Guarapuava – Além da perda irreparável dos familiares, a espera no Instituto Médico Legal (IML) de Guarapuava está sendo longa e angustiante. Recentemente, um corpo teve que ser transladado para o IML de Ponta Grossa por falta de técnico em necropsia. Foram mais de 13 horas de espera, segundo denunciou recentemente o vereador Gilson Amaral na Câmara.
Outra família teve que esperar a vinda de um profissional de Curitiba para que o corpo pudesse ser liberado para o velório. Eles chegaram no instituto às 23 horas de uma sexta-feira com a certeza de que na madrugada já estaria velando o corpo do filho. No entanto, não contavam com a falta de médicos legistas no órgão. É que também por falta de profissionais a escala de plantão da semana acaba na quinta-feira. É como se existisse o poder para agendar mortes violentas somente até esse dia, excluindo os finais de semana.
A situação caótica em que sobrevive o IML de Guarapuava voltou à tona durante a semana com nova denúncia, desta vez feita pela vereadora Maria José Mandu Ribas (PSDB) na sessão de terça-feira, dia 28.
Membro do Conselho Municipal da Mulher e da Rede de Proteção à Mulher Vítima de Violência, Maria José cobrou a responsabilidade do Governo do Estado quanto à situação, uma vez que a maioria dos funcionários são cedidos pelo município. Dos 4 médicos, 2 são do município, além de servente, auxiliar administra-tivo, motorista.
Responsável pelo atendimento de outros 26 municípios, além de Guarapuava, o IML se ressente com a falta de mais 1 técnico de enfermagem para exames de conjunção carnal, 1 auxiliar administrativo, 2 auxiliares de necropsia, 3 médicos, 2 motoristas. A única viatura disponível para todo o atendimento está em uso há 13 anos e para sair do lugar tem que pegar no tranco.
A situação é desumana e viola os Direitos Humanos, mas não é recente. Em 2004, quando cadáveres ficavam dentro de carros de funerárias durante a noite e familiares aguardavam o horário de expediente seguinte para liberação de corpos, a Câmara instaurou uma Comissão de Assuntos Relevantes a pedido da vereadora para tratar do caso.
À época o então prefeito Vitor Hugo Burko decidiu que Guarapuava não bancaria as despesas do IML e suspendeu a participação financeira do município, por entender que essa responsabilidade deveria ser dividida também com os outros municípios. Quem passou a cumprir as despesas foi o Consórcio Municipal de Saúde (CIS), mas apenas até o dia 14 de abril de 2004. De lá para cá a situação se tornou caótica, requerendo uma atuação dos deputados estaduais Artagão de Mattos Leão Junior (PMDB) e Fernando Carli Filho (PSB) junto ao Governo do Estado.
Só para se ter uma idéia, além da falta de profissionais técnicos, o IML não possui, segundo a vereadora, nem sacos cadavéricos, e as câmaras frias existentes são poucas.
Cada uma tem capacidade para manter seis corpos, e 9 já foram empilhados uns sobre os outros.
Quando a geladeira da nossa casa está muito cheia, deixa de congelar a contento. No IML não é diferente, compara a vereadora, numa referência também ao mau cheiro que exala das câmaras.
Neste primeiro trimestre de 2009 o IML já prestou 703 atendimentos, dos quais 113 com cadáveres e 590 por lesões corporais.