Pais sem filhos para abraçar ou filhos sem mães que os protejam têm um duro, mas importante, alerta a transmitir. Todos os dias famílias são mutiladas no mundo inteiro por pessoas que beberam antes de dirigir, excederam a velocidade permitida ou não seguiram as regras básicas do trânsito.
Seus relatos são exemplos da dor e dos danos devastadores e irreversíveis da perda. Na terça-feira, 12, uma carta escrita por Gilmar Yared, pai de Gilmar Rafael Sousa Yared, uma das vítimas fatais do acidente que envolveu o deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho, demonstra a indignação e revolta de uma família destruída pela falta de consciência ao volante.
Vocês não imaginam a importância de ter amigos. Neste momento de tanta dor, onde a tristeza tomou conta de minha alma, onde a vontade de viver dá lugar à de morrer, receber as muitas mensagens através de telefonemas e e-mails tem sido um refrigério. (…) Que poder é este que destrói a família? O poder político não é maior que o poder de Deus e não pode estar acima do bem e do mal. Sei que tudo isso irá passar e que enfrentarei muitos desafios a partir de agora. Peço a Deus que nos dê forças e nos proteja. Amigos, poderia estar acontecendo com qualquer um de vocês. Fui escolhido para suportar tamanha dor acompanhado desta grande injustiça. Esses trechos foram retirados da carta publicada na íntegra no site do jornalista Fábio Campana e reproduzida também no site Rede Sul de Notícias.
A palavra acidente significa um acontecimento casual, fortuito, imprevisto. Quando um motorista dirige embriagado, em excesso de velocidade ou desrespeitando as regras de trânsito, devidamente sinalizadas ao longo das vias, sabe que está sujeito a se ferir e a ferir fatalmente no trânsito. É quando o ocorrido deixa de ser um acidente e se transforma em um crime.
As estatísticas mostram com clareza a proporção das tragédias que acontecem no trânsito. Só no ano passado 70 mil pessoas perderam a vida nas estradas do país. É difícil uma pessoa que não conheça pelo menos alguém que tenha morrido no trânsito, vítima de um condutor imprudente ou de sua própria imprudência.
Entre a parcela jovem da população, os riscos são ainda maiores. Para muitos deles, o carro é muito mais que um meio de transporte, atingindo o patamar da auto-afirmação. Eles usam os veículos para se destacar entre os amigos, conquistar a namorada e partir em busca de novas aventuras. Não temos dados precisos, mas a parcela de jovens que perdem a vida em acidentes é grande. É tão significativa que o seguro de carros é bem mais caro para jovens até 26 anos de idade. Jovem e solteiro paga mais porque a seguradora já sabe que dá mais prejuízo, comenta o psicólogo de Departamento de Trânsito do Paraná, perito em trânsito, Fernando Zavadniak Souza.
Cristiane Mores Beltrão (foto), também psicóloga do Detran, fala que a imprudência é motivada por vários fatores, como a persona-lidade da pessoa, o seu compor-tamento, a educação que recebeu e a falta de limites durante a sua criação. Não se pode generalizar, pois nem todo jovem é imprudente. Mas quando tem um jovem que não teve limites dentro de casa, sempre teve tudo de maneira fácil e sempre teve seus erros encobertos, o carro para ele pode se transformar numa arma, observa.
Segundo ela, ao completar 18 anos a pessoa tem o sonho de possuir carteira de motorista por acreditar que o carro vai ajudá-lo a ser uma pessoa melhor. Para nós, da área de saúde, a adolescência inicia nas meninas com a primeira menstruação (em geral, com 12 e 13 anos) e para os meninos também nessa faixa etária e só termina aos 21 anos. Ou seja, temos muitos adolescentes iniciando no trânsito. E adolescência implica numa idade de conflitos, bombardeio de hormônios que refletem, sim, no comportamento das pessoas. A conscientização deve ser maior, acredito que as auto-escolas precisam fazer um trabalho um pouco mais amplo de orientar as pessoas nesse sentido. Temos muitos exemplos de pais e filhos imprudentes, ressalta Cristiane.
Formação
Para ter uma carteira de habilitação é preciso assistir aulas teóricas e realizar aulas práticas e, além disso, os futuros motoristas passam por uma avaliação psicológica. Testes de atenção, de raciocínio e de personalidade indicam características indesejáveis para a condução, como a agressividade.
Procuramos identificar e frear o processo, caso seja necessário. O nosso objetivo aqui, no Detran, não é barrar a carteira, mas educar. Se a pessoa não está apta no momento buscamos soluções para ajudá-la, como um acompanhamento psicológico, psicopedagógico, neurológico, dependendo do caso. Prestamos ajuda para que essa pessoa possa ir se conscientizada para o trânsito no futuro, diz Souza.