22/08/2023
Esportes

Herança

Jogadores, treinadores e dirigentes estão em um eterno vem e vão dos clubes brasileiros, porém alguns deixam suas marcas, seu legado, suas heranças, boas ou ruins, cravadas nessas agremiações.

É essa tal herança futebolística que faz com que os clubes cometam os mesmos erros e acertos de décadas atrás, que faz os novos comandantes da bola terem as mesmas feições e atitudes dos antigos barões do futebol e que comprovam que há muita pouca coisa nova dentro e fora das quatro linhas.

No Corinthians, hoje foi o dia do anuncio oficial do novo treinador, e já conhecido da fiel torcida, Mano Menezes. Mano começou no timão em 2008 na Série B, levou o time a elite do Brasileiro e deu o pontapé para a fase vencedora do alvinegro. Tite deu prosseguimento ao projeto, conquistou tudo e mais um pouco, e agora passa a bola de novo para Mano continuar aquilo que começou.

A medida da diretoria corintiana é apostar no que deu certo e confiar na tabelinha de Mano e Tite e na herança vitoriosa de ambos, mesmo com o recente insucesso do comadante do bi-mundial. Se dará certo, só o tempo dirá?

Se há heranças vitoriosas, há também aquelas que podemos chamar de “heranças malditas”. Eurico Miranda reinou no Vasco de maneira controversa  polêmica durante muito tempo. Em 2008 o dirigente deixou o clube, mas continua bem vivo dentro de São Januário e na memória dos torcedores.

Após a queda do time carioca no último domingo, não vi apenas uma ou duas opiniões de torcedores e comentaristas que afirmavam que o resultado seria outro com Eurico. “Se Eurico Miranda estivesse aqui, eu duvido que o jogo voltaria. Iria para o tapetão, onde teriam mais chances” disse um comentarista esportivo, após o desastre em Joinvile.

Na volta ao Rio de Janeiro, torcedores fizeram coro pela volta de Eurico. Em uma atitude que relembrou os velhos tempos, a diretoria deu ouvido às arquibancadas e entrou com uma ação para tentar no tapetão retomar a vaga na Série A. O Vasco alega que a decisão de retomada ou não da partida deveria ter sido dada pelo árbitro com o prazo máximo de 1h. O árbitro decidiu continuar o jogo após 1h e 16 minutos.

Algo parecido aconteceu em 2000, na final da Copa João Havelange, mas daquela vez os dirigentes do Vasco eram a favor da continuação da partida, que com aquele resultado daria o titulo ao time da colina.

O jogo foi cancelado a pedido do governador, remarcado e terminou com o título do Vasco.

 

Foto: Desastre de São Januário em 2000. Crédito:JB

Outro que relembra os velhos tempos do tapetão é o Fluminense. Em 1996, o tricolor carioca foi rebaixado, mas retornou a Série A depois de uma virada de mesa comandada pelo presidente do Fluminense Álvaro Barcellos, pelo comandante da Federação Carioca, Caixa D’Água e por Ricardo Teixeira, então presidente da CBF.

Foto: Álvaro Barcellos comemora a virada de mesa em 1997. Crédito: Gazeta Esportiva

 

No ano seguinte o clube caiu novamente e chegou a disputar a série C em 1999.De lá voltou direto a Série A após a conturbada  e polêmica Copa João Havelange. Até hoje os rivais reclamam da maneira que o tricolor subiu.

Hoje, o clube das Laranjeiras volta novamente ao Tribunal tentando reaver sua vaga na série A. A alegação dos cariocas é que a Portuguesa escalou erroneamente um jogador e por isso deve perder pontos.

Resta saber agora se a CBF e o STJD irão seguir a herança de Ricardo Teixeira e outros antigos dirigentes e virarão a mesa novamente.

Quanto a nós, herdeiros de um futebol decadente, resta esperar por novos tempos dentro dos gramados.

Cristina Esteche

Jornalista

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