22/08/2023
Guarapuava

“Governo quer nos fazer de bode expiatório”, dizem caminhoneiros em Guarapuava

"Nunca faltou remédio nos postos? Nunca teve ambulâncias paradas nos pátios? Agora a culpa é nossa?"

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“Estamos sendo usados como bode expiatório do Governo Federal. Será que nunca faltou remédios nos postos? Será que não existem ambulâncias paradas nos pátios? E agora, só porque estamos mobilizados, a culpa é nossa?” O desabafo é do caminhoneiro Jauri de Oliveira Gaspar, 51 anos, que junto com outros 60, está há oito dias às margens da PR-170, perto do Santuário de Schoenstatt, em Guarapuava. Segundo o grupo, a passagem de ambulâncias, caminhões com cargas perecíveis, cargas vivas e caminhões da coleta do lixo, estão liberados.

Jauri (Foto: RSN)

“Não somos loucos de impedir que esses caminhões sigam. É uma questão social. Não somos bandidos. Tem muita mídia que não está falando a verdade. A nossa mobilização é pacífica. Não estamos fazendo bloqueios nas rodovias”, diz Renilton Tratz. “Somos pessoas de bem, pais de família”, intervém Divonsir Micheletto.

Da esquerda para direita: Divonsir e Renilton (Foto: RSN)

Eles se somam aos milhares de motoristas que cortam as estradas brasileiras transportando as mais diversas cargas e que reivindicam a redução do valor do óleo diesel, do etanol, da gasolina, das tarifas do pedágio, entre outros.

“Hoje o nosso movimento deixou de ser uma greve e passou a ser uma mobilização nacional e estamos lutando para a melhoria de vida da população e não vamos parar enquanto nossos pedidos não forem aceitos”, diz Gilson de Lima, que está com o caminhão parado em São Paulo .

O caminhoneiro, com o aval dos demais, reclama também do excesso de exigências por parte da Polícia Rodoviária Federal. “Sabemos que eles [policiais] tem razão e que as medidas são para a nossa segurança, mas não podemos arcar com tudo o que nos exigem porque isso custa dinheiro e não temos condições financeiras”, reclama.

De acordo com o caminhoneiro, a saga da estrada os priva até de banhos, se não tiveram dinheiro para pagar. “Existem postos que nos cobram entre R$ 10 e R$ 15 por uma chuveirada. Para estacionar o caminhão num posto à noite temos que abastecer. É muita humilhação”, diz. Existe uma empresa num município aqui perto de Guarapuava que não deixa nem entrar no pátio quando carregamos pra ela”, emenda Luiz Cesar Vasco Júnior.

FRETE X DESPESAS

Dias e noites na estrada e o retorno com pouco dinheiro no bolso. Assim é a profissão de caminhoneiro. De acordo com Renilton Tratz, de um total de 100% de um frete, só com diesel e tarifas do pedágio são gastos a maior fatia do valor contratado.

“Em média nos sobra entre 25 e 30%, sem contar com despesas de custeio para manutenção do caminhão, despesas pessoais, seguro, desgaste do veículo. Diluindo tudo isso, no final embolsamos apenas uns 10% e ainda precisamos manter a nossa família”.

Segundo Jauri de Oliveira Gaspar, para se ter uma ideia, quando um caminhoneiro sai para uma viagem ele sabe que vai gastar R$ 3 mil com óleo diesel num dia apenas, abastecendo 800 litros. “Gastamos R$ 3 mil com dois pneus que duram dois anos. Isso mostra como o preço do diesel está caro. Estamos pagando para trabalhar”.

A situação se agrava quando o caminhoneiro contrata um motorista e o paga por comissão. “Ele [motorista] sai de casa sabendo que vai ganhar entre 10% e 15% sobre o valor do frete, dependendo do tamanho do caminhão. Ele ganha mais do que o dono que ter que arcar com todos os gastos. Se está péssimo para nós que somos autônomos imagine para quem é dono de frota”, observa Tratz.

Os caminhoneiros disseram também que não aceitam as propostas feitas por Michele Temer, anunciadas em pronunciamento na noite do último domingo (28). “Não vamos parar. Se não entregarmos por bem será melhor largar tudo ir carpir roça por aí”.

Cristina Esteche

Jornalista

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