Guarapuava fortalece rede do bem e busca novas parcerias

Em Guarapuava, uma corrente de cuidado começa pelo que parece simples, um sorriso, e termina em algo maior: recomeço. Hoje, 13 dentistas voluntários já integram a rede ‘Dentistas do Bem’ no município, mas a estrutura local precisa crescer para alcançar mais pessoas. A articulação na cidade conta também com dois protéticos, duas clínicas de radiologia e uma loja de roupa. De acordo com o coordenador regional da ONG, o dentista Eduardo Hamm, há necessidade de mais profissionais da área.

A rede, conforme Eduardo, faz parte da atuação da ‘Turma do Bem’ (TdB), ONG reconhecida internacionalmente por reunir uma das maiores mobilizações de voluntariado odontológico do mundo. Em Guarapuava e no Brasil, o trabalho se desdobra em duas frentes que carregam a mesma ideia central. Ou seja: restaurar dignidade por meio do cuidado. Uma delas é o programa ‘Apolônias do Bem’, voltado a mulheres vítimas de violência. A outra atende jovens carentes entre 11 e 17 anos, oferecendo acesso a tratamento odontológico gratuito com acompanhamento profissional.

Criado em 2012, o ‘Apolônias do Bem ‘oferece tratamento odontológico completo e gratuito para mulheres que tiveram a face e a história atravessadas pela violência. De acordo com Eduardo, em 13 anos, o programa já beneficiou mais de 1.200 mulheres, em 146 cidades de 21 estados brasileiros. São procedimentos que incluem reconstrução dentária, próteses, reabilitação estética e ortodôntica.

O dentista Fábio Bibancos, fundador e presidente voluntário da Turma do Bem, resume o impacto com uma frase que não é metáfora: quando a violência quebra dentes, ela também tenta quebrar identidade.

Muitas dessas mulheres tiveram os dentes fraturados durante as agressões. Reconstruir o sorriso é reconstruir parte da capacidade de falar, de rir e de voltar a viver.

Eduardo Hamm (Foto: Divulgação)

QUANDO O ROSTO VIRA ALVO

O cenário que sustenta o projeto é duro e atual. Conforme levantamento do Datafolha (2025), 37,5% das mulheres brasileiras com 16 anos ou mais relatam ter sofrido algum tipo de violência física, sexual ou psicológica no último ano. Estudos também indicam que, em grande parte dos casos de violência doméstica, a face é um dos principais alvos. Esse percentual, de acordo com o levantamento, equivale a mais de 21 milhões de pessoas.

As sequelas, no entanto, não param na dor física. Elas atravessam autoestima, saúde mental, relações sociais e oportunidades de trabalho. Nessa linha, conforme Eduardo, o atendimento odontológico integral oferecido pelo programa tem efeito direto na possibilidade de retomada. “Um sorriso recuperado pode ser a primeira credencial para voltar ao mundo.”

APOLÔNIAS DO BEM

O nome homenageia Santa Apolônia, mártir do século III, associada historicamente à proteção contra dores de dente e considerada padroeira dos dentistas. No projeto, a referência ganha um sentido contemporâneo: são “Apolônias” as mulheres que tiveram o rosto marcado pela violência. Entretanto, encontram, no acolhimento, uma chance concreta de recomeçar.

O acolhimento pode acontecer por diferentes caminhos: Contato pelo WhatsApp oficial da Turma do Bem: (11) 98965-8599, com boletim de ocorrência, entrevista e avaliação clínica. Ou triagens sociais em casas de apoio e abrigos; parcerias com o Judiciário, por meio de protocolos com Tribunais de Justiça e comissões especializadas.

De acordo com Eduardo, o Apolônias do Bem é reconhecido pela ONU Mulheres e integra a campanha global UNA-SE pelo Fim da Violência contra as Mulheres, criada pelo ex-secretário-geral da ONU Ban Ki-moon. Na prática, o reconhecimento confirma o que as histórias já mostram: cuidar também é uma forma de justiça social.

TURMA DO BEM

A Turma do Bem (TdB) coordena uma rede de mais de 18 mil dentistas voluntários em 14 países. A ONG afirma já ter impactado mais de 90 mil pessoas ao longo de mais de duas décadas, conectando atendimento especializado a quem não teria acesso ao tratamento.

SERVIÇO

turmadobem.org.br
Instagram: @turmadobem

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