22/08/2023

Guarapuava faz a lição de casa!

Sinto que Guarapuava vive um novo momento, provocado pelas políticas públicas de enfrentamentos das mazelas públicas que afetam a sociedade. Problemas difíceis para um gestor público encarar e “entrar na briga”, mas a cidade vivencia isso com a criação do Departamento de Políticas Públicas de Combate às Drogas  na Secretaria de Assistência Social e a implantação da Secretaria de Políticas Públicas Para a Mulher., com debates provocados em cursos superiores, em escolas das redes municipal, estadual e particular, em órgãos, entidades, instituições.

Por isso, o encorajamento às denúncias,  faz com que o dor, o grito entalado, ganhe os ares, aumentem as tristes estatísticas que, como diz o prefeito Cesar Silvestri Filho, município nenhum teria orgulho de anunciar. Mas é esse enfrentamento que está encorajando as pessoas. Convivemos esta semana com depoimentos que chocam o mais frio, o mais racional dos seres humanos. Adultos que não suportando mais a dor, a revolta, o roubo de parte de suas vidas, me lágrimas, expuseram abusos sexuais sofridos na infância. Tiveram a coragem de permitir a reportagem como protagonistas desses dramas encorajando outras pessoas, vítimas de dramas semelhantes a fazerem o mesmo.

Outras matérias nos levaram a um mergulho em casos de violência contra a mulher. São fatos que só quem conhece, quem vê, quem sofre, vai saber o quanto é dolorido, o quanto é grave, o quanto é revoltante. São resquícios de uma cultura machista que vem sendo mantida por séculos e que encontra respaldo dentro de casa, na criação arcaica  dos filhos que nascem e crescem em berços patriarcais. Muito mais do que cultural o problema se estende tanto que se tornou caso de saúde pública.

Durante a abertura do seminário Mobilização pelos Direitos da Mulher que acaba nesta sexta em Guarapuava, ouvi o 1º vice presidente do Tribunal de Justiça do paraná, desembargador Paulo Roberto Vasconcelos, que o agressor deve ser reabilitado, que por trás dele existem filhos, uma mulher que mesmo sendo agredida o ama e que é preciso reconstituir a família. Num primeiro momento, concordei, porque até então, só se ouvia falar nas vítimas. Momentos depois, numa reflexão que costumo fazer quando participo de qualquer evento ou saio de uma entrevista, conclui que o desejo do desembargador pode ser eficiente em casos onde o agressor já possui outra família, desde que passe a pertencer a grupos terapêuticos que envolvam a ex-família e o atual relacionamento. Não se muda uma cultura da noite para o dia. Não se transforma o caráter, a personalidade, a história de vida de uma pessoa de uma forma tão rápida e o que é ainda pior: não se contém uma cadeia, um círculo vicioso pautados em exemplos que nascem em casa. Se recupera um, surgem outros 10. Alguém pode até dizer que uma pessoa foi reabilitada e isso já vale. Ouço dizerem isso, mas soa como uma autocompensação, uma comodidade pelo trabalho que acabou se ser feito. Mas e a reincidência? Alguém acompanha? Ou a estatística para ali no efeito positivo da reabilitação?

Ainda quero crer que a mudança está essencialmente ligada à educação, em qualquer modalidade que seja. A base está nas crianças que frequentam os centros de educação infantil, continua nos outros níveis de ensino. Passa por um trabalho complexo que não pode deixar de lado a vivência, os conceitos, os princípios recebidos na família. Necessário se faz uma política que contemple o agora, o antes e o depois, também com olhar voltado ao coletivo.

Tarefa fácil? Enquanto está no papel, no discurso. Desafio, e dos grandes, é fazer o que Guarapuava está fazendo: o Poder Público encarando o fantasma, sem medo, sem vergonha, sem preconceito, mas de braços abertos para receber ações afirmativas que sejam dos governos federal, estadual ou de entidades não governamentais. Foi-se o tempo em que em que o gestor público para se sentir “bom” deixava parcerias de lado e propalava obras e ações próprias. Hoje a administração municipal precisa ser o agente ao  envolvimento da sociedade nos seus mais diversos setores. Só no coletivo vamos encontrar o verdadeiro sentido do bem comum. Nesse quesito, Guarapuava está fazendo a lição de casa!

Cristina Esteche

Jornalista

Relacionadas

Este post não possui termos na taxonomia personalizada.

A missão da RSN é produzir informações e análises jornalísticas com credibilidade, transparência, qualidade e rapidez, seguindo princípios editoriais de independência, senso crítico, pluralismo e apartidarismo. Além disso, busca contribuir para fortalecer a democracia e conscientizar a cidadania.

Pular para o conteúdo