Cristina Esteche
A delimitação do Bairro Xarquinho em Guarapuava está causando problemas, principalmente, para a comunidade do local. O bairro, segundo informações de moradores, conta com cerca de 12 mil habitantes. Se a localidade se divide entre as casas construídas pela Companhia Paranaenses de Habitação (Cohapar), casas construídas em lotes e num aárea de ocupação irregular, outra linha divisória separa a parte de cima e a de baixo entre as casas populares.
O pivô desse “apartheid” são as gangues “dos Bira” e “dos Firmeza”, rivais entre si. Uma outra, considerada independente também ocupa espaço. São os Zumbis da Noite, ou ZBN. “Essa aí era a gangue do Jhoni, mas ele saiu daqui porque tem o nome envolvido num bagulhos aí e os piás mudaram o nome. É só sair à noite que encontra eles andando por aí tudo emaconhados”, diz um adolescente, 16 anos de idade, que mora no local.
E é ele e outros três amigos que falam sobre a situação que amedronta a comunidades.
“Ali naquela rua [Ipê] está o limite. Nós aqui de cima não podemos descer prá lá porque somos apedrejados, apanhamos. Pode ser mulher, menina, criança, não importa quem. Lá é o reduto dos Firmeza”, intervém outro adolescente, 15 anos. Uma menina acompanhou a conversa de perto.
A causa da rivalidade, segundo os meninos, começou na escola e ganhou proporções. Hoje tudo gira em torno do tráfico de drogas, autoria de homicídios, vingança. “Se um dos Firmeza mata um dos Bira já acontece a revanche”, diz o terceiro adolescente, também com 16 anos.
Ocorrências envolvendo adolescentes e jovens no Bairro Xarquinho pautam os boletins policiais com frequência. Na semana passada a polícia prendeu sete jovens da turma dos Firmeza, por venda de drogas. Dois deles são irmãos, menores de 18 anos, e suspeitos de terem participado de um crime ocorrido em 31 de dezembro na parte de cima do bairro.
Antes, porém, um jovem foi assassinado na porte de casa. “O Luquinha era gente boa, tinha amizade com os Bira, mas não era da gangue e morreu. Não precisa ser, basta morar aqui em cima. Esses dias aí uma menina apanhou porque desceu a rua, pra eles [Firmeza] não importa se é mulher. Eles batem mesmo”.
Acompanhada por uma liderança comunitária do Xarquinho, a RSN tentou contatar alguém dos Firmeza. Porém, segundo moradores, a prisão dos membros da gangue acuou os demais. Ninguém foi encontrado. A RSN esteve na casa localizada na Rua Juarez Lustosa onde funcionava o ponto de venda de drogas e onde os jovens dos Firmeza foram presos, mas não encontrou ninguém.
No final da conversa com os três adolescentes a RSN foi informada que os meninos pertencem aos Biras e, que um deles, 16 anos, é um dos líderes do grupo.