22/08/2023
Cotidiano

Gripe A (H1N1): É preciso quebrar a cadeia epidemiológica

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Guarapuava – O fechamento das instituições de ensino da rede pública e privada até o dia 10 de agosto chama atenção para o momento em que estamos vivendo. Não é um caso para pânico, e sim para tomarmos consciência da nossa parte: quebrar a cadeia epidemiológica, que é o fator transmissão da Influenza A (H1N1).
Cuidados de higiene e de comportamento podem ajudar a evitar a disseminação da nova gripe. De acordo com o médico imunologista Gilberto Saciloto, evitar locais fechados, não viajar e lavar as mãos corretamente são medidas fundamentais para o dia a dia. “O que é preciso fazer é evitar locais fechados, como reuniões, saunas, salas. Lavar as mãos de forma correta, com água e sabão, esfregando as pontas dos dedos na palma para limpar as unhas, e secando-as, em seguida, em toalha de papel. Em caso de opção por uso de álcool gel, deixar secar naturalmente, não usando toalha”, explica.
Para o médico, a medida adotada pelo governo do estado pelo fechamento da escola, e seguida também pela rede municipal de ensino e escolas privadas, é de grande valia. “Pode dar trabalho para as mães, mas nós temos que atentar para isso, porque é uma situação de saúde pública”, observa.
Em Guarapuava há 11 casos suspeitos de gripe suína, todos com acompanhamento médico. Quatro deles encontram-se em internamento hospitalar. O mais grave é uma jovem universitária de 21 anos que está internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Tereza. Ela pode ter contraído o vírus após ter participado de um congresso em Curitiba.
Até quinta-feira (30) fechamento desta edição – nenhum dos casos havia sido confirmado, mas os resultados dos exames devem sair nos próximos dias. Agora, com o Laboratório Central do Paraná (Lacen-PR) autorizado à realização dos exames, o resultado deve ser agilizado de 10 para 2 dias. Pacientes em estado grave e casos de risco morte têm prioridade nos exames.
“Guarapuava e região estão em uma situação isolada em relação a outras partes do estado. Tínhamos casos em Cascavel, Foz do Iguaçu, Ponta Grossa, Londrina, norte pioneiro e aqui nenhuma confirmação. Mas isso é uma questão de tempo. Não tem nenhum caso comprovado, mas temos casos suspeitos, incluindo um em estado grave internado no Hospital Santa Tereza”, aponta.
Saciloto destaca que a gripe suína é uma mutação e que ainda falta conhecimento sobre o comportamento e evolução do vírus no organismo. “Hoje nós temos armas, recursos e conhecimento até epidemiológico para lidar melhor com isso, em comparação com a gripe espanhola de 1918. Mas se antes considerávamos integrantes de um grupo de risco crianças abaixo de dois anos e idosos, depois percebemos que ela atingia também gestantes e pessoas de diversas e diferentes faixas etárias. Então ela é perigosa para todo mundo”.
A revisão na lista de fatores de risco para esta gripe foi impulsionada após análise feita a partir dos casos de maior gravidade no país. Entre 222 casos mais complexos, somente 33,7% apresentam fatores de alerta. A maior parte dos pacientes graves não tinha nenhuma doença pré-existente, não era idoso, gestante ou criança.

