No fim do mês de novembro o réu Luis Felipe Manvailer, que está preso há mais de 850 dias, concedeu uma entrevista ao jornalista Roberto Cabrini, para o Domingo Espetacular, da Record TV. Entretanto, as respostas de Manvailer acabaram provocando revolta nas redes sociais. Isso porque, parte das pessoas acredita na inocência do réu e a outra julga como inverídicas as respostas e a postura do réu. Pensando nisso, o Portal RSN convidou o especialista em ciência comportamental Fellipe Silvester para analisar a postura e o comportamento de Manvailer durante a entrevista.
*Reiteramos que a avaliação é um estudo baseado em ciências comportamentais. Fellipe não está expondo a opinião pessoal, e sim trazendo uma análise de acordo com a ciência do comportamento.
De acordo com Fellipe, o ser humano possui padrões de conduta relacionados aos comportamentos em diversas situações. Desse modo, quando submetidos a inúmeras questões em níveis emocionais e racionais, podem apresentar congruência ou incongruência na maneira de falar, agir e pensar. Todas essas variações são apresentadas como padrões ou até mesmo pela quebra de padrões estabelecidos. “A análise feita nessa entrevista ocorre por meio dos movimentos oculares, que estão correlacionados com o nosso modo de pensar. Eles são indicadores não somente do conteúdo dos nossos pensamentos, mas também de como pensamos. O movimento dos olhos é, portanto, um meio de acesso aos processos internos de representação do seu interlocutor”.
Assim, Fellipe também explica que a maioria das pessoas destras seguem o movimento ocular. No entanto, algumas podem adotar de forma normal o padrão inverso. Na análise feita, ele utiliza apenas esse formato e comprova que o réu segue e adota o padrão inverso. “Assim, adotando as pistas de forma inversa como podemos avaliar no vídeo. Lembrando que isso não é uma escolha, mas sim uma condição natural dos seus processos mentais”.
ENTREGANDO NO OLHAR
No início da entrevista com Cabrini, Manvailer aparece tranquilo e a voz segue esse sentimento. Enquanto conversa com o jornalista, Luis Felipe fala sobre o estado atual de sua vida e confirma o que fala acessando o que Fellipe denomina como campo visual cinestésico. “A tranquilidade dura pouco tempo, o que é perfeitamente natural em razão das perguntas, e de não saber como procederá a entrevista. Rapidamente seu comportamento se altera, demonstrando estado de nervosismo através das suas microexpressões da face. A respiração de Luis passa a ser superficial, rápida e mais curta”.
Com as primeiras perguntas de Cabrini, Fellipe analisa que Manvailer passa a trazer informações aleatórias. Ele se justifica antecipadamente, com a finalidade de uma persuasão inicial. “Neste mesmo momento ele apresenta expressões de medo e incapacidade de compreensão com sua própria fala”.
Aproximadamente nos dois minutos de entrevista, Cabrini questiona Manvailer sobre Tatiane Spitzner, perguntando como ela era. Fellipe analisa que:
Luis Manvailer acessa o campo visual da criação ou lúdico. Fala e relata sobre ‘emoções’, mas não acessa o campo visual dos sentimentos, tornando o discurso incongruente. Todas as vezes que ele relata sobre as ‘emoções’ do relacionamento, transmite frieza e aspectos de falta de intimidade com o que está sendo verbalizado.
Quando questionado sobre a morte de Tatiane, Fellipe percebe que Manvailer acessa o campo visual do diálogo interno para afirmar internamente o que será verbalizado externamente. “E, ele diverge dos fatos e busca dissociar o assunto levantando outras informações, como por exemplo, dizer que estava dando apoio à companheira. Então, ele foge do questionamento real e apresenta uma espécie de soberba inconsciente em seu comportamento, denunciado no vídeo com um olhar de cima para baixo enquanto acusa a depressão de Tatiane”. Na continuidade da entrevista, o réu acusa a família de Tatiane e Fellipe afirma que é possível e fácil identificar a dificuldade da voz em sair, o que pode caracterizar uma ausência de verdade.
DESVIANDO
Na análise do comportamento do réu, Luis Felipe Manvailer, Fellipe Silvester explica que no momento em que Cabrini pergunta sobre a fidelidade no casamento, o homem desvia o tronco. Trata-se de outro sinal que pode sinalizar ausência de verdade. Assim, continua com pistas de que pode estar dizendo afirmações inverídicas quando diz que ela é a mulher mais linda que já conheceu. Entretanto, em seguida faz um ato de negação ao balançar a cabeça negativamente. Além disso, acessa o que os especialistas chamam de campo visual criado ou lúdico, também indicando falta de verdade ou incongruência. “No momento, ele apresenta seu ponto de vista como uma situação ‘inimaginável’. E neste momento a verbalização e a voz travam, um ato inconsciente de tentar esconder tal informação”.
Outro momento importante da análise de Fellipe envolve uma das principais perguntas de Cabrini a Manvailer. Trata sobre os 15 minutos de agressão. Conforme Fellipe Silvester, Manvailer muda o foco sobre a pergunta e diz não saber o tempo de duração das agressões, assim, apresentando sinais de desconforto. “Ele fica com os lábios cerrados, depois com a língua para fora da boca. Ele desvia o tronco e fecha a glote, comportamentos apenas manifestados quando aparece um problema crucial”.
