Guarapuava – Encontrar uma maneira alternativa para que o sonho de cursar o ensino superior não seja interrompido. Esta é a nova luta de bailarinos e percussionistas da Companhia de Música e Dança Afro Kundun Balê e que será fomentada como tema de reflexão na quarta-feira, 13 de maio, data que acende a polêmica sobre exclusão social e racial no Brasil.
Distante cerca de 30 quilô-metros do centro da cidade, o local onde vivem, a comunidade quilombola Paiol de Telha convive com a angústia, entre tantas outras, provocada pela dificuldade da vinda de 7 acadêmicos para a faculdade.
Para chegar à Colônia Socorro, onde há transporte universitário, é preciso caminhar cerca de 8 quilômetros de estrada de chão. As péssimas condições desse trecho afugentam qualquer motorista. Vir a pé durante a tarde para pegar o ônibus e depois retornar às 23 horas, principalmente quando se é só mulher nesse grupo? Difícil? É e muito, mas elas já fizeram isso movidas pela força de vontade de estudar.
Desde o início das aulas, em fevereiro deste ano, os acadêmicos quilombolas se viram como podem. Já vieram em um único carro, mas a manutenção aliada ao combustível diário impediu a continuidade desse transporte. Uma Kombi contratada pelo valor de R$ 1,5 mil por mês está trazendo os alunos diariamente e levando-os de volta ao quilombo. Sem geração de renda, principalmente, para os jovens, a continuidade desse transporte ameaça estar com os dias contados.
Vamos fazer de tudo para que o nosso sonho de ter uma formação de nível superior não seja frustrado, afirma Ana Maria Alves da Cruz, que cursa psicologia.
O que não entendemos é porque não conseguimos ter um apoio oficial para que possamos melhorar as condições de vida da nossa família, da nossa comunidade, e garantir um futuro melhor para nós mesmos. Só queremos isso, desabafa Nayan Vanessa Marques de Lima, acadêmica de nutrição.
Pertencentes ao Kundun, companhia que é sucesso e referência para o Paraná quando se trata de cultura negra, os jovens quilombolas se ressentem com a falta de reconhecimento também cultural. Pra nós tudo é muito difícil. Somos aplaudidos por milhares e milhares de pessoas em todo o Paraná, mas não vivemos só de aplausos. Os órgãos que dizem trabalhar com cultura nos ignoram. Sentimos na nossa pele essa omissão, mas não nos deixamos abater porque a força da nossa luta levamos para o palco, comenta Afixirê Eliete dos Santos Oliveira (foto), que cursa Publicidade e Propaganda.
Para o Kundun, 121 anos após o dia em que os negros do Brasil foram colocados no sereno, sem eira e nem beira, as dicotomias não apenas persistem como se ampliam e se aprofundam. A nossa luta pela melhoria da qualidade de vida, pelo acesso ao ensino, pelos direitos básicos previstos na Constituição Brasileira, a exemplo de milhões de não negros, persiste. Sabemos que somos sujeitos históricos e agentes dessas mudanças mesmo lutando contra um sistema que insiste em tornar a nossa luta ainda mais difícil, mas o sabor da nossa vitória, por mínima que seja, é muito maior, afirma Anaxilê Isabela Camargo Soares da Cruz, acadêmica de História na Unicentro.