22/08/2023
Educação

Guarapuava dá o primeiro passo para aprofundar debate sobre gênero na escola

imagem-56393

Guarapuava dá o primeiro passo para uma transformação cultural em questão de gênero. Durante esta quinta-feira (25), professoras e demais profissionais da rede municipal de ensino debatem o tema num encontro promovido pela Secretaria Municipal de Políticas Públicas para Mulheres, no auditório da Faculdade Guairacá. O assunto é árido e é um projeto a longo prazo. “Só teremos os primeiros resultados daqui a uns 10 anos”, disse a prefeita em exercício Eva. Schran, que é a titular licenciada da SMPPM.

A ideia é chamar à reflexão quem está ensinando dentro da sala da aula. “O primeiro passo está sendo dado hoje com provocações. Primeiro é preciso que a mulher desperte para então começar a mudar comportamentos, relações familiares e o próprio conceito dentro da sala de aula”, diz a professora  Lirani Franco, uma das palestrantes do evento.

O exemplo dado pela professora é simples e dá uma noção de como os conceitos podem ser trabalhados para haja uma mudança cultural. “A professora não deve achar que o caderno da menina é bonito porque é limpo, porque tem flores, bichinhos. O caderno do menino não pode ser considerado feio porque tem rabiscos. Ou então, um aluno não deve ser visto de forma diferente porque o seu caderno é bonitinho. São pequenas ações do cotidiano que devem ser trabalhadas para que essa dicotomia homem x mulher seja mudada”, afirma.

De acordo com a professora, a partir da mudança de comportamento dentro da escola os alunos levam essa transformação para dentro de casa. “É uma briga que estamos comprando; é uma afronta a nossa cultura machista e sabemos que as mulheres não estão preparadas para romper com os valores tradicionais, mas isso se faz necessário para que as pessoas sejam vistas como humanas, sem distinção de gênero”, prega.

De acordo com Lirani, essas mudanças influenciam positivamente no combate à violência doméstica. A pedagoga Monaliza Germano de Souza, que pesquisa a violência doméstica para um trabalho de conclusão de pós graduação confirma. “Me assustei quando as pesquisas mostram que a maior agressora de crianças é a mãe biológica. Ou ela faz o que é feito com ela ou é uma questão de poder”, comenta. “Às vezes as mulheres são mais machistas do que o próprio homem”.

Para a palestrante Lirani Franco, como a educação é um passo privilegiado, e as crianças ainda estão em processo de formação é preciso um “novo olhar” na formação pedagógica. “A escola deve trabalhar a história da mulher e se trata de uma discussão que perpassa outras disciplinas, provocando também uma mudança de linguagem. Não se mais ter a sala dos professores (que remete ao gênero masculino), nem a fila dos meninos e a fila das meninas. Somos todas e todos”, observa.

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.