O mesmo busca assuntos fora, e responde afirmando ‘não sou 0,0001%’ do que as imagens mostram. Esse comportamento pode evidenciar uma busca por uma pequena verdade para melhorar o discurso.
No entanto, quando fala sobre o ciúme de Tatiane, sobre a festa e sobre o celular, Fellipe afirma que Manvailer foi verdadeiro. “Ele apresenta sinais de congruência, demonstrando que provavelmente o gatilho foi o ciúme de Tatiane Spitzner. Isso apenas demonstra o seu próprio processo mental e a sua indagação sobre a questão moral do ato de Tatiane Spitzner em relação ao seu celular”.
A MORTE DE TATIANE
Aos cinco minutos de entrevista, Cabrini chega ao fato crucial. Ele questiona se Tatiane foi assassinada ou se suicidou. De acordo com Silvester, no início da resposta, o réu se mostra desconfortável apresentando sinais de incapacidade de lidar com o fato. “Com sinais que ele apresenta apenas com as questões capciosas da entrevista”.
No mesmo momento em que começa apresentar os fatos, Manvailer alega não ter memória sobre o acontecido, e sim somente ter flashes do ocorrido. Até este momento o mesmo foi capaz de lembrar-se de todos os fatos, sendo unicamente neste momento capaz de apresentar a informação de não possuir memórias. Ele diz que em nenhuma condição ou pretexto agiu da forma que ele mesmo relata em relação ao fato de Tatiane Spitzner sair do carro. Então, apresenta sinais de desvio de ombro e expressa com dificuldade tal informação como se a mesma fosse intragável para ele.
Na continuidade da entrevista, Cabrini pede que Manvailer descreva os momentos em que Tatiane tenta fugir. Fellipe comenta que o réu alega que é incapaz de descrever como participante dos fatos, e então começa a descrever em terceira pessoa. “Novamente, busca um assunto diferente ao questionado, com provavelmente a finalidade de fugir do que está sendo expressado. E, ainda podendo apresentar sinais de falta de verdade”.
Segundo Fellipe, Manvailer também se justifica baseando-se no ‘sequestro emocional’, explicado em um estudo de Daniel Goleman. “Ele se justifica dizendo que age de forma emocionalmente forte, não tendo raciocínio sobre as ações”. Já no momento em que Cabrini pergunta sobre mexer no corpo, Fellipe comenta que o réu age de forma tranquila, sem envolver a área emocional. Quando volta a cena no apartamento, o especialista aponta que o réu tem recordações, buscando as pistas de acessos oculares da lembrança. “Agora não relata a cena em terceira pessoa. Apresenta apenas esse momento como lembrança e novamente passa a apresentar incongruência sobre os fatos relatados”.
Luis Felipe Manvailer conta o roteiro dos acontecimentos com a utilização da psicogeografia, mostrando tudo em detalhes e utilizando gestos. Deste modo Manvailer usa esse roteiro de explicação, qual não foi utilizado em nenhum outro momento da entrevista. Todo o roteiro apresentado por Manvailer é repleto de quebras de padrões de comportamento, incômodo, desvios de tronco, diálogo interno acessando o campo visual, incapacidade de lidar com a situação e falta de compreensão. Todos os sinais apresentados podem indicar falta de verdade no roteiro apresentado.
O CHORO
Ao chegar entre os 12 e 13 minutos da entrevista, Manvailer chora enquanto relata o ocorrido. Fellipe explica que o homem está respirando rapidamente e de forma superficial, os lábios indicam tristeza extrema, a glote fecha e ele chora. “Todos os sinais podem indicar um choro genuíno. Não se pode avaliar qual o contexto causador do choque dentro dos seus processos mentais. Mesmo que a visualização de uma pessoa morta cause extremo impacto emocional”. Silvester também comenta que quando continua o relato sobre a saída do apartamento até o momento em que a mulher estava morta, Luis Felipe busca lembranças já existentes e deixa de utilizar a descrição psicogeografica e a narrativa em terceira pessoa, assim, pode estar falando a verdade.
Luis Felipe Manvailer começa a descrever a cena de ver Tatiane Spitzner na calçada, quando novamente chora, apresentando novamente respiração alterada, ruborização da pele, glote fechada e pressão sanguínea alterada, apresentada na região do pescoço. Todos os sinais novamente podem indicar um choro genuíno. O que não se pode avaliar é o contexto causador do choque.
Entretanto, Fellipe afirma que quando Manvailer relata chegar perto do corpo pedindo para que Tatiane acorde, apresenta vários sinais que indicam falta de verdade no relato. Quando fala sobre o sangue, Luiz Fellipe ” responde de forma rápida que iria livrar-se do corpo e posteriormente apresenta incapacidade de compreensão e justificativa”. Além disso, ao falar sobre a fuga, o homem também estaria agindo de maneira nervosa, como comenta o especialista.
Acesse a análise completa aqui.
Por fim, ressaltamos que Fellipe Silvester baseou a análise em estudos de Programação Neurolinguístia (PNL) e Ciência do comportamento.
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