22/08/2023
Guarapuava Saúde

Falta de ala psiquiátrica leva pacientes em surto às Upa’s de Guarapuava

Pacientes com surto psicótico grave precisam ficar contidos e chegam a esperar até 15 dias por vaga da Central de Leitos em outras cidades

PACIENTE HOSPITAL

Sem alas em hospitais, pacientes com surto psicótico grave precisam ficar contidos e chegam a esperar até 15 dias por vaga fora da cidade (Foto: Reprodução/Pexels)

A falta de alas psiquiátricas em hospitais de Guarapuava agrava o problema da saúde mental. Embora o município conte com duas unidades dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS AD e CAPS II) é preciso muito mais. Dona Maria, que mora no bairro Concórdia em Guarapuava, por exemplo, convive com um drama. O filho adolescente de 16 anos é viciado em drogas.

Além disso, é agressivo, depressivo e sofre de surtos. Ela é uma das pessoas que entraram em contato com o Portal RSN para reclamar da falta de local para internamento. “Quando meu filho chega em casa surtado, agride e quebra tudo, não sabemos o que fazer. Não adianta chamar a polícia porque eles não levam. O jeito é trancar ele no quarto e deixar que quebre tudo, até se acalmar”.

Este, no entanto, é um dos casos que atingem muitas famílias, não apenas em Guarapuava. De acordo com a coordenadora da Atenção Especializada de Saúde, Claudia Cúnico Locatelli, o município se ressente com a falta de alas em hospitais destinadas aos pacientes de alto risco.

Hoje atendemos no CAPS II crianças, adolescentes e adultos com transtornos mentais. No CAPS AD álcool e drogas são atendidos pacientes de 18 anos. Os menores recebem atendimento no CAPS III, que é um centro de atenção psicossocial regulado pela 5ª Regional de Saúde.

Conforme Claudia, para internações de pacientes de alto risco em clínicas e/ou hospitais psiquiátricos, quando solicitados pelos médicos, “dependemos de vagas liberadas pela Sesa/Estado em outras cidades. Isso ocorre pela Central de Leitos”. De acordo com a coordenadora, no que compete ao município, no CAPS há atendimento com equipe multidisciplinar, visitas e acompanhamentos domiciliares, tanto para problemas de transtornos mentais quanto para álcool e drogas.

No entanto, o horário é limitado. Ou seja, das 8h às 17h. Há também duas residências terapêuticas onde vivem pessoas com transtornos psiquiátricos. Estas não tiveram sucesso com o tratamento ambulatorial, e não têm condições de se manterem sozinhas. “Essas pessoas moram nessas casas, mas têm acompanhamento de equipes do CAPS”. Conforme Claudia, se busca a estabilização e ressocialização familiar e no território onde residiam anteriormente.

EM SURTO

Samu precisa ser chamado (Foto: Arquivo/RSN)

Mas o drama se agrava quando uma pessoa entre em surto psicótico e precisa de internação. A alternativa é chamar o Samu e/ou levá-la à uma das três unidades de pronto atendimento da cidade para estabilização do quadro. Caso o paciente, após receber a medicação e ficar estabilizado, necessite de internação hospitalar, recebe orientação com a família a procurar um dos CAPS. Após, então retorna para casa até a liberação da vaga feita pelo Estado.

E muitas vezes apenas a medicação não basta. O paciente precisa ficar contido ali mesmo na Upa. Conforme o regulador Mauro Sérgio Oliver, ele acompanha esses casos e procura dar suporte aos familiares. “Mas é muito difícil e frágil essa situação, pois às vezes o paciente é medicado e precisa ficar contido”. Assim sendo, há quem fique alguns dias em meio a outros pacientes.

“Surto psicótico é caso de urgência emergência, pois há risco de morte. Pode ser um atentado contra a própria vida ou uma pessoa que ofereça risco a outros”.

Conforme explicou Claudia Cúnico, o paciente que precisa de internamento permanece aguardando que seja autorizada a vaga pela Central de Leitos. “Não é o município que determina isso. É o Estado. O regulador Oliver só insere os dados no sistema. E aí quando abre a vaga, uma ambulância com enfermeiro e um familiar leva o paciente até o hospital ou clínica determinado. Pode ser em Maringá, Curitiba, Londrina ou outro município”. De acordo com Claudia, há uma média de três internações por semana.

OS NÚMEROS DE GUARAPUAVA

Transtornos aumentaram com a covid-19 (Foto: Reprodução/Pixabay)

Com a pandemia da covid-19 a saúde mental das pessoas ficou comprometida. De acordo com pesquisa do instituto Ipsos, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial, 53% dos brasileiros declararam que o bem-estar mental piorou um pouco ou muito no último ano. Guarapuava sentiu o mesmo efeito. “Aumentaram os casos de transtornos como depressão, tentativas de suicídio, insônia, ansiedade”.

Para se ter uma ideia, o CAPS II (atende 32 pacientes pré-agendados por dia. Em 2021 o CAPS AD atendeu cerca de 4.130 pacientes. Já o CAPS II fez 11 mil atendimentos. Neste primeiros meses de 2022, até o último dia 11, já estão registrados em torno de atendimentos. E aí surge mais um agravante.

Guarapuava possui apenas um psiquiatra, que é Sergio Ozanam, para atendimentos nessas duas unidades, uma vez por semana. Outros dois médicos com conhecimento em saúde mental atendem nos dois CAPS.

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Cristina Esteche

Jornalista

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