22/08/2023


Geral Paraná

‘Igual a um segurança’

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Por Luiza Belloni, para o HuffPost Brasil

Curitiba – Juliano Trevisan, de 27 anos, nunca poderia imaginar que seria barrado em uma casa noturna por estar usando roupa social da cor preta e uma gravata. Mas foi.

Na última quinta (13), ele e seus amigos decidiram se encontrar no James Bar, em Curitiba, depois de um evento para advogados, quando foi abordado por seguranças da casa por não estar vestindo "roupas adequadas". "Qual seria esta tal roupa inadequada?", indagou Juliano, em um post no Facebook que relatou a abordagem do estabelecimento.

"A primeira imagem que viria na cabeça da maioria de vocês (e até mesmo para mim se alguém me contasse isto) seria de alguém com regata, talvez calção, talvez chinelo, talvez sem camisa e por aí vai. MAS NÃO. A roupa em questão, era EXATAMENTE A ROUPA DA FOTO (camisa manga curta preta, calça social, sapato marrom, e gravata preta)", escreveu.

Ele continua contando que foi abordado antes mesmo de entrar no bar. Enquanto ele esperava na fila, um dos seguranças o chamou para conversar com um funcionário da administração do bar.

"No que cheguei, o funcionário me olhou dos pés a cabeça e informou que pelo meu estilo, com 'a roupa que estava usando eu não poderia entrar'", relatou.

Olhei para minha roupa tentando entender o por que, e ele continuou 'roupa preta gravata e tal, você vai ser confundido com segurança lá dentro, assim não pode entrar'.

Trevisan segue o relato dizendo que na hora sua primeira reação foi querer ir embora. "A situação me chocou tanto, que fiquei bobo. Não quis discutir, não quis acabar com minha noite e de meus amigos", disse.

Só no carro ele começou a entender o que estava acontecendo. Ele se sentiu humilhado e questionou inúmeras vezes suas roupas, até entender que o problema "não é a roupa, o estilo". "Como militante, vivo expondo situações de preconceito e discriminação e os vários viés. Mas quando acontece comigo, ainda fico chocado sem ação", escreveu.

Segundo ele, é preciso expor estas situações e mostrar quão graves elas podem ser. "Conheço várias pessoas que vão lá [no bar] de camisa e gravata e nem por isso foram barradas. A verdade mesmo é que, por mais que estivesse parecendo com segurança da casa, isto não justifica barrar entrar no local. Roupa social não é uniforme exclusivo de empresas de segurança, o que dizer de formaturas onde os seguranças estão vestidos igual aos convidados?", questionou.

"Pra que um problema social seja resolvido, ele primeiro deve sempre ser apontado. Isto por que parte da sociedade insiste em relutar contra as inúmeras situações passadas hoje por negros, mulheres, gays e demais grupos de minoria, insistindo em dizer que o preconceito e a discriminação hoje em dia são 'mimimi'", disse, acrescentando que casas noturnas tenham treinamento profissional adequado para que "ninguém mais passe por situações como esta e que apliquem as medidas legalmente cabíveis aos envolvidos quando ocorrerem fatos como este."

 

 

O relato do jovem ganhou destaque nas redes sociais. Usuários elogiaram a exposição do rapaz e criticaram a postura do estabelecimento. No dia seguinte, o James Bar se pronunciou sobre o caso.

O bar pediu desculpas pelo ocorrido e informou que os funcionários tomaram uma atitude e que ela "não condiz com o que acreditamos."

"Ontem falhamos nessa missão por causa de uma atitude arbitrária dos funcionários envolvidos. Nossa decisão, portanto, foi desligá-los de nosso quadro, para que isso nunca mais ocorra", informou no Facebook.

 

 

Aparentemente, esta não é a primeira vez que o bar tem um incidente como este. "Mas de novo?", perguntou uma usuária. "Pois é. Da primeira vez acreditamos que era um erro isolado e que poderíamos dar uma segunda chance. Afinal quem não erra? Mas duas vezes é triste", respondeu a casa.

Cristina Esteche

Jornalista

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