Pular de ‘madrugadinha’ da cama e sentir o frio ‘cortando’ o rosto é uma das sensações que predomina no inverno de Guarapuava. Os pés e as mãos congelam e não há roupa que chegue para conter o ar gelado. E quando o vento ‘cortante’ faz com que as pessoas andem apressadas, segurando a roupa contra o corpo? E para compor o cenário, lá fora, ao olhar pela janela é ver o branco da geada cobrir o verde das pastagens, para o ‘desespero’ de muitos agricultores. É o paradoxo do inverno.
Entretanto, se a geada cair ‘muito forte’, como dizem os mais antigos, gotas congeladas de orvalho se penduram em galhos como se fossem brincos de cristais. Só dividem a atenção dos cliques mais afoitos com a beleza das teias de aranhas congeladas durante a madrugada.
ONDE ESTÁ GUARAPUAVA
Localizada no chamado terceiro planalto paranaense a 25°23’36” latitude sul, e 51°27’19” longitude oeste, no Centro-Sul do estado, Guarapuava é um dos municípios mais frios do Paraná. Dotado de natureza com beleza ímpar, o potencial para o turismo rural e de aventura pulsa.
Mas é a geada, a marca típica do inverno guarapuavano. Que o digam as imagens que circulam pelas redes sociais nos últimos dias. E quem não lembra da neve que surpreendeu a cidade em 2013? Esse fato elevou tanto a autoestima dos moradores ao ponto da Prefeitura criar um monumento na Praça 9 de Dezembro, o Marco Zero da cidade.
No primeiro ‘neversário’ teve até festa para comemorar. Bom, a partir de então, a cada temporada de frio, a neve passa a ser esperada.
Porém, Guarapuava é assim. A terra onde o gelo se faz presente a cada a ano, além de dias azuis, expõe também árvores nativas. Embora elas estejam ali o ano todo, é nas paisagens de inverno que as araucárias se destacam ainda mais. Afinal, árvore símbolo do Paraná, a araucária resiste a baixas temperaturas de até -6°C.
Mas são as pinhas, que chegam à maturidade entre maio e julho, que nos dá o pinhão. Assado ou cozido, a iguaria é muito consumida, sendo usada em diversas receitas culinárias. Os animais silvestres, especialmente esquilos, ouriços, bugios, quatis, papagaios e a gralha azul, interagem intensamente com as araucárias.
Essa interação torna importante para a dispersão das sementes. E tudo isso é possível observar no Parque das Araucárias, que fica às margens da BR-277. É a única reserva florestal mantida pelo poder público.
CEREJEIRAS
Mas e o que dizer sobre as cerejeiras que ‘emprestam’ um pouco da beleza oriental ao Parque do Lago? Antes, porém, as ‘sakuras’ pintavam de rosa a Lagoa das Lágrimas. Plantadas por Yoshimi Hishimoto, entre as décadas de 60 e 70. Entretanto, o prefeito da época mandou.
Ao saber disso, Kazuo Kamakami trouxe 500 mudas de São Paulo. Parte delas dão um toque especial no ‘point’ que fica no Centro da cidade.
E nos dias de muito frio, quando o termômetro da XV de Novembro registra temperaturas abaixo de zero, a água congelada do Lago compõe um dos cenários mais belos da cidade. Como se vê, a Guarapuava bicentenária, é uma cidade gelada. Mas esse frio contraste com o calor de um povo acolhedor.
Afinal, bater à porta de uma casa, logo cedinho, é se dar o direito de sentir o aroma do café coado na hora. Enquanto isso, a chaleira chia sobre a chapa do fogão à lenha. É o aviso de que a água está pronta para o chimarrão. E se der sorte, ainda vai sentar à mesa para o café preto e o prato de virado de feijão.
Do lado de fora, sobre o telhado, a fumaça sobe para se misturar às nuvens. E quando o Sol se põe no horizonte, não falta quem olhe para cima e avise: “o céu está limpo. Amanhã vai ser outra e das ‘brabas”.
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