22/08/2023


Cotidiano Guarapuava

‘Inclusão pra mim é utopia’, diz mãe de autista

Rita Armstrong é uma defensora incansável pela implantação de políticas públicas para autistas

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Henrique, Freud e Rita (Foto: arquivo da família)

Ele chama a atenção onde quer que se encontre. Seja por ele próprio ou pela companhia inseparável do amigo Freud. O amigo cão, da raça Spitz Alemão, é o equilíbrio do jovem Henrique Armstrong. Porém, o que Freud – o psiquiatra – não explica é o preconceito e o descaso, que envolve as pessoas tidas como ‘diferentes’.

Talvez seja por isso, que Henrique deu esse nome ao seu fiel escudeiro. Chamado de ‘cão assistente’, assim como Henrique, Freud possui a documentação necessária para entrar em qualquer lugar. Mesmo naqueles onde animais tem acesso vedado.

“É muito importante o autista ter documento que o identifique para que possa ter acesso a políticas públicas e a todos os direitos que possui perante a lei”, diz Rita Armstrong, mãe de Henrique. Em Guarapuava, somente agora esse público tem acesso a essa documentação

A lei municipal nº 2947/2019 obriga os órgãos públicos e estabelecimentos privados a não deixarem pessoas com Transtorno Espectro do Autismo (TEA) em filas.  Por isso, neste sábado (17), a Secretaria de Saúde faz uma ação, o Dia A, para fazer a emissão das carteirinhas de identificação do autista. Vai ser entre às 9h e às 12h, no CAPS II.

“Estaremos recolhendo os documentos e cadastrando os portadores de TEA (Transtorno do Espectro Autista) para emissão do cartão municipal de identificação, que garante acesso prioritário, por isso é importante que todos que necessitam da carteirinha, compareçam ao Dia A”, comentou a diretora do Departamento de Planejamento do SUS, Monica da Silva Tavares.

Os interessados devem preencher obrigatoriamente o requerimento, disponível no site. Após a entrega dos
documentos, a carteirinha é emitida em até 30 dias. “Quem não puder comparecer nesta data, poderá procurar o CAPS e levar os documentos da mesma forma”, enfatizou Monica.

REALIDADE

Entretanto, apesar da legislação assegurar a inclusão, a realidade é outra. No caso de Henrique os obstáculos começaram a surgir na idade escolar. “Não havia escola regular que aceitasse o Henrique naquele momento”.

De acordo com Rita, após uma maratona entre um colégio e outro sem êxito, a ex-presidenta Dilma lançou a cartilha de inclusão do autista. Porém, para isso, Rita foi a Brasília, driblou a segurança e conseguiu entregar o esboço do livreto à presidência. Quinze dias depois a cartilha foi lançada.

APROVADO EM CINCO VESTIBULARES

Sem largar o seu “fiel companheiro”, como chama Freud, Henrique passou por todas as fases do ensino, desde o fundamental até o médio.

Porém, na hora do vestibular, sem fazer cursinho preparatório, Henrique foi aprovado em cinco seleções ao mesmo tempo: medicina, engenharia mecânica, arquitetura, engenharia civil e jogos digitais. “Com o auxílio do pai, Gelson, que é engenheiro mecânico, Henrique optou por esse curso”.

Entretanto, segundo a mãe, a luta pela inclusão ainda continua.

Inclusão para mim é utopia. Depende muito do amor e da boa vontade de cada um. Afinal, leis existem e não são respeitadas. Isso atrasa o desenvolvimento do autista.

Mas aos poucos a luta vai subindo degraus. Outra demanda conquistada foi a inclusão do autista no censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com Rita, a expectativa é de que com o número de portadores do espectro autista, políticas públicas sejam implantadas.

Precisamos urgente de políticas públicas. Precisamos que as leis sejam cumpridas. Precisamos de atendimento prioritário e ininterrupto de saúde porque não existe ex-autista.

Todavia, diz Rita, o que existe é o diagnóstico – muitas vezes tardio -, existe o descaso, o desrespeito e a falta de empatia.

“O autista é autêntico, verdadeiro e capaz. Capaz de fazer a diferença no mundo, de se sobressair e de alcançar aquilo que nós, não autistas, jamais conseguiríamos”.

Conforme disse Rita ao Portal RSN, basta incluí-lo, entendê-lo e “todos colherão os bons frutos do autismo”.

SERVIÇO

Quem não puder comparecer ao CAPS II até o meio-dia deste sábado (17), pode fazer a carteirinha em outra oportunidade. Veja os documentos necessários.

– Atestado médico referente ao Transtorno do Espectro Autista: original e cópia autenticada, emitido há no
máximo 24 meses;
– Requerimento preenchido; (disponível no site)
– Duas fotos 3X4;
– Cópia simples do documento de identidade com foto da pessoa com TEA (RG, CNH ou equivalente). Quando não
possuir documento de identidade: cópia simples da certidão de nascimento;
– Cópia simples do CPF da pessoa com TEA (se o número não constar no RG);
– Cópia simples do cartão SUS;
– Cópia simples do comprovante de residência atual em Guarapuava;
– Cópia simples de documento de identidade oficial com foto e assinatura (RG, CNH ou equivalente) e CPF do
representante legal;
– Cópia do documento comprovando que a pessoa é o representante legal. (procuração, tutela ou curatela)

Cristina Esteche

Jornalista

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