepes)’ exemplifica que a Rússia utiliza a mesma estratégia que a Sérvia usava em relação à Independência do Kosovo. Ou seja, se vale de uma explicação ligada à identidade russa.

“A Sérvia não o reconhece porque o território do Kosovo é o território de origem da identidade sérvia”. Ou seja, “perder o Kosovo é perder aquele território que deu origem a própria nação Sérvia”.

A Rússia está fazendo isso com a Ucrânia agora. Porque a Rússia começa em Kiev e depois é que ela se transfere para Moscou. Há uma identidade contínua, temporalmente e espacialmente entre os ucranianos e os russos.

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Antunes

Jornalista

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