22/08/2023
Brasil Variedades

Gringos falam mal de cafezinho e biscoito e brasileiros não deixam barato

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por Anna Fagundes, do UOL

Rio de Janeiro – Choque cultural é sempre esperado quando se está em um país diferente – e a comida, quase sempre, é o primeiro ponto de contato dos visitantes. O que nem sempre é garantia de elogios, como podem comprovar os cariocas.

Aproveitando o clima dos Jogos Olímpicos, a imprensa internacional tem prestado mais atenção na culinária da cidade – e sobraram críticas para todos os lados. Primeiro foi o popular cafezinho, motivo de discussão entre os correspondentes internacionais até bate-boca nas redes sociais.

Depois, foi a vez do biscoito de polvilho Globo, tradicionalmente vendido à beira-mar acompanhando um mate gelado. O produto foi descrito pelo jornal  The New York Times como um produto sem gosto, "um desses queridinhos regionais que deixam os estrangeiros perplexos", cuja "falta de sabor é um símbolo perfeito da comida do Rio (…) cujo paladar ainda precisa se desenvolver".

Para os fãs do café nacional, porém, o susto dos gringos não foi tão chocante. "É tudo uma questão cultural", conta Marina Bandeira Klink, do blog 1 Café e A Conta. Entusiasta da bebida, ela esteve na Arena Olímpica na Barra da Tijuca e fez uma breve crítica ao produto vendido no local. "Achei muito amargo, considerando que o paladar brasileiro prefere uma bebida mais doces. Além disso, é servido quente demais, em um copo sem suporte." A bebida, feita pela Matte Leão, é comercializada por R$ 5 nos locais dos jogos.

No entanto, ela não viu problemas com as considerações da imprensa estrangeira à bebida. "O café que os americanos bebem tem o mesmo teor de cafeína que o nosso, só em um volume maior. Aqui no Brasil, adotamos a cultura italiana, do café curto e tomado bem depressa", explica.

PERRENGUE COM O EXPRESSO

Para Giuliana Bastos, autora do "Dicionário Gastronômico Café com Suas Receitas" (ed. Boccato), a surpresa com a bebida apresentada no Rio de Janeiro é também questão de apresentação. "O café norte-americano ficou conhecido pelo padrão Starbucks, com copos que trazem uma grande quantidade de café filtrado menos concentrado e nem sempre de boa qualidade", explica. "Não dá para generalizar nem o café que se serve lá, nem o que se serve aqui."

Giuliana gosta de lembrar que, assim como os norte-americanos no Rio, ela também já passou por maus bocados no exterior por conta do "pretinho básico". "Visitei Paris há muitos anos e os expressos eram de péssima qualidade, torrados ao extremo – totalmente desesperador. A saída foi mergulhar no chocolate quente", conta.

Já a redatora publicitária e colunista gaúcha Alexandra Aranovich, do Café Viagem, teve seus problemas com café italiano – parecido com a bebida servida nos estádios dos Jogos Olímpicos. "Me adapto fácil e confesso que adoro um café americano. Tive dificuldade na Itália justamente porque o café por lá é muito pequeno e muito forte", conta. A sugestão de Alexandra para o comitê olímpico? "Poderiam lançar um glossário para os estrangeiros saberem o que pedir e o que temos para oferecer".

Marina Klink acredita que os jornalistas estrangeiros poderiam aproveitar para ver como os brasileiros se alimentam no dia a dia, o que poderia ser fonte de surpresas. "Seria bom para as delegações experimentarem o que é o café brasileiro, servido no copo americano na padaria", conta. "É muito legal não encontrar o mesmo tipo de bebida e de comida que você vê em casa. Temos que incentivar justamente isso. Quem, afinal, resiste mesmo a um café com pão na chapa?"

Cristina Esteche

Jornalista

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