A falta de alas psiquiátricas em hospitais de Guarapuava agrava o problema da saúde mental. Embora o município conte com duas unidades dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS AD e CAPS II) é preciso muito mais. Dona Maria, que mora no bairro Concórdia em Guarapuava, por exemplo, convive com um drama. O filho adolescente de 16 anos é viciado em drogas.
Além disso, é agressivo, depressivo e sofre de surtos. Ela é uma das pessoas que entraram em contato com o Portal RSN para reclamar da falta de local para internamento. “Quando meu filho chega em casa surtado, agride e quebra tudo, não sabemos o que fazer. Não adianta chamar a polícia porque eles não levam. O jeito é trancar ele no quarto e deixar que quebre tudo, até se acalmar”.
Este, no entanto, é um dos casos que atingem muitas famílias, não apenas em Guarapuava. De acordo com a coordenadora da Atenção Especializada de Saúde, Claudia Cúnico Locatelli, o município se ressente com a falta de alas em hospitais destinadas aos pacientes de alto risco.
Hoje atendemos no CAPS II crianças, adolescentes e adultos com transtornos mentais. No CAPS AD álcool e drogas são atendidos pacientes de 18 anos. Os menores recebem atendimento no CAPS III, que é um centro de atenção psicossocial regulado pela 5ª Regional de Saúde.
Conforme Claudia, para internações de pacientes de alto risco em clínicas e/ou hospitais psiquiátricos, quando solicitados pelos médicos, “dependemos de vagas liberadas pela Sesa/Estado em outras cidades. Isso ocorre pela Central de Leitos”. De acordo com a coordenadora, no que compete ao município, no CAPS há atendimento com equipe multidisciplinar, visitas e acompanhamentos domiciliares, tanto para problemas de transtornos mentais quanto para álcool e drogas.
No entanto, o horário é limitado. Ou seja, das 8h às 17h. Há também duas residências terapêuticas onde vivem pessoas com transtornos psiquiátricos. Estas não tiveram sucesso com o tratamento ambulatorial, e não têm condições de se manterem sozinhas. “Essas pessoas moram nessas casas, mas têm acompanhamento de equipes do CAPS”. Conforme Claudia, se busca a estabilização e ressocialização familiar e no território onde residiam anteriormente.
EM SURTO
Mas o drama se agrava quando uma pessoa entre em surto psicótico e precisa de internação. A alternativa é chamar o Samu e/ou levá-la à uma das três unidades de pronto atendimento da cidade para estabilização do quadro. Caso o paciente, após receber a medicação e ficar estabilizado, necessite de internação hospitalar, recebe orientação com a família a procurar um dos CAPS. Após, então retorna para casa até a liberação da vaga feita pelo Estado.
E muitas vezes apenas a medicação não basta. O paciente precisa ficar contido ali mesmo na Upa. Conforme o regulador Mauro Sérgio Oliver, ele acompanha esses casos e procura dar suporte aos familiares. “Mas é muito difícil e frágil essa situação, pois às vezes o paciente é medicado e precisa ficar contido”. Assim sendo, há quem fique alguns dias em meio a outros pacientes.
“Surto psicótico é caso de urgência emergência, pois há risco de morte. Pode ser um atentado contra a própria vida ou uma pessoa que ofereça risco a outros”.
Conforme explicou Claudia Cúnico, o paciente que precisa de internamento permanece aguardando que seja autorizada a vaga pela Central de Leitos. “Não é o município que determina isso. É o Estado. O regulador Oliver só insere os dados no sistema. E aí quando abre a vaga, uma ambulância com enfermeiro e um familiar leva o paciente até o hospital ou clínica determinado. Pode ser em Maringá, Curitiba, Londrina ou outro município”. De acordo com Claudia, há uma média de três internações por semana.
OS NÚMEROS DE GUARAPUAVA
Com a pandemia da covid-19 a saúde mental das pessoas ficou comprometida. De acordo com pesquisa do instituto Ipsos, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial, 53% dos brasileiros declararam que o bem-estar mental piorou um pouco ou muito no último ano. Guarapuava sentiu o mesmo efeito. “Aumentaram os casos de transtornos como depressão, tentativas de suicídio, insônia, ansiedade”.
Para se ter uma ideia, o CAPS II (atende 32 pacientes pré-agendados por dia. Em 2021 o CAPS AD atendeu cerca de 4.130 pacientes. Já o CAPS II fez 11 mil atendimentos. Neste primeiros meses de 2022, até o último dia 11, já estão registrados em torno de atendimentos. E aí surge mais um agravante.
Guarapuava possui apenas um psiquiatra, que é Sergio Ozanam, para atendimentos nessas duas unidades, uma vez por semana. Outros dois médicos com conhecimento em saúde mental atendem nos dois CAPS.
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