22/08/2023
Educação

Falta de transporte escolar inviabiliza faculdade para quilombolas

Da redação – Acadêmicos da comunidade quilombola Paiol de Telha estão sendo obrigados a deixar a faculdade por falta de transporte escolar. Dos 10 universitários da comunidade, quatro pensam em desisitir dos cursos de psicologia, nutrição, publicidade e propaganda por não terem condições de bancar a sobrevivência na cidade. Outros seis ainda insistem em realizar o sonho de ter uma formação acadêmica.

"Sabemos que o transporte escolar para o ensino superior não é obrigação do município e não queríamos nada de graça. O que pedimos foi um subsídio, mesmo assim não tivemos sequer uma resposta do prefeito Fernando Ribas Carli", afirma Ana Maria Kinilê Alves da Cruz, que desistiu do curso de psicologia.

Durante os três anos de faculdade várias foram as tentativas junto a Prefeitura para a liberação do transporte escolar que já existe na comunidade. Abaixo-assinado foi feito pelos pais e pelos acadêmicos, sem êxito.

Ela lembra que uma "luz no fundo do túnel" surgiu quando o vice-prefeito Jorge Luiz Massaro assumiu a administração quando Carli se licenciou. "O Dr. Massaro nos recebeu no gabinete e garantiu que ninguém desistiria da faculdade por falta de transporte escolar. Uma licitação em regime de urgência para completar a linha que já existe na nossa comunidade estava sendo feita, mas aí o Carli voltou e tudo voltou à estaca zero", diz Ana Kinilê.

Os acadêmicos, que compõem a companhia de música e dança Kundun Balê, buscaram outras alternativas. "Levamos produtos pra vender na cidade, fizemos rifas, eventos, para arrecadar dinheiro, mas ajudou num momento, depois não deu mais", conta Eliete Afixirê Olveira. Hoje, seis dos 10 acadêmicos recebem uma bolsa de R$ 300,00 como estagiários do projeto "Herança Cultural" (sub-programa Diálogos Culturais – Universidade sem Fronteira) em parceria com a Secretaria de Estado da Ciência Tecnologia e Ensino Superior (SETI). O projeto termina no início de 2011.

A líder quilombola Ana Maria Kinilê diz que a desistência dos cursos acadêmicos é frustante. "O nosso sonho está sendo interrompido por terceiros, por alguém que deveria viabilizar a cidadania, o acesso à educação. Tínhamos a esperança de concluir o curso e poder ajudar ainda mais a nossa comunidade. Somos cidadãos, pagamos impostos como qualquer pessoa, mas estamos sendo privados dos nossos direitos", diz.

No primeiro ano de faculdade o grupo andava 7 quilômetros a pé, em meio a plantações, para chegar até a sede da Colônia Socorro onde há transporte acadêmico. O retorno acontecia às 23 horas e o mesmo trajeto era percorrido até chegar na comunidade. Pelo perigo oferecido já que o grupo,na maioria, é composto apenas por meninas (apenas um jovem está no terceiro grau), foi tentado um transporte particular até a cidade, mas foi inviabilizado pelo custo. A última alternativa está sendo a moradia na cidade durante os dias de semana, mas os custos com aluguel, alimentação e os gastos que os cursos exigem já que a maioria tem que pagar 50% dos cursos, está obrigando a desistência.

"A nossa preocupação aumenta por saber que em 2011 teremos mais um jovem na faculdade", comenta.

Cristina Esteche

Jornalista

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