A dinâmica política em Guarapuava após as eleições municipais revela nuances profundas de alianças estratégicas e a reconfiguração de poder. O grupo que venceu as eleições não está satisfeito apenas com a conquista da prefeitura. Isso porque, há uma movimentação intensa em busca de coalisão também na Câmara Municipal. Esse cenário se desenrola com estratégias de busca de apoio de vereadores, eleitos e reeleitos. Trata-se de uma tentativa de assegurar apoio interno ao novo prefeito. Denilson Baitala (PL), prefeito eleito, ao que tudo indica, atualmente possui a minoria dos vereadores, o que pode inviabilizar a governabilidade e a implementação do plano de governo.
Interessante observar que Márcio Carneiro (CD), antes líder firme da bancada de Celso Góes, já surge em fotos ao lado do recém-eleito Denilson Baitala e a futura bancada de vereadores. Na política, parece que o jogo de alianças se inicia antes mesmo que as cadeiras esfriem. Seria uma questão de visão estratégica ou apenas o instinto de estar sempre bem posicionado nas fotos certas?
Essa reconfiguração de alianças, sem que Carneiro tenha oficialmente renunciado à liderança, revela um pragmatismo que, na prática, suaviza a linha de oposição ao novo governo. Mais do que uma mudança isolada, essa transição aponta para uma tendência de alinhamento oportunista. Ou seja: antigos apoiadores de Góes, por fidelidade ou por conveniência, já começam a procurar espaço e segurança junto ao novo comando. Afinal, na política, as lealdades se mostram flexíveis, especialmente quando novas possibilidades entram em cena.
REALINHAMENTO DE BANDEIRAS
Outros vereadores que, até então, mantinham vínculos estreitos com a antiga administração — garantindo cargos e estabilidade no processo — também começam a realinhar as bandeiras. Curiosamente, alguns que estavam publicamente ao lado de Celso Góes agora aparecem ao lado de Baitala, enquanto outros, que hesitavam em se definir, já começam a descer do muro e saltar para o lado vencedor. Esse reposicionamento revela uma tendência política orientada mais pela busca de segurança e vantagens do que por convicções claras. Em um cenário ideal, a coerência prevaleceria desde o início. Contudo, as conveniências do jogo político frequentemente se mostram mais atraentes do que a integridade dos compromissos assumidos, relegando a segundo plano as promessas e ideais que os eleitores acreditavam estar respaldando.
INCOMODA
Outro ponto de tensão nesta disputa é a posição de Pedro Moraes (MDB). Agora, muitos o rotulam de ‘esquerdista’, e até circulam rumores — especialmente entre os menos informados — sobre uma suposta candidatura dele pelo PT nas próximas eleições. Esse discurso parece ter um propósito claro: isolá-lo do cenário político local. No entanto, a crescente resistência a Moraes também sinaliza o receio que ele desperta como potencial opositor da nova administração, sustentando uma postura de independência que incomoda.
A pressão para alinhar a presidência da Câmara ao novo governo também gera desconforto e críticas. A Câmara, como instituição legislativa, deveria manter uma postura independente, servindo como um canal de diálogo e fiscalização em relação ao Executivo.
No entanto, a tentativa de atrelar a liderança ao novo prefeito revela uma inclinação para centralizar o poder, comprometendo a autonomia essencial para uma democracia saudável. Uma Câmara ‘domesticada’ corre o risco de se tornar mero braço do Executivo, esvaziando a função de fiscalização e desbalanceando o jogo democrático. No final, é a representatividade que sai perdendo, e com ela, o equilíbrio de um sistema que se pretende plural e fiscalizador.
AMBIGÜIDADE
Enquanto alguns vislumbram uma fresta do novo sol, a vice-prefeita eleita Rosangela Virmond, que anteriormente ocupava o cargo de secretária de Assistência Social na gestão de Celso Góes, parece hesitar entre as luzes da nova administração e as sombras do governo anterior. Na posição de vereadora, Virmond votou a favor do PL 18/2024, que altera a estrutura de cargos comissionados e ajusta o Plano de Cargos e Salários da prefeitura. Uma medida que, na prática, pode comprometer diretamente a capacidade de governança do futuro prefeito, Denilson Baitala, ao qual ela, supostamente, estará ‘subordinada’ como vice.
Esse posicionamento levanta uma questão instigante: estaria Virmond, consciente ou inadvertidamente, votando contra a administração da qual fará parte? Ou seria esse voto um reflexo de uma ambiguidade sobre o novo papel político dela? A aparente indecisão de Virmond coloca em evidência as dificuldades de transição e a complexidade das lealdades políticas, deixando em aberto se a atuação seguirá alinhada ao projeto de renovação do novo governo ou se continuará, de certa forma, ligada aos compromissos de atuação passada dela.
Em síntese, o cenário pós-eleitoral em Guarapuava lembra uma verdadeira ‘gaiola de loucos’, onde os papéis políticos parecem embaralhados e os compromissos, frágeis. Em vez de uma postura clara e alinhada com as demandas da nova gestão, muitos políticos seguem oscilando entre alianças antigas e novas, criando um ambiente de incertezas. Projetos que poderiam fortalecer o governo acabam sendo usados como ‘moeda de troca’, e as lealdades se mostram flexíveis demais. Nesse contexto, interesses pessoais e estratégias de poder sobrepõem-se à independência institucional, fazendo com que a governança local pareça mais voltada para jogos de influência do que para o benefício da cidade.
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