22/08/2023
Saúde

Falta de médicos deixa hospitais sem plantões em Guarapuava

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A falta de médicos plantonistas nos dois únicos hospitais de Guarapuava, principalmente, nos finais de semana, provoca a revolta de familiares de pacientes que necessitam de atendimento. Essa situação foi vivenciada por Maria Emilia Ferraz que levou seu pai, 81 anos, até os hospitais na noite de sexta-feira (07), e não foi atendida pela falta de médicos plantonistas. Ao todo, a RSN recebeu 25 e-mails durante sábado (08) reclamando dessa situação.

A justificativa dada pelos hospitais São Vicente e Santa Tereza é a falta de profissionais.
“A dificuldade é conseguir médicos que queiram fazer plantão pelo preço que o São Vicente pode pagar”, afirma o provedor do hospital, Antonio Cezar Ribas Pacheco. O valor pago ao plantonista é de R$ 60/hora. Pacheco, porém, assegura que a situação é temporária. “Saíram três médicos da escala de plantão e em alguns períodos ficamos sem esse atendimento no Pronto Socorro, mas temos médicos que fazem plantão de sobreaviso (fica em casa e vai ao hospital quando é solicitado) nas especialidades”, afirma. Segundo Pacheco, novos médicos estão sendo contratados para preencher as vagas existentes.

Quando o paciente chega ao hospital e não pode ser atendido o destino é o Centro de Urgência Municipal, unidade de saúde que atende 24 horas. Na maioria das vezes, entretanto, por motivos semelhantes, quem encaminha o paciente aos hospitais é o Centro de Urgência. Por conta desses encaminhamentos, em especial do São Vicente, até bem pouco tempo, a Secretaria Municipal de Saúde cedia médicos para o plantão do hospital quando havia essa falta. Nos últimos dias, porém, essa parceria foi interrompida pelo Município. Durante reunião na Secretaria de Saúde houve uma determinação de que médicos do Município não atenderiam mais no Hospital São Vicente. “Esse médicos que vinham da Secretaria Municipal de Saúde recebiam pelo plantão”, observa Pacheco. A RSN procurou o secretário de Saúde Cícero Schmidt, mas a informação recebida foi de que o dentista encontrava-se em reunião. Apesar da insistência, não houve nenhum retorno das ligações.

No Hospital Santa Tereza a situação também é difícil. Com 160 médicos no corpo clínico, plantões presenciais e de sobreaviso, alguns só realizam procedimentos de convênios e particulares. Outros atendem o SUS (Sistema Único de Saúde) no município ou na região e fazem cirurgias no hospital sem fazer parte da escala de plantões.

Assim como o São Vicente (hospital de caridade) o Santa Tereza, que é privado, tem como maior demanda os pacientes do SUS, o equivalente a 85% dos atendimentos. Outro agravante é que o SUS não renumera o plantão e paga apenas R$ 7,00 por consulta. “Não temos nenhuma parceria com o Estado e com o Município”, diz a diretora técnica do Santa Tereza, a obstetra Adriana Lopes Bello.

A dificuldade no atendimento à demanda, fator que se agravou com o fechamento do Hospital Estrela de Belém, que era de baixa complexidade (doenças mais corriqueiras como diarréia, dor de cabeça, entre outras) esbarra também na falta de entendimento da população.
“O Hospital Santa Tereza não é pronto-socorro, mas sim pronto-atendimento. Um pronto-socorro tem que oferecer outras especialidades, além do médico plantonista para emergências. No nosso caso, atendemos encaminhamentos do SIATE, do SAMU, da Central de Leitos (risco de morte). Temos um médico plantonista presencial (clínico e pediatra habilitados para quaisquer casos) e somos o único a oferecer o plantão de um pediatra, além do plantão da UTI”, assegura a diretora técnica. Os casos ambulatoriais são direcionados para o São Vicente e para a Unidade de Saúde 24 Horas. “Não atendemos dor de cabeça, dor de estômago, embora os casos de riscos não fiquem sem atendimento”, assegura Adriana.

No caso específico da falta de plantão na sexta-feira (07), o médico escalado sofreu uma gastroenterite e ficou impossibilitado de cumprir a escala.

De acordo com Adriana Lopes Bello, com o fechamento do Estrela de Belém houve uma divisão das AIHs (Autorização para Internamento Hospitalar) entre os dois hospitais, provocando o aumento de procedimentos de baixa complexidade no Santa Tereza. “Esses procedimentos demandam maior número de internamentos, de medicamentos e de exames. “Essas vagas deixam de existir para pacientes eletivos que teriam um custo menor já que as cirurgias por serem programadas já pedem exames antecipados”, diz a médica.

Cristina Esteche

Jornalista

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