O Brasil está vivendo, oficialmente, um estado de calamidade pública. Ontem (18) a Câmara dos Deputados assinou decreto que agora precisa ser avalizado pelo Senado Federal. De acordo com o teor, a vigência será até dezembro. Na prática, trata-se de um ‘cheque especial’ que está sendo dado ao presidente Jair Bolsonaro, permitindo que o governo eleve os gastos públicos e não cumpra a meta fiscal prevista para este ano. Ou seja, gaste mais em medidas que visam lidar com a crise aberta pelo novo coronavírus.
De acordo com as últimas informações do Senado, o decreto será votado nesta sexta (20), de modo remoto. Esse é o único item na pauta da reunião que foi convocada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que está com coronavírus. Porém, a calamidade avança na medida em que o governo demora a agir.
Somente nessa segunda (16), o ministro da Economia Paulo Guedes anunciou o pacote para combater os impactos causados pela pandemia da covid-19. Assim, serão injetados R$ 147,3 bilhões na economia nos próximos meses. Anteriormente, o gasto máximo seria de R$ 124 bilhões. Conforme o governo, para isso, a decisão foi antecipar despesas, como o 13º salário dos aposentados; prorrogar a cobrança de alguns impostos e reforçar o crédito para micro e pequenas empresas.
VOUCHER
Além da liberação de ‘voucher’ de R$ 200 para trabalhadores informais por quatro meses. Entretanto, em meio à crise da pandemia, o presidente faz aparições públicas ‘brincando com a doença’ e contrariando determinações do Ministério de Saúde. Além de divulgar que faria a festa para comemorar o próprio aniversário, Bolsonaro convocou a manifestação nas ruas em apoio ao seu governo.
Assim, recém chegado da viagem que fez aos Estados Unidos e com suspeita de ter contraído o coronavírus, ele saiu às ruas, e apertou as mãos de apoiadores. Outro fato que chama a atenção é que anteriormente, o próprio ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, criticava cancelamentos de atividades com grandes aglomerações determinadas pelo próprio MS.
Outro fato que chama a atenção é que 17 pessoas que foram aos Estados Unidos com o presidente estão com coronavírus, incluindo o General Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Entretanto, Jair Bolsonaro testou negativo em dois exames. Porém, nessa quarta (18), após ter comparado a pandemia à ‘histeria’, o presidente surge, novamente, usando máscara. Os ministros que estavam com ele na entrevista coletiva também estavam mascarados.
DESCASO
Entretanto, o tira e põe da máscara como mostrou a transmissão ao vivo, evidencia o descaso presidencial. Ele pendura a máscara em uma das orelhas; joga em cima da mesa; coloca as mãos na parte da frente da proteção para ajustá-la ao nariz. De acordo com o próprio Ministério da Saúde, as máscaras são eficazes somente quando usadas após a limpeza das mãos com água e sabão ou higienizadas com álcool gel 70%.
Conforme o posicionamento de Bolsonaro e do ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, a entrevista foi marcada por contradições. Assim, a primeira delas foi a convocação de coletiva presencial, reunindo vários jornalistas num espaço comum. A outra, foi o uso de máscaras para a entrevista, incluindo o ministro da Saúde. De acordo com o Ministério da Saúde o uso da máscara só é indicado se a pessoa estiver tossindo ou espirrando.
Paralelamente, o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, criou uma fissura com o governo da China. O país, que é o principal parceiro comercial do Brasil, foi responsabilizado de ser o causador do coronavírus. Assim, nesta quinta (19), a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) divulgou nota em que declara apoio à China. Porém, na mesma nota, a Frente repudia o comentário de Eduardo Bolsonaro. “Declarações isoladas não representam o sentimento da nação ou de qualquer setor”. A FPA reúne cerca 300 deputados e senadores.
Em meio a tudo, a última quarta (18) foi marcada por novos ‘panelaços’, inclusive durante a entrevista coletiva do presidente. Depois as capitais São Paulo, Rio, Recife, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, Salvador, Porto Alegre, Natal, Florianópolis e Curitiba registraram gritos de ‘Fora, Bolsonaro’, no início da noite. O mesmo ocorreu na noite de terça (17). Em número bem menor, ‘bolsonaristas’ ensaiaram manifestação favorável ao governo.
Por fim, enquanto isso o Brasil já registra cinco mortes, 529 casos confirmados da doença e outros 11.278 suspeitos.
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