22/08/2023
Agronegócio Guarapuava

Falta de local para descarte de lixo orgânico gera polêmica

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Da Redação

Guarapuava – Servidores que trabalham na coleta do lixo recolheram a batata que foi descartada num terreno no Distrito Industrial Alfredo Gelinski, em Guarapuava, no início da semana. Essa foi a segunda dispensa do produto no espaço de duas semanas, causada pelo excesso de produção e, consequentemente, pela queda do preço no mercado.

A iniciativa causa polêmica. Bataticultores que possuem lavadores de batata disseram à RedeSul de Notícias que doam várias sacas para programas de combate à fome, como o Mesa Brasil, anualmente. Na atual safra, o gesto se repetiu e o produto foi colocado à disposição de entidades. “Não podemos ficar ligando, oferecendo ou levando. Basta que os responsáveis venham buscar”, disse um dos produtores à RSN. Porém, o tema mais polêmico é que a batata que está sendo jogada fora pode não estar própria para o consumo humano. “Precisamos que alguém busque, reclassifique e se responsabilize. As batatas são boas já que com o excesso de produção os lavadores fazem uma seleção mais rigorosa”, disse outro produtor. Fatores climáticos e a alta rentabilidade gerou inserção de novos produtores e contribuem para que a oferta seja muito superior à demanda. Segundo o proprietário de um lavador, que preferiu não ser identificado, as áreas aumentarem em cerca de 30% em nível nacional e cerca de 15% na região de Guarapuava.

Embora essa situação aconteça de forma muito esporádica – o último descarte em grande quantidade aconteceu em 2007 -, a falta de um local apropriado gera controvérsia, pois esse tipo de lixo (orgânico) precisa ser tratado com muito cuidado, uma vez que pode gerar consequências como mau cheiro, desenvolvimento de bactérias e fungos, surgimento de ratos e insetos. De acordo com o engenheiro químico da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Milton Hafemann, a necessidade de um aterro sanitário apropriado é necessário porque no processo de decomposição (apodrecimento) do lixo orgânico é produzido o chorume, que é um líquido viscoso e de cheiro forte e desagradável. O chorume também é um elemento que pode provocar a contaminação do solo e das águas (rios, lagos, lençóis freáticos).

De acordo com secretário interino do Meio Ambiente, Saulo Küster, o aterro sanitário municipal é destinado apenas ao lixo doméstico. “Se abrir para o descarte da batata vai tomar o espaço do lixo que é coletado diariamente”, disse à RSN. Entretanto, a batata descartada no Distrito Industrial Alfredo Gelinski, foi levada para o aterro sanitário. “Não dá para entender. Se no aterro de lixo doméstico não é permitido, como essa carga foi levada pra lá”. 

Outra situação observada pelos produtores é de que o descarte está sendo feito por terceiros que compram o produto para ser revendido à beira de estradas.

Uma empresa particular de Santa Catarina, que atua na cidade, nas proximidades do Aeroporto Tancredo Thomas de Farias, coleta o lixo industrial inerte. “Esse é o problema. Há a exigência, mas não temos local adequado e quando fazemos ainda somos multados”, observa um produtor. Se os produtores atribuem ao município essa responsabilidade, de acordo com a Secretaria de Meio Ambiente e baseado na Lei 12305/2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos), é de responsabilidade das empresas o destino final de seus resíduos. 

No caso das empresas que são licenciadas pelo órgão ambiental como lavadores de batatas, a maioria consta em sua licença ambiental, que os resíduos devem ser tratados como forma de compostagem.  A forma de trabalhar a compostagem é definida no projeto ambiental apresentado no momento em que é solicitado a licença. “A maioria dessas empresas, que estão com resíduos em larga escala, estão trabalhando com a compostagem diretamente na lavoura”, diz a Sema.

Para os empresários do setor, esse é um problema que surge a longo prazo. Portanto, não se trata de uma situação que acontece anualmente. “Se for para mandar a um aterro de lixo orgânico fora de Guarapuava, quando chegar no local, haverá apenas água, porque a batata se decompõem rapidamente”, observa um dos produtores.

 

 

Cristina Esteche

Jornalista

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