A inclusão de uma modalidade discriminada, resultou na conquista de duas medalhas de prata para o Brasil nas Olimpíadas de Tóquio. O que pode mudar o conceito do skate no país. Levantando o orgulho brasileiro, Kelvin Hoefler ganhou a primeira medalha (prata) para o Brasil em Tóquio. Assim como ele, Rayssa Leal, de 13 anos, conquistou a medalha de prata no ‘skate street’ feminino, na madrugada desta segunda (26), pelo horário de Brasília.
Assim com o Kelvin e Raíssa, Guarapuava também abriga talentos. É muito comum ver jovens de ambos os sexos ‘deslizando’ sobre a prancha com rodinhas, driblando os veículos em meio ao trânsito da cidade. De acordo com Mael, que há 12 anos pratica o esporte, há mais de 300 praticantes dessa modalidade em Guarapuava.
Muito mais do que uma modalidade esportiva, a prática do skate é considerada um estilo de vida. Afinal, os skatistas têm jeito de se vestir muito próprio que já inspirou vários estilistas a criarem coleções. É um visual bem urbano, saído da rua. De acordo com Mael, as calças e bermudas são largas, os tênis chamam a atenção. “Precisamos de roupas que possibilitem a maior flexibilidade possível”.
E é justamente esse jeito despojado, irreverente, com gírias dominando os diálogos, que os skatistas são tidos como rebeldes, ligados a contracultura e comportamento antissocial.
Já melhorou, mas ainda sofremos preconceito, principalmente, em Guarapuava. Isso porque o skate é ligado à cultura do hip-hop, do grafite, do rap. É o esporte da rua.
Em Guarapuava, os skatistas ganharam a primeira pista na Praça Cleve. Entretanto, com a construção de outra no Parque do Lago, a pioneira acabou se deteriorando. “Essa pista foi abandonada e está cheia de buracos”. Dessa forma, houve a migração para o Lago. Porém, há dois anos essa pista acabou desativada. “Como a gente precisava de um novo espaço para a prática de manobras, fomos para as quadras do antigo Ginásio Trianon. Ali construímos os obstáculos com dinheiro do nosso bolso”. De acordo com Mael, nas pistas há uma reprodução dos obstáculos encontrados nas ruas. São, por exemplo, bancos, corrimões, escadas, entre outras.
Entretanto, com a reabertura do ‘Skate Park’ no Parque do Lago, skatistas temem que a pista improvisada no Trianon seja desativada. “Guarapuava precisa de mais um espaço. Ali é o nosso QG”. Segundo Mael, no fim do Residencial 2000 há uma pista móvel pouco utilizada. “Lá não tem 10 skatistas. Essa pista poderia ir para o Trianon”.
“PISTA IGUAL A DE TÓQUIO”
Conforme o secretário municipal de Esportes, Milton Roseira Junior, a pista do Parque do Lago passa por readequação total. “Teremos em Guarapuava uma pista apropriada para sediar campeonatos nacionais. O presidente Adalton da Federação já entrou em contato comigo e vai incluir a cidade no circuito nacional”. Para isso, empresas especializadas trabalham na pista que deverá estar pronta em setembro deste ano.
De acordo com Francisco Presotto, o Cisco, skatista há 30 anos, ele constrói pistas desde 2010. Ele é um dos contratados para a obra.
A pista aqui será para duas modalidades: street [a mesma das Olimpíadas] e a vertical (bowls). Trata-se de uma pista moderna, semelhante a de Tóquio, baseada na cena internacional do skate.
Entretanto, Mael tem outra opinião. Segundo o skatista, a finalização da pista não está sendo ideal.
Do que jeito que está sendo executada, daqui uns três meses estará cheia de buracos. Já que se trata de uma obra cara [R$ 500 mil, segundo ele], deveriam contratar também uma empresa especializada.
Mael disse que está indo à pista diariamente. Junto com outros skatistas, eles acabam dando dicas para os pedreiros. “O piso, as cantoneiras estão deixando a desejar. Deviam pedir a opinião de quem vai usar”.
“JÁ PERDEMOS CAMPEÕES”
De acordo com Mael, a sensação de liberdade, adrenalina e os desafios encantam os jovens e adultos.
Temos um grupo com mais de 150 skatistas. Mas na cidade há mais de 300. E se tivéssemos apoio poderíamos ter representantes nas Olimpíadas.
Segundo ele, o segundo esporte mais praticado no Brasil, tem destaques em Guarapuava. “Temos o Brendon Souza, o Juan de Gorpa que é um prodígio e outros com nível internacional. E já perdemos muitos campeões por falta de apoio”.
Entretanto, após se tornar uma modalidade olímpica, acredita-se na ruptura das barreiras da marginalização e do preconceito. Afinal, o fato do skate se tornar esporte olímpico significa dar representatividade e legitimar uma prática que surgiu na década de 60 na Califórnia. Presente no Brasil desde 1974com a inauguração da primeira inaugurada, porém, a evolução ocorreu na década de 90.
“Hoje podemos afirmar que o skate é uma grande tendência no Brasil. O skate e os skatistas brasileiros representam a segunda maior potência mundial do esporte”. Conforme Mael, a modalidade discriminada por ter maior número de adeptos na periferia, gera mais lucro ao país do que o futebol.
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