22/08/2023
Cotidiano

Guarapuava perdeu Eurico Lustosa de Siqueira

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Guarapuava – O domingo (11) amanheceu triste, apesar da chuva ter dado uma trégua para que o sol brilhasse com intensidade. Pode até ter sido proposital para aquecer o coração que bate na família Lustosa de Siqueira e amenizar, de algum a forma, a perda de um de seus filhos mais ilustres, o patriarca Eurico Lustosa de Siqueira.
Descendente do primeiro prefeito de Guarapuava, Coronel Pedro de Lustosa Siqueira, Eurico já era centenário. Desafiou o tempo embalado pelas lembranças.
Com seu jeitinho franzino, apesar da idade avançada, afinal, completara 100 anos com festa e com lucidez, ainda capinava e cuidava da horta. Fazia isso para manter as raízes, mas no dia 11 de outubro, véspera da festa da padroeira do Brasil, o homem, também religioso, colocou um ponto final na sua passagem por esta vida, mas deixa a seiva que nutre os seus descendentes.
Sempre dei voz a partes dessa história acompanhando fatos pitorescos da vida do Vô Eurico, mas hoje preferi dar espaço a uma outra voz. Nada melhor do que a sua neta, Viviane, para o “the end” dessa caminhada. (Cristina Esteche).

Vô Eurico deixa um legado de amor

Por Viviane Siqueira Ribas

Quando a Cristina me pediu para escrever um pouco sobre a vida de meu avô Eurico, pensei em todos os momentos especiais que tive o privilégio de viver ao lado dele.
Passar para o papel as inúmeras experiências não é fácil, mas não poderia deixar de registrar aqui, especialmente na Tribuna, onde boa parte de sua vida foi registrada a nossa homenagem àquele que foi o nosso exemplo.
Vô Eurico nasceu na fazenda Taguá, em Entre Rios, no dia 01/04/1909, filho do Capitão Isaías Ferreira de Siqueira e de Maria Clara Lustosa (filha do 1º prefeito de Guarapuava, Cel. Pedro Lustosa de Siqueira). Cresceu na fazenda, onde iniciou seus estudos com uma professora particular; mas seu maior interesse sempre foi a lida campeira, o amor pela terra e pela criação. Dos filhos do capitão Isaías, foi aquele que nunca deixou de trabalhar a terra, quem sabe por isso foi escolhido pelo pai para herdar a sede da fazenda Taguá.
Apesar do trabalho intenso na fazenda, vinha à cidade constantemente, gostava de estar sempre bem trajado, lenço de seda no pescoço foi sua marca registrada, e a “água de colônia” não podia faltar. Em suas inúmeras historias que nós os netos, bisnetos e tataranetos adorávamos ouvir, não podia faltar como ele começou o namoro com a Vó Marietta (Maria do Belém Lustosa), nós gostávamos de ouvi-lo elogiar a vó… “A Marietta, tinha 14 anos, era muito bonita, tinha os cabelos pretos bem brilhantes”… Dizia ele que a “prima Marietta” (ela é filha de Pedro Lustosa Neto) era muito “formosa”, o amor dos dois está registrado nas muitas cartas que foram trocadas entre eles e foram preservadas ate hoje pelo vô Eurico.
Da primeira carta até hoje se passaram 76 anos, uma união que envolve gerações, são 132 descendentes, entre filhos, netos, bisnetos e tataranetos. Neste ano, no dia 01 de abril a família esteve reunida para festejar os seus 100 anos de vida, e o vô Eurico estava lá, faceiro, recebendo o carinho de familiares e amigos e quando perguntavam: seu Eurico, nos conte qual o segredo da longevidade? A resposta sempre era rápida. “A vida! Que apesar das dificuldades ela é boa, eu gosto de viver”.
No último domingo, dia 11/10, o nosso querido vô Eurico acariciou as mãos de sua amada Marietta pela última vez. Estava deitado a seu lado, após ter almoçado, e serenamente fechou os olhos e dormiu, à sua maneira, discretamente… dormiu…
A vó Marietta, sua eterna companheira, está com 94 anos e não tem a mesma lucidez do marido, talvez por isso seja mais fácil para ela suportar a ausência do seu amado.
Nós que ficamos, estamos todos sentindo um enorme vazio, o que nos conforta é saber que soubemos aproveitar toda a sua energia e ensinamentos; num esforço para aliviar a saudade, vamos até seu jardim, que está repleto de rosas e copos de leite cultivados por ele, e entendemos que a vida é feita de ciclos… E como dizia o vô Eurico: “Apesar de todas as dificuldades… A VIDA é boa para quem sabe viver”. (14 de outubro de 2009)

Cristina Esteche

Jornalista

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