A CPI das Apostas Esportivas, conhecida como ‘CPI das Bets’, tinha tudo para ser um momento sério de investigação sobre um dos temas mais sensíveis da atualidade. Ou seja: a infiltração de esquemas criminosos em plataformas de apostas online, a manipulação de resultados e a influência de grupos escusos sobre o esporte e a política nacional. Mas, como tantas outras CPIs antes dela, o que vemos no plenário mais se assemelha a um espetáculo grotesco do que a um instrumento de fiscalização efetiva.
Desde o início, a comissão flerta com o sensacionalismo. Convocações midiáticas, bate-bocas ensaiados, discursos inflamados para as câmeras e uma pauta que, ao invés de se aprofundar nos mecanismos de lavagem de dinheiro e tráfico de influência, parece mirar apenas na guerra política. A polarização partidária sequestrou mais uma vez o foco de uma investigação que deveria ser técnica, rigorosa e com consequências claras.
Enquanto senadores encenam indignações e jogam frases de efeito nas redes sociais, o Brasil continua à mercê de um setor bilionário pouco regulamentado. Jovens seguem vulneráveis ao vício, clubes de futebol sofrem com manipulação de resultados, e empresas ligadas ao mercado continuam operando com pouca fiscalização.
A população observa perplexa enquanto nomes conhecidos da política, do esporte e do entretenimento são citados, mas raramente responsabilizados. Tudo vira manchete, e meme, mas quase nada vira ação judicial concreta.
ENTRETENIMENTO POLÍTICO
Estamos assistindo à institucionalização do entretenimento político. Quem acompanha a participação da influenciadora Virgínia, que levou o marido Zé Felipe, é amostra disso. Quem viu o senador Cleitinho pedir que ela mandasse abraços para a esposa dele sabe do que estou tratando. A CPI virou série de TV, com direito a clipes nas redes sociais, hashtags ensaiadas e dossiês lançados como trailers de filme. O problema é que, enquanto isso, a regulação do setor de apostas continua frágil. A manipulação de resultados continua ocorrendo nas divisões menores do futebol. E os jovens, alvo preferencial das plataformas de apostas, seguem vulneráveis ao vício, à fraude e ao endividamento.
E DEPOIS?
A pergunta que fica: o que será feito com as informações levantadas? Haverá responsabilização real? Serão criadas leis robustas que protejam consumidores, atletas e a própria democracia? Ou, como em tantas outras CPIs, o relatório final será engavetado, e os envolvidos voltarão aos palanques como se nada tivesse acontecido?
O Brasil precisa encarar urgentemente o setor de apostas com seriedade. Não como mais um palco de disputa eleitoral antecipada, mas como um problema de saúde pública, economia informal e vulnerabilidade social.
A CPI das Bets pode até render manchetes. Mas, se não houver consequência prática, será apenas mais um espetáculo circense financiado pelo contribuinte.
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