Comer é um ato político, mas continua não sendo uma realidade diária para muitas pessoas. A fome voltou a se alastrar pelo Brasil após recuar por cerca de 10 anos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de um terço da população está com algum grau de insegurança alimentar. É o maior índice já registrado pelo IBGE desde 2004. A informação corresponde ao biênio 2017-2018.
Ainda conforme os dados, o Norte e o Nordeste se encontram com a pior situação. Lá, menos da metade das casas tinham garantia de alimento na mesa. Conforme o IBGE, 84,9 milhões de brasileiros moravam em domicílios com alguma insegurança alimentar entre 2017 e 2018. Do número total, 10,3 milhões enfrentavam insegurança alimentar grave. Então, não tinham acesso suficiente a alimentos e passavam fome, incluindo crianças.
Segundo o portal de notícias G1, em cinco anos, aumentou em cerca de 3 milhões o número de pessoas sem acesso regular à alimentação básica, chegando a, pelo menos, quase 10,3 milhões o contingente nesta situação.
No Paraná, uma pessoa morre de fome a cada dois dias. Os dados são disponibilizados pelo Ministério da Saúde. Segundo as informações, em 2017 houve o menor registro de casos desde o início da apuração. Naquele ano, foram 187 mortes confirmadas por desnutrição no Estado.
A FOME NO PAÍS
Ao olhar para a série histórica, a gente observa que houve diminuição da segurança alimentar e o consequente aumento dos índices de insegurança alimentar entre a população brasileira.
A fala do gerente da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, André Luiz Martins Costa preocupa. Além disso, ele aponta que a fome está mais presente nas áreas rurais do país. “As pessoas que estão em meio urbano conseguem mais alternativas [de alimentação] que aquelas que vivem nas áreas rurais”.
A pesquisa também informa que 63,3% dos domicílios brasileiros tinham a chamada segurança alimentar, abaixo dos 65,1% apurados. As informações são de 2004, quando iniciou o levantamento. O IBGE destacou que esse percentual cresceu nas duas pesquisas seguintes. Elas foram feitas em 2009 e 2013. No entanto, o número retrocedeu ao mínimo histórico em 2018.
Já a maior cobertura de segurança alimentar registou-se em 2013. Na época, os dados informaram que 77,4% era o total de domicílios em que a alimentação podia ser considerada como plena e regular.
NÍVEIS DE INSEGURANÇA
O IBGE classifica a insegurança alimentar em três níveis. São eles leve, moderada e grave. A insegurança alimentar leve causa preocupação ou incerteza quanto ao acesso aos alimentos no futuro. Além disso, também corresponde a queda na qualidade adequada dos alimentos. Já a moderada é aquela em que há redução quantitativa no consumo de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões de alimentação.
Por fim, a insegurança alimentar grave diz respeitos a redução quantitativa de alimentos. Isso, também inclui as crianças. Desse modo, há ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores do domicílio. Portanto, nesta situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no lar.
Assim, conforme o IBGE, a insegurança alimentar moderada é a que mais cresceu percentualmente entre os domicílios brasileiros entre 2013 e 2018. Com uma alta de 87,53%. A insegurança alimentar leve teve alta de 71,5% no mesmo período. Já a grave, que caracteriza a fome, aumentou em 48,8%.
FAIXA ETÁRIA
O Instituto também analisou a situação alimentar por faixa etária. Com isso, identificou que metade das crianças com até quatro anos vivia em domicílios com algum tipo de insegurança alimentar. Sendo assim, 34,2% estão em casas com insegurança alimentar leve. Outras 10,6% com moderada. Por fim, 5,1% com grave.
As crianças e adolescentes com idade entre cinco e 17 anos, passou da metade. Então, 50,7% estão vivendo sob algum tipo de insegurança alimentar. Na faixa etária entre 18 e 49 anos, este percentual foi de 41,2%, enquanto no grupo de 50 a 64 anos este percentual caiu para 34,6%. Sendo assim, a menor proporção de pessoas vivendo sob algum tipo de insegurança alimentar estava na faixa etária acima de 65 anos, com 21,3%.
De acordo com o pesquisador André, conforme a idade da pessoa aumenta, aumentam também as chances dela ter maior segurança alimentar.
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