Por Adunicentro e Jornal Correio do Brasil
Guarapuava – Leia o relato do estudante de História, Pedro Dall'Agnol Ribeiro (na foto, o segundo a partir da esquerda) que também é da diretoria do Centro Acadêmico de História da Unicentro e que participou da Caravana Tehoka, entre os dias 10 e 13 de dezembro.
"Neste último mês, tivemos a oportunidade de conhecer de perto a realidade a qual estão sujeitos os indígenas da etnia Guarani Kaiowá, na região de Dourados, no Mato Grosso do Sul, distante 50km de Caarapó.
Passamos três dias e duas noites convivendo com a dura realidade a que os indígenas da Terra Indígena Takuara estão sujeitos, acompanhados o tempo todo da liderança indígena Valdelice Veron, filha do líder Guarani Kaiowá, Marcos Veron, brutalmente assassinado em 2003 e que a todo instante nos relatava dos ataques sofridos e de como estas ações estavam se tornando rotina nas aldeias.
Durante o período em que estivemos na aldeia, convivemos com o medo constante de um possível ataque, tanto dos jagunços – matadores contratados por fazendeiros e políticos da região – quanto das aeronaves que lançam agrotóxicos sobre as aldeias e plantações. Sentimos a a apreensão a cada moto e caminhonete que se aproximava da aldeia, pois a rotina dos ataques faz apenas com que o próximo ataque tenha se tornado questão de tempo.
Mesmo com este clima de apreensão, percebemos que a disposição em resistir aos ataques e de lutar pelas terras que lhes são de direito, aumentam a cada ataque, mesmo que todos e todas tombem sobre a terra e a pintem de sangue. Sangue Guarani Kaiowá."
DENÚNCIA
Nesta semana, o Jornal Correio do Brasil noticiou: "Fazendeiros atacam tribo indígena com agente químico". Veja a matéria:
Uma nova denúncia, desta vez filmada por um líder indígena, mostra a ação de supostos fazendeiros da região de Caarapó, no Mato Grosso do Sul, pela expulsão das famílias que permanecem no acampamento Tey'i Jusu, da etnia Kaiowá. De acordo com a filmagem "fazendeiros da região despejam agrotóxico sobre as famílias".
"Debaixo do veneno, crianças, velhos, pessoas da etnia Kaiowá, tentam viver sua cultura e plantar seu alimento em paz sobre seu território ancestral".
O ataque teria acontecido neste sábado (26) "sobre o córrego d'água e sobre o resquício de mata ainda não derrubado pelo agronegócio". Ao longo de 2014, denúncias foram encaminhadas para a 6a. Câmara de justiça do Mato Grosso do Sul, "Contendo vídeos que flagraram uma aeronave idêntica despejando veneno sobre estas famílias", afirmou a testemunha. Este seria o quinto ataque químico "contra a mesma comunidade, em menos de um ano", afirmou.
LUTA ANTIGA
Há décadas, o povo Guarani Kaiowá resiste aos ataques de fazendeiros ao seu território, no estado do Mato Grosso do Sul. A luta, no entanto, tornou-se mais aguerrida nos últimos quatro anos. Desde 2012, ano de intensa mobilização dos povos indígenas no MS, a causa indígena conseguiu uma visibilidade e alianças talvez jamais vistas na história deste país.
Uma enorme repercussão e solidariedade se espalhou pela internet – Somos Todos Guarani Kaiowá – e se desdobrou, desde então, em outras dezenas de campanhas. Milhares de pessoas acrescentaram a seus nomes, o nome desse povo. Um abaixo assinado, na época, reuniu mais de 300 mil assinaturas de apoio aos direitos dos indígenas. Em mais de uma centena de cidades, foram realizadas manifestações e atos públicos de apoio.