22/08/2023
Segurança

Familiares afirmam que Rolete foi executado. Policia nega

imagem-75581

Por Cristina Esteche

“Meu filho foi executado pela polícia e ninguém merece morrer assim”. A frase foi dita pelo senhor Antonio Marcondes, pai de Ilson José Marcondes, morto no dia 11 de julho deste ano, quando era recapturado por policiais militares num matagal na Vila São João em Guarapuava. Rolete, como era conhecido no mundo do crime, era foragido da Cadeia Pública de Guarapuava. Reincidente, tinha sido preso por tráfico de drogas e roubo. Uma vida desregrada que durou três anos, a partir do momento em que o servente de pedreiro se tornou usuário e traficante de drogas. “Meu irmão sempre foi trabalhador, mas depois caiu nesse mundo das drogas e aí foi um terror para meus pais e para nós”, diz Joelma Marcondes, irmã de Rolete.

Pai de dois filhos pequenos e de um enteado, o ex-fugitivo da polícia foi abandonado pela mulher. “Todas as fugas dele era por causa dessa mulher. Ela é alcoólatra, bebe álcool puro e até perfume”, diz Joelma.

Foragido da cadeia pela segunda vez, Rolete, na primeira recaptura já tinha sido alvejado por tiros na cabeça e ficou internado no Hospital Penitenciário em Curitiba. “A polícia já tinha tentado matar o meu filho e agora conseguiu”, diz o pai. “Foram dois tiros à queima roupa, eu vi, era um buraco no coração e outro no peito”, lembra.

O policial que disparou o tiro fatal é protegido por lei dentro do que se chama de “ excludente de ilicitude”, ou seja, mesmo cometendo um crime, a conduta do agente não é considerada ilícita pelas circunstâncias em que o ato é praticado:  estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de dever legal ou exercício regular de direito.

A MORTE

Um dia  após ter fugido da cadeia com outros 21 presos, Ilson José Marcondes, o Rolete, foi encontrado pela polícia escondido num matagal ao lado da casa dos pais e da irmã, na Vila São João. “Quando ele nos viu ele atirou. Um dos policiais revidou e o atingiu na barriga”, diz o aspirante Adairalba, que comandou a equipe nessa ação.  Mesmo ferido, Rolete conseguiu fugir e passou a contatar familiares e amigos pelo telefone celular. “Durante o tempo todo ele dizia que sangrava muito e queria ser socorrido. Ele pedia que eu chamasse o Samu”, diz a irmão Joelma. “Eu e minha mãe pedimos que os policiais nos deixassem entrar no mato para socorrê-lo e dissemos que o entregaria à polícia. A gente queria salvar o meu irmão, mas não deixaram”.

Quando o Samu chegou no local o médico contatou Rolete perguntando onde ele estava. “O médico queria ir socorrê-lo, mas quando meu irmão foi responder um policial se passou pelo médico e descobriu onde o meu irmão estava. Meu irmão só pedia socorro e dizia que estava perto da casinha”.

De acordo com o aspirante Adairalba, foi ele quem pegou o telefone. “Nós temos mais preparo para falar com essas pessoas e fomos para socorrê-lo porque sabíamos que ele estava ferido. Mas quando o encontramos ele atirou contra nós e um dos policiais também atirou. Mesmo caído ele [Rolete] tentou pegar a arma. Já tinha muitas pessoas perto e a nossa obrigação era também dar segurança a elas”, afirma o aspirante.

COMPREENSÃO

A dor que a família está sentindo e as acusações que estão sendo feitas à polícia são compreendidas. “Compreendo tudo o que a família está passando e sentindo, mas o Ilson estava armado nas duas ocasiões e era uma pessoa perigosa”, diz o aspirante Adairalba. “Cada vez que ele fugia da cadeia aumentava os furtos e roubos e as confusões na vila. O tráfico de drogas traz junto o roubo, o homicídio. E uma pessoa armada quando vai roubar ela está pronta para apertar o gatilho”.  

AÇÃO

Nesta terça (22) a advogada da família entra com uma ação pedindo indenização ao Estado. “O dinheiro não nos interessa, o principal que queremos é limpar a imagem do meu filho que está sendo tratado como marginais, como bandido, quando ele foi uma vítima das drogas”, diz Antonio Marcondes. Outra intenção da família é conseguir pensão para os dois filhos que estão sendo criados por eles. “Na outra vez que meu filho foi atirado pela polícia ele pediu que se alguma coisa acontecesse com ele era pra nós cuidar dos filhos deles. Até o outro menino que não era dele, se a mãe quiser dar nós criamos. Ele já mora com a minha filha”.

 

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.