22/08/2023

Está difícil medir a sinceridade

É difícil encontrar as palavras justas para descrever o que está aí. Apesar da dificuldade em compreender o que está acontecendo sobre o que se diz e o que se faz em política (seja nacional, estadual ou local), coloco-me na tarefa de transmitir o que parece ser razoável.

A hipocrisia não tem uma cor concreta. Não é sólida. Ela oscila entre um pouco de verdade e um pouco de mentira com o propósito de encobrir intenções suspeitas e falaciosas que se conspira com má fé e má intenção. Nem sempre dá para enxergá-la e combatê-la. Como frisou o Papa Francisco ela [a hipocrisia política] joga com a sedução do claro-escuro, move-se de uma maneira que parece não ameaçar ninguém com a fascinação junto aos mais desavisados e ingênuos.

Com este discurso perverso, a hipocrisia política, cada vez mais estruturada, tenta impor a tese de que aquilo que precisamos é o ‘adaptar-se ao sistema’ para nele encontrar o melhor lugar possível.

O discurso que se vende em quase todos os ambientes políticos é que devemos ‘renunciar a toda e qualquer perspectiva de mudança do mundo e aceitar o pragmatismo político’. Aceitar isto é o mesmo que dizer ‘estamos aqui apenas para produzir o que querem que produzimos’.  Muitos aceitam esta fórmula pela conveniência do viver em menoridade e, com isso, sobreviver neste ambiente desumano.

 Os poucos que resistem seguem a máxima de Gilles Deleuze [filósofo francês] que dizia que pensamos somente onde uma verdade nos obriga a pensar. O fato é nem todos conseguem enxergar esta verdade, pois está cada vez mais difícil medir a sinceridade dos agentes políticos, integrantes do Executivo e Legislativo.

Uma verdade que poucos enxergam é que o Estado está terminando, ou seja, está em retirada. Para o mercado e as organizações mundiais capitalistas é ótimo manter este Estado moribundo, em fase terminal. Em reuniões secretas dizem: ‘nós queremos o Estado assim porque ele nos serve’.

A realidade dura e crua é que o Governo Federal se deu por vencido. Como qualquer cidadão brasileiro que acompanha o debate político, esperava uma solucionática com dificuldade, mesmo que cada vez mais longe de nosso horizonte. O sentimento que tenho agora é que o Governo causou um grande estrago para o Brasil ao assumir a tese do ‘estamos vencidos’.

Sinceramente não tenho a solução para o que se considera a maior crise política de todos os tempos, mas entendo que minimamente precisamos fazer um exame deste processo de deterioração para entender em que ponto exatamente estamos. Se existe alguma solução, ela está nos homens e mulheres em movimento.

Quero acreditar [ainda] que onde mais cresce o perigo, cresce também o que pode salvar-nos. Quero acreditar que alguma outra coisa ainda é possível do que aquilo que nos é imposto. Apesar disto, vejo uma capacidade muito grande que vem da perspectiva crítica (de avaliar o que acontece, de ir contra isto e aquilo, de desconstruir quase tudo), mas uma incapacidade maior ainda [quase débil] de colocar em prática ações concretas dentro de uma perspectiva política viável.

Quando algumas pessoas recusam a servidão voluntária, tornam-se ameaças à hipocrisia política em nosso meio. O problema que vejo é que esta tentativa de projetos alternativos corre o risco de ficar apenas no campo da opinião e da suposição e a hipocrisia política se sobreponha como verdade e sentença. 

Cristina Esteche

Jornalista

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