22/08/2023
Agronegócio

Evento debate panorama mundial e nacional do feijão

O lugar do feijão no agronegócio, seus maiores produtores, exportadores e importadores, além da produção brasileira do grão – um verdadeiro dilema para o produtor e os consumidores – foram os temas de duas palestras realizadas nessa quarta feira (23), no Congresso Nacional de Pesquisa de Feijão (Conafe), em Londrina, durante o aguardado Painel do Agronegócio do Feijão.

Flávio Breseghello e Alcido Elenor Wander, da Embrapa Arroz e Feijão, abriram a discussão com o panorama mundial do mercado de feijão. Os maiores exportadores, importadores, os líderes de produção e a dinâmica do mercado embasaram a discussão dos pesquisadores. Depois, uma conexão com o mercado nacional do grão e suas possibilidades de diversificação foi o tema abordado por Marcelo Eduardo Luders, da Correpar Corretora de Mercadorias.

E é justamente essa uma das maiores preocupações de produtores brasileiros. Segundo Wander, países como a Argentina, Estados Unidos e Canadá exportam muito feijão branco, preto, entre outras variedades. “Produzem e basicamente exportam a produção, diferente de nós, que não conseguimos exportar nosso feijão”, explicou.

Isso ocorre porque nosso feijão, o carioquinha, é uma variedade tipicamente brasileira. Se por um lado sua aparição resultou numa revolução no gosto e na cultura nacional, por outro, principalmente em épocas de maior custo de produção do que ganhos, deixou um problema de difícil solução: o que fazer com o excesso? “Tem produtor que estoca feijão em casa. Depender de um único tipo do produto, sem possibilidade de exportação, elimina qualquer possibilidade de ter supersafra (como ocorreu recentemente no Paraná)”, afirma.

Segundo Marcelo Luders, institutos de pesquisa de todo o País já observaram que nos últimos de dez anos o comportamento do consumidor quanto ao consumo do grão também mudou. Feijão recém-colhido, explicou, tem destino certo na mesa dos consumidores, nem que seja pelo dobro do preço do feijão “mais velho”. “A população aceita pagar R$ 5 em um feijão mais branco, novo, mas não compra um mais barato, porém de 60 dias”, comentou. O excedente torna-se, então, problema para o produtor, que se vê obrigado a usá-lo, entre outras coisas, como ração animal.

As saídas para o impasse brasileiro “não são muitas”, na opinião do corretor: a diversificação de produção, que derrubaria os preços do feijão carioca, ou a compra do excedente pelo governo – e o destino dele basicamente para ração animal – ou a aposta do País na industrialização das leguminosas – produção do feijão “ready to eat” (pronto para comer), enlatado e válido por até três anos. “A merenda escolar, por exemplo, poderia aproveitar esse produto”, complementou. A alternativa, diz, seria tão saudável quanto o consumo tradicional do feijão, embora os custos da produção sejam maiores.

Diversificar a produção com outras variedades de feijão seria ainda mais produtivo para o Paraná. Embora o estado seja o maior produtor nacional do feijão, a qualidade do produto não é referência nacional. “Variações climáticas, para o carioca, não são muito toleráveis. O feijão preto ou o vermelho poderiam ter melhor desempenho aqui”, diz Luders.

Apesar das dificuldades, o corretor tem boas expectativas para o futuro da produção brasileira, principalmente por conta da pesquisa científica. “Não devemos esperar a solução de fora. Temos institutos como o próprio Iapar, Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) que desenvolvem variedades de feijão”, afirma.

O 11º Conafe é promovido pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), com apoio do Londrina Convention & Visitors Bureau, Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento do Agronegócio (Fapeagro), Basf, Miac Máquinas Agrícolas, Selegrãos, Bayer, Syngenta e Laboratório Farroupilha.

Cristina Esteche

Jornalista

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