Uma postagem no Twitter feito por uma aluna da Universidade Fronteira Sul, campus de Laranjeiras do Sul, gerou a revolta dos moradores da cidade e abertura de inquérito policial por racismo esta semana. A situação, porém, é reversa. Thamiris Costa que é autora da postagem, é negra e está sendo investigada por racismo contra brancos.
Na postagem na rede social, Thamiris que cursa o quinto ano de Ciências Econômicas, em Laranjeiras do Sul, escreveu:
Laranjeiras do Sul é a cidade dos branquelo sem sal, crescidos a base de uma pseudo cultura de superioridade, burro pra carai e ouvidores de eletrofunk.
A postagem foi feita em 7 de abril deste ano. Porém, após a repercussão, o perfil do Twitter foi excluído. Print da postagem logo após a manifestação da jovem em rede privada, vazou e viralizou nas redes sociais. Este pode ser o primeiro caso de racismo contra uma comunidade não negra no País.
“Estamos aguardando a resposta de alguns ofícios encaminhados ao Twitter”, disse o delegado da 2ª Subdivisão Policial de Laranjeiras do Sul, Igor Rabel Corso, ao Portal RSN.
A atitude da acadêmica, que saiu de São Paulo, capital, para estudar em Laranjeiras do Sul, feriu a auto-estima dos laranjeirenses. O Diretório Central do Estudantes (DCE), da Fronteira Sul, repudiou, em nota, divulgada no município. De acordo com Hullian Kallil E. Rabel, que é coordenador de assuntos políticos do DCE, a entidade repudia “comentários racistas e xenofóbicos cometidos contra o estimado povo laranjeirenses”. Diz também que lamenta “profundamente quaisquer associações do ocorrido com a instituição ou seu corpo discente” e ressalta o “amor e o respeito à população do município que acolhe todos os anos estudantes de todo o país”.
Outra manifestação de repúdio foi divulgada pelo Conselho Comunitário de Segurança de Laranjeiras do Sul (Conseg). O presidente Ariel José Oro se solidarizou com a sociedade laranjeirense e lamentou a “impressão equivocada” da acadêmica. “Nós, do Conseg, nos solidarizamos com toda a população laranjeirense, seja branca, parda, negra ou de qualquer etnia. Somos todos humanos, perante a Lei e perante Deus”.
“CIDADE RACISTA”
Para o advogado de defesa de Thamiris Costa, Camilo da Silva, há distorções no caso. “Não se trata de ofensa à comunidade laranjeirense, mas de um desabafo feito após um fato”. Segundo o advogado, Thamiris e uma amiga estavam num bar, entre jovens, quando a sua amiga foi assediada e ela desrespeitada por ser negra e ter cabelo blackpower.
Thamiris não direcionou o seu desabafo aos laranjeirenses em geral. Sua crítica foi para algumas pessoas que a importunaram e feriram a parte mais vulnerável de sua dignidade, tratando-a de forma depreciativa e como objeto, pelo fato de ser negra, situação agravada por ser mulher.
Argumenta também que a jovem está sendo acusada por um crime que não cometeu. Segundo Camilo, não existe racismo reverso, termo usado para descrever atos de discriminação e preconceito perpetrados por minorias raciais ou grupos étnicos historicamente oprimidos contra indivíduos pertencentes à maioria racial ou grupos étnicos historicamente dominantes. Em outras palavras: trata-se de discriminação reversa baseada em critérios raciais, segundo a Wikipedia.
“Não acredito que ela [Thamiris] seja condenada por esse crime. Se isso acontecer, o Brasil vai taxar Laranjeiras do Sul como a cidade mais racista. O máximo que caberia seria injúria”.
Entretanto, para o delegado, a lei não faz distinção e as investigações estão sendo conduzidas como crime de racismo. O Portal RSN tentou contato com Thamiris, mas não foi possível encontrá-la.
Segundo o advogado de defesa, a jovem passa por acompanhamento psicológico e terá reunião com a Comissão de Direitos Humanos da Fronteira Sul. “Ela continua indo às aulas, pois a vida segue”, diz o advogado.