22/08/2023
Segurança

Ex-preso conta relação entre detentos e servidores

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O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), órgão ligado ao Ministério Público Estadual, prendeu recentemente (1º de agosto) em flagrante cinco traficantes que agiam na cidade. Andrey Ramires Duarte da Silva (18 anos), conhecido como “Verde”, Leandro Cardoso (21 anos), Fabio de Castilho Cebulski (29 anos), Ricardo Lavardes Pacheco (21 anos), o “Girino”, e William Taylor de Souza Kowal vinham sendo investigados pelo Gaeco há dois meses. Fabio Cebulski é professor e leciona as matérias de física e química em instituições de ensino de Guarapuava.
Andrey, Leandro e Fabio faziam parte de dois grupos distintos de tráfico e eram liderados por dois presos da Cadeia Pública de Guarapuava. Segundo o Gaeco, Leandro e Fábio agiam sob o comando de William Taylor, preso por policiais militares no dia 4 de maio deste ano. Ele aguarda julgamento por tráfico de drogas.
O segundo grupo era composto por “Verde” e pelo detento Ricardo Lavardes, o “Girino”, preso desde o dia 15 de setembro, quando foi surpreendido tentando arremessar maconha para o solário da carceragem. Ele já foi julgado e condenado a mais de oito anos de prisão por tráfico e associação de droga.
O primeiro grupo portava a arma de fogo que seria trocada com o segundo grupo por dois quilos de maconha, numa negociação que aconteceria no bairro Cristo Rei, nas proximidades de uma indústria madeireira.
No momento em que os três traficantes eram abordados pela equipe do Gaeco, o celular de Leandro tocou. Um dos agentes policiais se fez passar por Leandro. A ligação era originada por Willian de dentro da carceragem da 14° SDP. O preso perguntava se o “negócio havia dado certo”. Ele foi então comunicado que seus comparsas haviam sido presos.
“Com esta informação e convictos da participação dos detentos no crime que estava sendo praticado aqui fora, fomos então até a carceragem da 14° SDP e depois de apreender dois celulares numa das celas, estes pertencentes aos envolvidos, demos voz de prisão aos detentos e os autuamos juntamente com os demais envolvidos”, afirmou o delegado do GAECO, Ítalo Biancardi Neto. Com estas prisões o GAECO totalizou neste ano a prisão de 59 pessoas, das quais 33 foram por tráfico de drogas.
Conivência
Segundo um ex-preso do cadeião, que pediu sigilo de identidade, celulares, drogas e ferramentas são comuns dentro da carceragem. Ele fala que há conivência do “preso de confiança” do chefe de carceragem, “porque o pessoal que recolhe a sacola são os agentes carcerários, só que quem faz a revista no material são os presos de confiança, eleitos pelo chefe de carceragem. Por isso levar bagulho (droga) ou seja o que for para dentro é a coisa mais fácil do mundo”, aponta.
“Entra droga, celular, chip e até há alguns anos teve um carcereiro que foi pego passando chip para dentro da carceragem, foi comprovado, os presos confirmaram e até falaram que já estava tudo armado para sequestrar juíza e filho, mas ninguém fez nada. Depois o Gaeco prendeu outro carcereiro passando coisas para dentro e a Justiça também não fez nada. Tudo continua do mesmo jeito”, ressalta.
O ex-preso da cadeia da 14ª Subdivisão Policial diz que a família dos presos consegue passar o que deseja em troca de dinheiro. “Recebem sempre da família e entregam dinheiro para passar as coisas. É muito fácil ganhar dinheiro ali, porque nas celas todo mundo oferece. Tem preso que oferece R$ 2 mil para passar as coisas para dentro, sei de um carcereiro que ganhou R$ 1 mil pelo chip e mais R$ 1 mil pelo telefone celular, então são R$ 2 mil fáceis de ganhar, mais do que o salário que ele ganha por mês. Todo mundo ali tem consciência de tudo o que acontece”.
Ele explica que cada uma das alas (A e B) tem um chefe à frente, que é “o chefão do tráfico, o cara que comandava de fora e que está preso e o que ele pedir lá dentro todo mundo acata”. De acordo com o ex-detento, toda terça-feira ou quarta-feira acontece reunião do PCC. “Eles decidem o que vão fazer. A metade do lucro vai para as famílias desses presos, é tudo muito bem organizado. Para a família dos presos não falta nada”.

Delegada diz que objetos são arremessados da rua
A delegada chefe da 14ª SDP, Maritza Haisi, disse que até acredita que celulares e drogas passem para a carceragem, mas não através dos agentes, mas pelos próprios familiares. “O nosso setor de encarceramento não foi construído para abrigar presos por tempo indeterminado. O correto seria que eles permanecessem aqui apenas durante as investigações, num período máximo de 30 dias. Mas como o sistema penitenciário não absorve esses presos, e tendo em vista que não temos nenhuma área de segurança externa como a PIG (Penitenciária Industrial de Guarapuava), as nossas paredes são próximas das ruas, muita coisa acaba sendo jogada”, observa.
O pátio onde os detentos tomam sol não possui cobertura, fato que, segundo a delegada, prejudica a segurança. “Esses objetos vêm para dentro através de lançamento da rua. É um problema que temos tentado resolver, mas como é uma área de 900 metros quadrados, temos dificuldades de engenharia e de orçamento”, afirma.
Maritza fala que, caso receba alguma informação envolvendo agentes da polícia civil, certamente um inquérito policial seria aberto e, caso a culpa fosse comprovada, o responsável seria punido. “Não temos nenhuma informação de servidores, mas sei de familiares que trazem objetos escondidos com muita engenhosidade e criatividade. Já encontramos durante revista em bolachas, chip dentro de costura de calça jeans, maconha dentro de erva de chimarrão. È uma situação de difícil solução, pois temos poucos auxiliares de carceragem, apenas quatro que trabalham em escala de plantão”.
Foto:Arquivo

Cristina Esteche

Jornalista

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