22/08/2023
Cotidiano

José Deodácio da Silva… ..e a vida na antiga Rondinha

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O reservense José Deodácio da Silva, 87 anos, conheceu o município de Reserva do Iguaçu mesmo antes dele existir. Ele veio de Palmas, com a família em 1935, quando o município ainda era território de Guarapuava, depois passou a ser território de Pinhão e participou do processo de emancipação política em 1997.
Seo Deodácio como é conhecido, lembra que a cidade não existia. “Aqui tinha só fazendas. Neste local que hoje é a cidade tinha só um morador, o Candido Ramalho”, lembra ele.
De voz mansa, e esbanjando simpatia, as horas passam depressa embaladas pelos causos de seo Deodácio. Ele conta que 1937 ajudou um tal de João Matias a construir o Cemitério da Fiat. “O Elias Pacheco foi que mandou arrumar o cemitério, mas ele já existia, aquele cemitério tem mais de 100 anos”, disse ele.
Ele também lembra da primeira capelinha que um tropeiro construiu no Paço da Reserva. “Era uma capelinha bem pequena, com a santa dentro, onde os tropeiros paravam para rezar”.
Ele conta que tempos depois, foi construída uma balsa para atravessar o rio. “Era uma balsinha pequena, primeiro passava as carroças, depois os cavalos,
porque não cabia tudo de uma vez só”, conta.
Seo Deodácio, conta porque o local ficou conhecido como Rondinha. “Naquela época vinha muitos tropeiros do Rio Grande do Sul que levavam mulas para vender em São Paula, eram mais 500 mulas, e quando eles faziam essas paradas, as mulas ficavam rondando. Por isso que ficou Rondinha”. Ele lembra que como não havia arame para cerca os animais, os tropeiros faziam grandes valas para que as mulas não fugissem.
Falando das dificuldades da época, Seo Deodácio se recorda como era difícil encontrar um médico. “Aqui não tinha médico, era difícil até em Guarapuava que era uma vilinha. Nós quando precisávamos tínhamos que ir até a Limeira, e o nosso médico era o Trifon, ele era farmacêutico, mas era o nosso médico, o que ele podia fazer, ele fazia”.
Para comprar mantimentos e tecidos, os moradores da antiga Rondinha, iam a Pinhão ou em Inácio Martins. “Nós íamos à Pinhão, no armazém dos Dellê, lá a gente comprava açúcar, sal, café era só em grãos, depois em casa, a gente mesmo moia. E era tudo de saco de 60 quilos. E íamos com os cargueiros, porque não tinha estrada, nem pra carroça, era pelos carreiros no meio do mato mesmo”. Quando chegou aqui, disse que as fazendas já não utilizavam mais trabalho escravo, mas que conheceu o “João Mico”, que foi escravo do Coronel Pedro Lustosa.
Agricultor, Seo Deodácio já foi dono de armazém e lembra das viagens que fez levando uma vara de porcos até Ponta Grossa. “O serviço da gente era plantar roça e engordar porcos. Uma vez eu e mais doze companheiros levamos cerca de 900 porcos até Ponta Grossa. Lembro-me bem, levamos um mês, e quinze dias para chegar. Além dos animais, tinha as carroças que levava milho para os animais comerem, quando faltava, a gente ia comprando pelo caminho”.
Hoje, aos 87 anos, Seo Deodácio curte a terceira idade. “Gosto de jogar truco, contar causos com os amigos. Só falta mesmo um baile pra gente dançar”. Ele lembra que na antiga Rondinha, não precisava de motivo para festejar. “Os vizinhos se juntavam, sempre tinha um que tocava gaita, outro cantava, e tava feito o baile no chão batido, as vezes saia até tiro, que levantava poeira”, conta.
Para ele que viu nascer e crescer o município de Reserva do Iguaçu, a cidade se desenvolveu bastante e é um lugar gostoso para se viver. “Gosto muito daqui, agora tudo é mais fácil, até para a saúde, se for preciso eles levam até pra Curitiba”.
Indagado sobre o que falta para que o município cresça ainda mais, Seo Deodácio respondeu, “o que vai melhorar muito é quando sair o asfalto até a Cooperativa Agrária. Este asfalto é muito esperado pelo nosso povo”, completa.
(Matéria comemorativa aos 13 anos de emancipação politica do municipio de Reserva do Iguaçu)

Cristina Esteche

Jornalista

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