22/08/2023
Cotidiano

Falta de sol agrava problemas de depressão

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Guarapuava – Se por um lado a exposição ao sol pode trazer sérios riscos à saúde, por outro a falta de sol também tem suas implicações. No inverno, por exemplo, devido à redução da luminosidade natural do sol, quadros depressivos podem apresentar pioras.
“O sol estimula a melanina, um dos precursores na produção de serotonina, que por sua vez é um neurotransmissor, ou seja, uma substância responsável pelo nosso bem-estar. Quando eu tomo mais sol, a melanina aumenta a serotonina e eu me sinto melhor. Quando eu não tomo muito sol, a minha serotonina tende a diminuir e eu começo a ter riscos de sintomas depressivos”, explica o médico psiquiatra José Cleber F. Ferreira (foto).
Segundo o psiquiatra, isso não é regra, uma vez que a depressão está associada a outros fatores pré-disponentes, como histórico familiar da doença e estressores ambientais. “Esses facilitadores somados à falta de sol podem levar a quadros depressivos”, com-plementa.
O médico aponta que a depressão é considerada uma patologia sazonal. Como no verão as pessoas saem mais para fazer caminhadas ao ar livre, consequen-temente tendem a tomar mais sol. No inverno, principalmente nas cidades mais frias como Guarapuava, Curitiba e região de Palmas, o comportamento das pes-soas se volta ao isolamento, ficam mais fechadas e não têm tanto estímulo do sol.
“Países e regiões com menor incidência de sol estão mais propensos à depressão e, por consequência, a suicídios. Um exemplo é Londres, onde as pessoas se deprimem mais e acabam cometendo mais suicídios. Lá eles chegaram a criar um sol artificial dentro de um ginásio para tentar aumentar o estímulo da produção de serotonina, para que as pessoas não se sentissem tão deprimidas”, conta. No inverno, pelo fato de terem mais depressão, o isolamen-to também aumenta o quadro de alcoolismo.
Diagnóstico
Para um diagnóstico de depressão é preciso uma boa história clínica. Não existe exame para caracterização de depressão, até pode-se pedir uma dosagem de serotonina, o que não chega a ser suficiente para definir o diagnóstico.
É preciso, sim, estar atento aos sintomas apresentados. Sonolência, tristeza e falta de motivação são características de depressão, assim como aumento de apetite (especialmente para carboidratos), ganho de peso, perda de energia, cansaço crônico, também são motivos para atenção.
“Muitos confundem a tristeza com depressão. Freud tem uns tratados clássicos onde faz a diferenciação entre luto e melanco-lia. Luto é uma perda real, já a melancolia, que é a depressão, é uma perda imaginária”, observa.
O psiquiatra ressalta que a depressão não é uma doença crônica, o uso de medicamentos não causa dependência e não se usa medicação pela vida toda. Alguns pacientes necessitam usar por um tempo maior. “Em torno de 70% dos pacientes respondem à medicação, que vai ajudar na produção da serotonina. Alguns melhoram, outros não, mas o tratamento com medicação e terapia dura, pelo menos, seis a oito meses. Estudos mostram que em torno de 50% dos pacientes podem recair nos primeiros dois anos após o término do tratamento”.
A depressão é um problema de saúde pública, e de acordo com informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), na próxima década será a doença mais incapacitante. “Traz um prejuízo muito grande, inclusive em produtividade. Se eu estou deprimido a minha produção profissional deixa a desejar, meus relacionamentos, minha vida social e afetiva são comprometidos, então esse prejuízo é muito grande”.
É importante ressaltar, porém, que não se deve usar nenhum medicamento sem prescrição e rigoroso acompanhamento médico.

Cristina Esteche

Jornalista

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