O que fazer?
Segundo o imunologista Gilberto Saciloto, é preciso tratar como outra gripe, mas o problema é que as pessoas sempre tratam a gripe de modo errado.
“Não se pode automedicar e nem ficar tomando medicação específica para gripe suína antes que se tenha o diagnóstico comprovado. A maioria vai curar a doença sozinha, dentro do ciclo normal de uma gripe. Mas terão alguns casos com complicação, principalmente apresentando respiração difícil”, diz.
Ao surgir sintomas característicos de gripe, a pessoa deve procurar um consultório médico ou unidade de saúde. “Agora estamos no período onde acontecem as ocorrências da gripe comum, por isso é aconselhável a procura por um médico. A medicina vai dizer onde o paciente está se enquadrando e determinar os próximos passos”, ressalta.
Nem todos os casos recebem indicação para internamento. “Se chegar no meu consultório uma criança com sintomas de gripe não será preciso interná-la, obri-gatoriamente. Mas se chegar um paciente com dificuldade respiratória, dificuldade sistêmica, alteração de pressão, aí sim vamos internar”.
O uso de máscaras está voltado, fundamentalmente, para pessoas que têm contato com pacientes doentes, em geral os serviços de saúde. “Na rua não há necessidade, até porque ninguém usa essas máscaras corretamente”, observa Saciloto. A máscara mais indicada é o modelo N95.

Aulas suspensas até dia 10
Como medida de prevenção à nova gripe (Influenza A H1N1), o Governo do Paraná determinou a suspensão das aulas em toda a rede estadual de ensino (escolas e universidades) até o dia 10 de agosto. A medida atinge 1,4 milhão de alunos no ensino fundamental e médio e 90 mil estudantes de faculdades e universidades estaduais, que voltaram às aulas no dia 22 de julho.
Em nota oficial, o Governo afirma que “o Paraná tem resistido aos apelos de suspender as aulas por considerar a medida inócua”, uma vez que “o vírus não tem preferência por qualquer ambiente”. Porém, diz a nota, os pais dos alunos estão apreensivos. “Por isso, mesmo considerando a medida pouco eficaz, tomamos a decisão de suspender as aulas na rede pública estadual de ensino fundamental, médio e universitário”.
O Governo diz ainda que durante o período da suspensão das aulas, haverá nas escolas divulgação de informações e orientação às famílias sobre como evitar a doença. Haverá ainda treinamento de professores e funcionários da rede estadual de ensino para que colaborem no enfrentamento da pandemia.
A medida foi seguida pela rede municipal de ensino e também por várias escolas particulares da cidade, que só retornam às atividades no dia 10 de agosto.

Gripe suína x gestantes
Mulheres grávidas que são contaminadas com o vírus da gripe A (H1N1) têm risco maior de desenvolver sintomas graves e de morrer, de acordo com estudo realizado por pesquisadores do CDC (Centro de Prevenção e Controle de Doenças) dos Estados Unidos.
O estudo se baseou nas mortes de seis grávidas entre os 45 óbitos ligados ao vírus que foram notificados ao CDC entre 15 de abril e 16 de junho –o que representa 13% dos casos. Até o dia 29 de julho, pelo menos sete grávidas tinham morrido no Brasil em decorrência do vírus.
Segundo o levantamento, as gestantes que morreram devido à gripe suína eram saudáveis antes de se contaminar, desenvolveram pneumonia e tiveram que ser colocadas em respiração artifi-cial.
Considerando-se que as grávidas representam cerca de 1% da população dos EUA, os pesquisadores consideram a mortalidade pela gripe muito alta.
Já um estudo do CDC sobre obesos os afastou dos grupos de risco para a doença. Segundo o órgão, o percentual de obesos entre os mortos pela doença nos EUA (38%) é quase igual ao da população americana (34%).

Tratamento
O Ministério da Saúde tem à disposição 150 mil kits para tratamento da gripe A. Cada um com 10 cápsulas. O remédio é feito a partir de fosfato de oseltamivir, mesmo princípio ativo do Tamiflu, medicamento que vem sendo usado no tratamento da doença.
Segundo a Farmanguinhos, laboratório de medicamentos da Fiocruz, as 1,5 milhão de cápsulas foram desenvolvidas a partir de um estoque de 9 toneladas do princípio ativo comprados em 2006.
O produto será usado apenas por hospitais e centros de tratamento e não tem autorização para ser comercializado. No total, foram encomendados à Fiocruz 210 mil kits, e de um laborátorio estrangeiro o governo aguarda a chegada de mais 800 mil até o final de setembro.

Cristina Esteche

Jornalista

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