22/08/2023


Cotidiano Guarapuava

Há um ano o Hospital Regional começou a atender pacientes da covid-19

Profissionais que trabalham no Hospital relatam o cotidiano que sem reveza num ambiente que patrocina momentos de tristeza e de alegria

governador

Hospital Regional de Guarapuava (Foto: HR)

Angústia, desespero, exaustão, superação, mas também alegria e realização profissional. Estes são os sentimentos descritos por profissionais que atuam na linha de frente no Hospital Regional em Guarapuava. São momentos que ficarão eternizados na memória de cada um, registrados nos últimos 365 dias. Afinal, esta quarta (24), marca um ano da abertura emergencial para atendimento exclusivos de pacientes acometidos pela covid-19.

Embora o Hospital tenha sido inaugurado em 13 de junho pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior, a primeira fase do HR acabou sendo concluída e equipada dias depois. Assim sendo, Guarapuava disponibilizava inicialmente 20 unidades de terapia intensiva (UTIs) e 60 leitos de enfermaria. Todos para pacientes adultos, com atendimento via Sistema Único de Saúde (SUS).

Até então, o atendimento a pacientes da covid-19 concentrava-se apenas no Hospital São Vicente. A estrutura do hospital filantrópico dispunha de 10 leitos de UTI dedicados para casos da doença.
Com a abertura da ala do HR, a área de atendimento foi completamente isolada para que as obras de implantação da segunda fase do Hospital, prevista ainda para 2021, não fossem interrompidas. De acordo com o Governo, quando concluídas, a capacidade total do centro médico será de 30 leitos de UTI adulto e 80 leitos de enfermaria clínica.

APÓS A PANDEMIA

Conforme o projeto inicial, após a pandemia, a estrutura atuará como referência para Urgência e Emergência. O perfil terá direcionamento à ortopedia e trauma, cirurgia geral e clínica médica. Essa estrutura vai beneficiar 20 municípios da Região. O Hospital Erasto Gaertner, de Curitiba, é quem atualmente administra a estrutura de Guarapuava.

Conforme orçamento da época, o investimento estimado para a manutenção dos leitos para covid no período era de pouco mais de R$ 23,2 milhões. Inicialmente, 139 profissionais foram contratados para atuar no centro médico.

O Município contava então com 68 casos confirmados, 152 pacientes recuperados e três mortes. Entretanto, os números, infelizmente, evoluíram. Hoje (24), portanto um ano depois, o placar da covid-19 mostra 22.611 casos positivos. Desses, 21.055 recuperados. Mas 534 pessoas morreram em decorrência da doença em Guarapuava.

Para fazer frente à demanda, que inclui pacientes de outras regiões, o quadro  mudou. Atualmente, são 80 leitos de enfermaria e 40 leitos UTIs e cerca de 290 profissionais. Por eles, já passaram 1.925 pacientes. Desses, 1.438 venceram as complicações da doença, o equivalente a 75% do total de atendimentos. Mas outros 487 morreram. Nesta quinta (24), o HR mantém 100% da UTI com pacientes, contra 62% de ocupação das enfermarias até o início da noite.

PROFISSIONAIS FALAM DO COTIDIANO NO HR

(Foto: Hospital Regional de Guarapuava)

Entretanto, apesar do ambiente expor a gravidade da doença, profissionais de vários setores enaltecem o primeiro ano do HR. A supervisora de limpeza, Leni Moreira Neves, diz que o ano foi de muita luta, correria, risos, choros, mas também de muitas alegrias. “A união, muita garra, trabalho em equipe marcam a nossa trajetória. E muita gratidão pela oportunidade que nos é dada em meio de tantas pessoas desempregadas”.

Só Deus sabe como é “maravilhoso saber que você tem um salário todo mês. Poder deitar a cabeça no travesseiro e saber que a mesa estará farta e todas nós com saúde. Tenho muito orgulho de toda a equipe e de fazer parte da família erastiana.

Segundo a enfermeira responsável pela educação continuada do hospital, Laís Bastos Depaoli, quando iniciou o processo de seleção para trabalhar no hospital de campanha, foi um grande desafio.

Durante todo esse tempo, tivemos que nos adaptar ao novo, desde a paramentação até o cuidado do paciente covid. As dificuldades são inúmeras, principalmente o controle emocional. Porém aprendemos muito com cada profissional e paciente. Agradeço por poder fazer parte desse grande time.

De acordo com  profissionais que atuam no Hospital Regional, as emoções se diferenciam e integram o cotidiano coletivo. Conforme a supervisora de enfermagem das enfermarias, Leila Sandmann, entre momentos ‘pesados´, cansaço, exaustão, há também momentos compensadores.

As pessoas pensam que aqui é só tristeza. E se choramos pela perda de pacientes, nos emocionamos mais ainda quando alguém vence a doença e vai para casa.

A enfermeira assistencial Nelcemara Rudek, concorda com Leila. “Um dos momentos mais felizes é quando conseguimos levar o paciente recuperado até a recepção e devolvê-los à família. Não tem sensação melhor e diariamente temos muitas altas, graças a Deus e nossa equipe”.

(Foto: Divulgação)

ALTAS MARCANTES

Para a enfermeira supervisora das Utis, Juliana Prado, a alta de dois pacientes se tornaram marcantes para a equipe. “Luiz e Rosenilda, ambos com mais de 60 dias de internação, venceram a covid. Momento emocionante que nunca vamos esquecer”.

Entretanto, segundo Nelcemara, a perda de um profissional de saúde da Santa Casa de Irati abalou emocionalmente as equipes. “Jairo era um profissional que estava na linha de frente contra a covid e infelizmente não teve um final feliz”. Conforme a enfermeira, outro momento triste é quando precisam levar o paciente até a Uti. “Ou quando perdemos vidas. Temos caso de perda de mais de uma pessoa da mesma família. “Choramos junto com eles”.

ESTRUTURA

Governador Ratinho Junior e o secretário de Saúde do Paraná, Beto Preto (Foto: Arquivo/RSN)

O projeto de construção do Hospital Regional de Guarapuava começou a sair do papel em 2015. Porém, logo a obra parou, sendo retomada apenas no primeiro semestre de 2019, já na gestão de Ratinho Junior.

No complexo de 17 mil metros quadrados de área o investimento somou  R$ 61,7 milhões apenas na construção da edificação. Os recursos saíram do Fundo Estadual da Saúde. A compra de equipamentos abocanhou outros R$ 30,49 milhões.

Por fim, ainda na primeira etapa do hospital de campanha, mais de R$ 23,28 milhões encontram-se aplicados na abertura dos leitos covid. No fim, totalizou R$ 115,4 milhões. Entretanto, hoje esse valor é muito maior.

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Cristina Esteche

Jornalista

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