22/08/2023
Segurança

Gangues amedrontam e matam no Xarquinho

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A morte do jovem Ivan Paula Santos, 20, encontrado com 17 facadas no tórax e nas costas na terça-feira (25) no Bairro Industrial Xarquinho deixou a comunidade em pânico. Há pessoas deixando o emprego para ir embora do bairro por temer tragédias.
“Tenho dois filhos, um com 12 e outro com 15 anos e não vou ficar mais aqui. Estou saindo fora para evitar uma tragédia na minha família”, disse ele à RSN, pedindo que sua identidade não fosse revelada por temer represálias. O medo desse morador tem um motivo: as gangues que aterrorizam o bairro.
“Aqui tem umas quatro gangues. Uma delas tem umas 25 a 30 pessoas. Só andam em turma e não perdoam ninguém”, afirma. “Tem Os Firmeza, que é a mais perigosa, Os Bira, os Da Baixada e outra que não lembro o nome”, contou.
De acordo com uma das fontes da RSN, Ivan de Paula Santos morreu porque dias antes teria se envolvido numa briga contra membros “Os Firmeza”.
“Eles cortaram (facadas) uns caras num bar e o rapaz (Ivan) estava junto. Dias depois apareceu morto, inteiro cortado, porque andava sozinho”, contou.
“Eu mesmo me envolvi num abriga com eles (gangue) pra defender um sobrinho. Eles cortaram o rapaz e eu entrei na briga, mas comigo eles não se metem porque sabem o terreno onde pisam. É cada um na sua. Eu defendo o meu território, mas como tenho dois filhos não posso mais ficar por aqui. Pedi a conta no meu emprego e estou saindo fora”, diz. Ele teme que a vingança da gangue atinja um dos seus filhos.
“Essa turma pensa que manda aqui no bairro. A gente só houve falar depois que as brigas acontecem e que morrem as pessoas. No final da tarde e durante a noite não dá pra passar por essa praça da Escola Total. Eles ficam ali fumando maconha, crack e fazendo baderna. Veja aí: os brinquedos do parquinho estão tudo quebrado”, disse outro morador do bairro.
Outras informações colhidas pela RSN contribuem com o caso. Se os que temem sofrer represálias porque tem algum tipo de envolvimento com as gangues, membros desses grupos organizados também se previnem. “Muitos deles já sumiram daqui. A gente não vê mais nenhum desde essa última morte”, diz uma moradora do local conhecido como “invasão”.
Histórias sobre as brigas entre as gangues é o que não faltam. “Teve um dia que entraram numa casa e cortaram uns ´bicos´. E foi a turma desse que morreu. Pode ter sido vingança. Tem gente que já sumiu daqui nos últimos dias. Mas é sempre assim. Daqui uns dias estão tudo aí de volta”, afirma outro morador.
A Polícia Civil investiga a morte de Ivan de Paula Santos em inquérito presidido pela delegada Araci Carmen da Costa.

“Ninguém faz nada”
O Industrial Xarquinho é um dos bairros mais distante do centro de Guarapuava. Separado da cidade pela BR 277 e pela PR 160, o bairro abriga perto de 10 mil moradores e sedia uma das maiores empresas do município. Próprio do setor madeireiro é a responsável pela absorção da maior parte da mão-de-obra do bairro e de outras localidades do seu entorno. Um complexo industrial envolve o local.
Local onde vivem famílias, em sua maioria, de baixo poder aquisitivo, o bairro se ressente com a ausência de políticas públicas e, consequentemente, da própria administração municipal. As ruas estão sem manutenção, a pavimentação asfáltica (onde existe) está deteriorada, há pavimentação iniciada e sem conclusão. Moradores da ocupação irregular vivem há cerca de 10 anos sem água e sem luz. Apenas uma torneira comunitária foi colocada para abastecer as mais de 150 famílias que vivem no local.
Ao lado da violência das gangues que aterrorizam os moradores e provocam mortes outro tipo de violência assusta o bairro: o índice de prostituição infantil. “Ih! Tem bacana que vem da cidade com seu carrão e pega as meninas. São crianças de 10, 12 anos de idade que ficam no ponto de ônibus ou na praça da Escola Total só esperando. Ninguém faz nada”, diz uma moradora.

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Cristina Esteche

Jornalista

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