22/08/2023

´´Guarapuava é maravilhosa para nós´´, afirmam travestis

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Por Cristina Esteche com foto de Lizi Dalenogari

+Travestis de Guarapuava iniciam processo para utilizar nome social

Eles nascem com o corpo masculino, recebem nomes de homens, mas ainda na infância descobrem que gostam do igual. E aí começa uma vida marcada pelo preconceito, discriminação, humilhações, dramas pessoais, agressões verbais e físicas. Tudo isso provocado pelo desejo de se transformar e de expor como mulher sem, entretanto, passar por cirurgia de troca de órgãos e entrar para o grupo da transexualidade.


Lana: "Já sofri muito"

Nesse universo “marcado”  e limitado pelo preconceito social, encontrar uma cidade para se viver com respeito é uma tarefa difícil, mas Guarapuava é uma delas. “Guarapuava é maravilhosa prá nós, tanto financeiramente, quanto no contexto social”, diz Lana. “Nós respeitamos e somos respeitadas. São muito poucos aqueles que nos agridem com o olhar, com o desprezo, mas não passa disso. Já morei em várias cidades brasileiras e estou aqui há quase dois anos e não pretendo sair”, diz Adriana, a Drika. “Eu sou da capital do Mato Grosso do Sul, vim passear e acabei ficando por aqui. Somos muito bem tratadas em todos os sentidos”, emenda Rafaela. “A cidade é maravilhosa, o povo é educado, já fiz autoescola numa boa”, contribui Drika.

Mas nem tudo foi assim. Lana tem 45 anos, é de Guarapuava,  e assim como as demais entrevistas pela Rede Sul de Notícias descobriu a sua opção sexual ainda criança. “Eu tinha sete anos e foi na escola quando percebi que gostava de ficar mais entre as meninas. Comecei a usar calcinha escondido dos meus pais e aí começou o meu sofrimento. Apanhei muito do meu pai, do  meu irmão mais velho. Provoquei a separação dos meus pais porque a minha mãe escolheu ficar comigo”, diz.

Já na adolescência, quando decidiu me vestir de modo feminino as agressões públicas começaram. “Eu saia de casa e já começavam a me bater, atirarem pedras, me xingavam. Quando eu pedia socorro, as pessoas que chegavam, em vez de me socorreram, me batiam ainda mais”.

De acordo com Lana, esse tempo passou. “Hoje eu estou casada há quatro anos e cuido de casa, mas as meninas que trabalham na rua não reclamam”, diz.


Adriana, a Drika: "Em 1,6 anos em Guarapuava já comprei um carro"

“Eu costumo dizer que aqueles que nos discriminam durante o dia, são os que nos mantem”, desfere Drika com o aval de Lana e Rafaela. “Somos muito bem pagas e não nos faltam clientes”, asseguram Lana e Drika. A renda mensal das duas gira em torno de R$ 3,5 mil. “Já cheguei a receber R$ 800 numa única noite. O guarapuavano paga muito bem”, afirma Rafaela. “Em ano e meio de Guarapuava já comprei um carro. A gente gasta muito para se produzir e manter o glamour”, revela Drika.

 


Rafaela: "Vim a passeio e fiquei aqui"

“Trabalhando” nas ruas de Guarapuava, principalmente, na Avenida Manoel Ribas, desde a proximidade de duas quadras da XV de Novembro, a clientela  dos travestis é heterogênea. “Um dia um cliente me perguntou quanto eu cobro e deixou de pagar o talão da luz para ficar comigo. Em compensação tem aqueles bem sucedidos, que são a maioria, que não tem medo de colocar a mão no bolso e pagar R$ 500”, afirma Drika. “Eu já recebi R$ 600 para só ficar ouvindo o cara chorar e falar mal da mulher. Em muitas vezes fazemos o papel de psicólogas”, diz Rafaela.

Cristina Esteche

Jornalista

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