Superar as desigualdades e atender a demanda energética em um país continental como o Brasil são os principais desafios a serem superados no sistema de distribuição, conclui o estudo Logística de Energia 2015 – Redes e Fluxos do Território, que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou hoje (23).
O documento sinaliza concentração excessiva da produção, distribuição e logística energética nas regiões Sudeste, Sul e parte do Centro-Oeste do país. No Sudeste, por exemplo, o Rio de Janeiro responde por quase 70% de toda a produção de petróleo (68,4%) e por 34,8% da produção de gás natural; o Espírito Santo é responsável por 16,3% da produção de petróleo e São Paulo, (7,2%).
Na produção de gás, 62,8% se concentram no Rio de Janeiro (34,8%), Espírito Santo (14,9%) e São Paulo (13,1%). Das 17 refinarias que integram o Parque Nacional de Refino, cinco delas ficam no Sudeste: São Paulo (5) e Rio de Janeiro (2). O Rio Grande do Sul tem duas refinarias.
A concentração indica que 39% da capacidade de refino no Brasil estão no interior de São Paulo, 10,9% no Rio de Janeiro e 9,3% no Rio Grande do Sul. Assim, as regiões Sul e Sudeste reúnem 59,2% da capacidade de refino no Brasil.
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
O estudo do IBGE tem como meta apresentar e analisar os padrões espaciais (distribuição geográfica) da logística da energia no Brasil, desde a produção, passando pela distribuição, até chegar ao consumo de todas as formas de energia produzidas: petróleo, gás natural, biocombustíveis e energia elétrica – aí compreendidos fontes hidroelétricas, termoelétricas, eólica e fotovoltaica.
Como agravante às dificuldades decorrentes da diversidade da grandeza geográfica do território brasileiro, figuram a questão da distribuição desigual das atividades econômicas, com suas respectivas demandas energéticas, e a necessidade de disponibilizar esses recursos em um país de dimensões continentais.
Marcelo Paiva da Motta, um dos responsáveis pelo planejamento e coordenador da pesquisa, disse que o estudo procurou enfatizar o lado territorial, o padrão espacial (distribuição geográfica) das infraestruturas de produção existentes e também a distribuição dos insumos energéticos.
“Em termos gerais, a gente repara que a distribuição espacial dessas estruturas de produção e a distribuição dos insumos energéticos são determinadas, em primeiro lugar, pelas condições técnicas de sua produção e dos determinantes naturais. As jazidas têm uma ocorrência natural e puxam a estrutura de distribuição para perto delas, da mesma forma que a geração da energia elétrica vai seguir a localização das bacias hidrográficas, que têm o potencial de transformar aquela energia hidráulica em energia elétrica.”
PRÉ-SAL
A pesquisa do IBGE mostra, também, o crescimento da participação do pré-sal na produção de petróleo (que chegou a 21,9% em 2014); a liderança absoluta do Rio de Janeiro como produtor de petróleo (68,4% da produção) e gás natural (34,8%); mas sinaliza, também, a dependência externa do país no consumo de derivados de petróleo e gás natural.
Com base em dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), por exemplo, o estudo comprova que o país importou, em 2014, 47,6 mil metros cúbicos por dia (m³/dia), o equivalente a 299,8 mil barris/dia de derivados de petróleo, principalmente óleo diesel, gasolina e nafta; e outros 17,4 bilhões de metros cúbicos (m³) de gás natural no mesmo ano.
A pesquisa indica, ainda, que 92,5% do volume de produção do petróleo no Brasil ocorrem em ambiente marinho e apenas 7,5% no continente. Em termos absolutos, no entanto, 841 poços produtores de petróleo e gás natural situam-se no mar e 8.263 ficam no continente.
“O estudo ratificou a condição do Rio de Janeiro como o maior produtor de petróleo no Brasil, chegando a responder na época [da pesquisa] por quase 70% de toda a produção de petróleo. Este percentual equivale a mais de quatro vezes a produção do segundo colocado, o Espírito Santo, com 16,3%. Todos os outros estados produtores somados chegam a 8,1% do total da produção no país”, enfatizou.
GÁS NATURAL
O IBGE constatou que a produção de gás natural é um pouco menos concentrada no mar do que a do petróleo. Segundo o estudo, são 73,3% de origem marítima, contra 26,7% da produção terrestre, sendo que, no pré-sal, já representa 19,6% do total extraído no país (31,9 bilhões de m3, em 2014).
A produção do Rio de Janeiro (34,8%) representa mais que o dobro da produção do segundo colocado, o Espírito Santo, que extrai 14,9%. Amazonas (14,7%) e de São Paulo (13,1%) também detêm produções significativas.
Geralmente associado às reservas de petróleo – os campos de produção de petróleo são basicamente os mesmos que produzem o gás -, a distribuição geográfica do volume produzido de gás natural tem algumas diferenças em relação às maiores áreas produtoras de petróleo.
PREDOMÍNIO MARÍTIMO
Do mesmo modo que ocorre com a produção de petróleo, a maior parte do volume produzido de gás natural tem predomínio de origem marítima (73,3%), contra 26,7% de origem terrestre.
A produção de gás natural no pré-sal representava, em 2014, apenas 19,6% do total extraído no Brasil, proporção levemente menor que a do volume de petróleo extraído dessa camada (21,9%). Neste caso, além da incipiência da produção, deve-se considerar o fato de haver maior produção de gás natural em áreas continentais em relação ao petróleo, além de todas as áreas terrestres se situarem fora do polígono do pré-sal.
O Rio de Janeiro é também o maior produtor de gás natural do país, totalizando 34,8% do volume nacional. A produção de gás natural do estado representa mais que o dobro dos números do Espírito Santo, o segundo em extração do produto.
Por ter o seu escoamento muito mais dependente do transporte dutoviário, do que o de petróleo e seus derivados, a malha de gasodutos do país é bastante extensa, e há alguns deles que percorrem centenas de quilômetros mar adentro para alcançar determinadas plataformas e campos de produção.
O Brasil não é autossuficiente na produção de gás natural, necessitando de um volume significativo de importações para suprir a demanda interna. Em 2014, o volume importado foi pouco mais de 17 bilhões de metros cúbicos.
Dois tipos de infraestrutura cumprem papel fundamental nessa importação: o gasoduto Brasil-Bolívia, que transporta o produto do país vizinho para ser comercializado no Brasil, percorrendo quase a totalidade de Mato Grosso do Sul e São Paulo; e as unidades de regaseificação de gás natural.
REFINARIAS
A lógica da concentração e da desigualdade do sistema energético brasileiro pode ser avaliada quando se analisa o Parque de Refino. Das 17 refinarias existentes, cinco ficam em São Paulo, que responde por 39% da capacidade de processamento de petróleo do país.
Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul possuem duas refinarias cada um, respectivamente 16,1%, 10,9% e 9,3% de capacidade de refino. Enquanto o Centro-Oeste não tem nenhuma unidade de refino, o Norte conta com a unidade de Manaus.
“É fato que a maioria delas encontra-se mais perto da costa. E que há uma certa proximidade entre as principais áreas de produção de petróleo e as refinarias. Portanto, apenas 10 das 27 unidades da Federação abrigam refinarias”.
Embora o Estado de São Paulo seja o maior produtor nacional de derivados de petróleo, nenhuma refinaria se localiza na capital paulista – a com maior capacidade de refino no país é a Refinaria de Paulínia – situada no município de mesmo nome, totalizando 433 997,7 barris/dia.