22/08/2023


Geral Guarapuava

Guarapuavana reaprende a ler e escrever após enfrentar grave doença

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Caio Budel

Guarapuava – Desde pequenos, quando iniciamos o nosso processo de aprendizado, é difícil imaginar que, algum dia, nós poderemos vir a ter que reaprender coisas que, hoje, parecem simples. Falar, escrever, ler este texto. Tudo parece muito fácil e intuitivo, né? Agora imagine se, aos 30 anos de idade, você precisar reaprender tudo isso. Foi exatamente o que aconteceu com Ana Maria Correia Rocha, de Entre Rios, no interior de Guarapuava.

Em 2013, Ana foi diagnosticada com Trombose Venosa Cerebral, uma doença que comprometeu o lado direito do seu cérebro e que afetou diretamente funções básicas do seu corpo, como a fala e os movimentos. Os sintomas da doença já existiam há algum tempo, mas passaram despercebido por parecem com uma simples dor de cabeça.

“Eu sentia muita dor de cabeça. Quando estava ficando insuportável, eu fui ao médico e ele disse que era uma crise de sinusite. Voltei para casa e continuei com a dor. Um dia acordei, fui ao banheiro e não lembro mais de nada”.

Em uma de suas crises de dor de cabeça, Ana desmaiou e foi levada às pressas para o hospital. Ficou 21 dias em coma e, neste meio tempo, os médicos lutavam para saber o que ela tinha. Quando acordou, o diagnóstico oficial ainda não tinha chegado. Foi quando ela veio buscar tratamento em Guarapuava e, através de uma ressonância magnética, recebeu a confirmação.

“Pouco tempo depois da ressonância, eu não conseguia lembrar nem da minha filha. A doença já não estava tão no começo. Eu não podia andar sozinha e nem fazer outras coisas simples sozinha. Era muito difícil organizar meus pensamentos e falar era praticamente impossível”.

Depois do diagnóstico oficial, Ana teve que focar no reaprendizado. Precisou se afastar do trabalho com sementes e começar de novo. Com o tratamento adequado, conseguiu, aos poucos, voltar a controlar a parte motora do corpo. Falar, com o tempo, já não era uma tarefa tão difícil, assim como ler e escrever. Segundo Ana, as atividades, aparentemente simples, se tornaram difíceis por conta do lado do cérebro atingido pela doença.

“Eu contei com a ajuda da minha família, mas ouvia muitas pessoas dizendo que eu não ia conseguir. Parecia até que queriam que eu não conseguisse mesmo. Tirei forças daí para continuar tentando”.

Hoje em dia, Ana leva uma vida praticamente normal. Considerada um milagre para os médicos que a atenderam, ela tem certeza que sua recuperação está sendo uma segunda chance. Mas para que tudo isso acontecesse, ela contou com uma parceira indispensável: uma Nikon. Foi na fotografia que a guarapuavana encontrou uma forma de extravasar tudo o que sentia.

“Os médicos acreditam que a minha doença foi causada por excesso de estresse e uso de anticoncepcionais. Eu me estressava muito com algumas situações, mas tinha mania de guardar aquilo para mim. Quero que minha história ajude algumas mulheres a perceberem que essa combinação não é uma coisa boa”.

Além da câmera, Ana tem outra companhia que se tornou fundamental. O primo Joelson Correia do Nascimento, que virou uma espécie de escudeiro. Atualmente, por ainda estar em tratamento, Ana não pode sair sozinha, então conta com a parceria do primo para fazer suas atividades.

Para o futuro, a guarapuavana quer se especializar no novo hobby e pensa até em tornar o passatempo em profissão.

“Quando comecei a fotografar, eu tive que fazer cursos para poder aprender a mexer na câmera. Não sabia nada mesmo. Depois de um tempo, fiz alguns ensaios e agora tenho vontade de levar isso para frente. Eu entendi isso como uma segunda chance e certamente não haverá uma terceira, então eu aceito os planos de Deus para mim”.

Cristina Esteche

Jornalista

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