Com Agência Brasil
A Justiça argentina confirmou nessa sexta feira (19) que vai processar o vice-presidente Amado Boudou por “suborno” e “negociações incompatíveis” com o cargo público. Ele foi acusado de usar sua influencia para ajudar a empresa Ciccone a evitar a falência em 2010, quando era ministro da Economia da presidenta Cristina Kirchner, e de comprar a empresa por meio de um misterioso fundo de investimento chamado The Old Fund.
Boudou também teria beneficiado os novos donos da gráfica, com contratos com o governo, para imprimir papel moeda e documentos oficiais. Esta é a primeira vez na historia argentina que um vice-presidente em exercício é processado por suposto envolvimento em um escândalo de corrupção. A Justiça tinha decidido abrir processo contra Boudou em junho do ano passado, mas ele apelou e perdeu.
A decisão judicial foi anunciada um dia após a Marcha do Silêncio, quando milhares de argentinos saíram às ruas na quarta feira (18) para homenagear o promotor Alberto Nisman, encontrado morto com um tiro na cabeça há um mês, e pedir justiça.
Quatro dias antes de sua morte, Nisman tinha denunciado um suposto complô, liderado pela presidenta Cristina Kirchner e o chanceler Hector Timerman. Eles teriam negociado um plano secreto com o Irã para desviar as investigações do atentado de 1994 contra o Centro Comunitário Judaico Amia, que matou 85 pessoas. A denúncia foi acolhida na semana passada por outro promotor, Gerardo Pollicita. Para o governo, tanto a marcha, quanto a denúncia e a morte de Nisman fazem parte de um processo para desestabilizá-lo.
O chefe de gabinete da Presidência, Jorge Capitanich, reagiu nesta quinta-feira à Marcha do Silêncio, dizendo que foi uma manifestação “opositora” – e não uma simples homenagem, organizada por um grupo de promotores, a um colega morto. Segundo Capitanich, o Poder Judiciário argentino “é independente do poder político, mas não é independente das corporações, que influenciam de forma direta e indireta para perturbar o funcionamento normal das instituições”.
A ex-mulher de Nisman, a juíza Sandra Arroyo Salgado, que participou da marcha na quarta feira (18), disse hoje ter a certeza de que o promotor não se suicidou com o revólver calibre 22 encontrado ao seu lado, “pela sua personalidade”, e porque, segundo ela, “não tinha motivos”.