Há dias sinto que Guarapuava está triste. Embora as luzes de Natal iluminem as ruas da cidade, a Praça Encantada do Papai Noel dê um toque de magia e anuncie a festa máxima dos cristãos, nada disso empolga. No meu caso, o Natal não é mais o mesmo desde que entreguei um dos meus três filhos, o Juan, à Terra Mãe. Uma ausência que jamais será preenchida, mas que é amenizada pelas presenças do Lorenzo e sua força de superação, da Shopia, do Thales, que mesmo distante está tão perto pelo avanço da tecnologia, e do Leon.
Mas a vida é assim mesmo e já me acostumei a ela, assim, cheia de surpresas agradáveis, mas também desagradáveis; de esperança e de desalento; de confiança e de traição; de apostar em tudo e quebrar a cara; de alegrias e decepções ; de chegadas e de partidas.
Esse mosaico ora colorido, ora em preto e branco, ganha nuances porque a vida cria pessoas e pessoas são diferentes de acordo com seus princípios, conceitos, valores éticos e morais, concepções de poder, do que é bom para si, numa visão mais egoísta, ou para o coletivo num gesto de altruísmo.
Mas o fato é que Guarapuava está realmente triste. Basta olhar, conversar com as pessoas desde a base até o topo da pirâmide social. E hoje eu me sinto muito mais triste ainda. Embora esteja a milhares de quilômetros de distância, a notícia de que uma das pessoas mais integras que conheci deixa este plano me comoveu. Conheci o servidor público municipal Néri Dias, aquele que sempre tratei carinhosamente como “seo” Nerinho há muitos anos. Sempre solícito, comprometido com a sua função na Secretaria Municipal de Finanças, conquistou a amizade e a admiração de muitas pessoas. Lembro perfeitamente de um ano em que sentindo uma saudade enorme do meu pai, que já não está mais aqui, presentei o “seo” Nerinho no Dia dos Pais. Ao receber o presente, lágrimas rolaram pela sua face e a resposta foi um abraço como nunca mais recebi. Há meses, na última vez que o encontrei em frente a Prefeitura, andando ligeirinho como costumava fazer, ele parou para me dar um novo abraço e dizer que a camisa que havia lhe dado era a que mais gostava e que nunca esqueceria a surpresa que lhe fiz. Não tive tempo de renovar o presente como gostaria de ter feito e faço a “mea culpa” por não ter tempo para coisas que são realmente importantes de serem realizadas. É a correria desenfreada do dia a dia que nos consome, que não nos deixa respirar e muito menos discernir o realmente vale a pena. Fechamos nossos olhos, nossos ouvidos quando uma energia superior está aí a mostrar diariamente fatos, situações, atitudes, para que haja uma reflexão sobre quem é quem, sobre o que se deve acreditar e ter esperança. Uma esperança que uma vez despertada se transforma na maior adversária se houver uma frustração.
Mas já com disse anteriormente, a vida é esse mosaico fragmentado, frágil que se afunila a cada dia que passa encurralando ou libertando. Depende de cada um. Mas hoje sinto que estamos num labirinto onde o medo vence a esperança, onde a partida de um homem do bem deixa Guarapuava que o conheceu ainda mais triste.