22/08/2023


Brasil Geral

Justiça nega recurso do WhatsApp e mantém bloqueio por 72 horas

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Da Redação com o Estadão Conteúdo e Agência Brasil

Brasil – O desembargador Cezário Siqueira Neto, do Tribunal de Justiça de Sergipe, manteve na manhã desta terça feira (03), a medida cautelar que suspende o WhatsApp por 72 horas em todo o território nacional.

O aplicativo de mensagens está bloqueado desde às 14h de segunda (02), por uma decisão do juízo criminal da Comarca de Lagarto. Ainda na tarde de segunda, a empresa havia entrado com recurso na Justiça para derrubar o embargo.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o diretor global de comunicação do WhatsApp, Matt Steinfeld, se disse surpreso com o bloqueio e afirmou que o objetivo é colocar o serviço no ar antes do prazo, que termina às 14h da próxima quinta (05). Coincidentemente, o executivo acompanha um grupo de funcionários da companhia norte-americana que está no Brasil nesta semana para explicar como o serviço funciona para autoridades.

Em sua decisão, o desembargador considerou não ser aceitável a alegação da empresa de resguardar o direito à privacidade dos usuários:

"Em verdade, o direito à privacidade dos usuários do aplicativo encontra-se em conflito aparente com direito à segurança pública e à livre atuação da Polícia Federal e do poder Judiciário na apuração de delitos, em favor de toda a sociedade. Neste primeiro momento, percebo que a impetrante, em verdade, minimiza a importância da investigação criminal de componentes de organização criminosa que utilizam o aplicativo em questão, escamoteando a gravidade do delito supostamente praticado (tráfico interestadual de drogas), sob a pecha de garantir o direito à intimidade de seus usuários. Ora, o uso do aplicativo por quem quer que seja e para qualquer fim não pode ser tolerado sem ressalvas. Deve, sim, sofrer restrição quando atinge outros direitos constitucionalmente garantidos, como no caso em momento."

Steinfeld disse que é preciso esclarecer às autoridades brasileiras que o aplicativo utiliza a criptografia "de ponta a ponta por padrão em todas as mensagens", o que significa que, quando uma pessoa envia uma mensagem pelo serviço, somente ela e o destinatário podem lê-la.

"Quando essa mensagem é enviada, ela é embaralhada em um código de letras e números. Assim, mesmo que seja interceptada, ninguém consegue entendê-la. Ninguém pode ter acesso ao conteúdo daquela mensagem e isso inclui o WhatsApp. Nós não temos como decodificar a mensagem, asim como qualquer hacker", dise Matt. "Estamos nos encontrando com oficiais, advogados e promotores no Brasil para responder suas perguntas, entender suas preocupações. Podemos fazer um trabalho melhor para educar as pessoas a respeito de como o serviço funciona e o que somos capazes de fazer para atender as ordens judiciais."

BLOQUEIO

A decisão é um desdobramento de outra, ocorrida em março, quando o mesmo juiz da Comarca de Lagarto determinou a prisão de Diego Dzodan, principal executivo do Facebook. Ambas as determinações da Justiça estão relacionadas ao não cumprimento de determinações em relações a ordens judiciais que pediam acesso ao conteúdo das comunicações de usuários suspeitos de cometer crimes.

Por meio de nota divulgada ontem (02), o WhatsApp se disse desapontado com a decisão da Justiça Brasileira: "Depois de cooperar com toda a extensão de nossa capacidade com os tribunais brasileiros, estamos desapontados que um juiz de Sergipe decidiu, mais uma vez, ordenar o bloqueio do WhatsApp no Brasil. Esta decisão pune mais de 100 milhões de brasileiros, que dependem do nosso serviço para se comunicar, administrar seus negócios e , muito mais, para nos forçar a entregar informações que afirmamos repetidamente que não temos."

O presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), João Rezende, afirmou ontem (02) que o bloqueio do WhatsApp em todo o país é uma medida desproporcional porque acaba punindo os usuários do serviço. "O WhatsApp deve cumprir as determinações judiciais dentro das condições técnicas que ele tem. Mas, evidentemente o bloqueio não é a solução", disse.

INVASÃO

Devido à decisão de bloquear o serviço do WhatsApp em todo o território nacional, o grupo de hackers Anonymous Brasil invadiu o sistema do servidor de internet do Tribunal de Justiça sergipano. Em publicação em sua página no Facebook, o grupo afirma que a ação é um protesto contra a decisão do juiz.

De acordo com o grupo, as autoridades brasileiras sabem que o tipo de tecnologia adotado pelo aplicativo não permite que as conversas sejam entregues descriptografadas para a polícia.

 
 
 

PublicidadeDe acordo com o grupo, as autoridades brasileiras sabem que o tipo de tecnologia adotado pelo aplicativo não permite que as conversas sejam entregues descriptografadas para a polícia.

Cristina Esteche

Jornalista

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