22/08/2023
Saúde

Lei deve agilizar reconstrução da mama pela rede pública

Nesta ano, 52.680 casos de câncer de mama, principalmente entre mulheres, devem ser diagnosticados, de acordo com estimativa do Ministério da Saúde. Para muitas dessas pacientes, o tratamento da doen¬¬ça implicará a retirada da mama. Enquanto na rede privada a cirurgia única de retirada e reparação da mama é quase regra, no Sistema Único de Saúde (SUS) o procedimento ainda é pouco abrangente. A expectativa, porém, é que a aprovação de uma lei que determine a obrigatoriedade da cirurgia plástica imediata impulsione a prática.

Segundo o Ministério da Saúde, atualmente a orientação é que, se houver indicação médica, a paciente seja submetida à cirurgia única. Na prática, não é bem isso que acontece: no ano passado, em todo Brasil, foram realizadas 12.563 mastectomias e apenas 1.394 cirurgias reparadoras na rede pública. No Paraná, foram 782 procedimentos de retirada e 78 reconstruções.

O Projeto de Lei 3/2012, aprovado pelo Senado em março, ainda aguarda a san¬¬ção da presidente Dilma Rousseff (PT) para entrar em vigor. A cirurgia única, embora seja um avanço, ainda não será indicada para todas as pacientes: o procedimento só poderá ser adotado com aval médico, pois a reconstrução não é recomendada a todas as mulheres.

Mesmo assim, médicos e gestores de hospitais veem a medida de forma positiva. “A lei é importante porque vai permitir um procedimento que não era rotina, porque não era beneficiado com um código para pagamento pelo SUS”, avalia o oncologista Sérgio Hatschbach, do Hospital Erasto Gaertner e do Instituto Paranaense de Oncologia.

Recomendação médica

A reparação da mama não é indicada para todas as pacientes: há casos que permitem a cirurgia única, outros que vão exigir a recuperação tardia e ainda mulheres que não poderão colocar próteses de maneira alguma. Independentemente da situação, a premissa básica do médico é ouvir o desejo da paciente.

Em muitos casos, a reconstrução é feita tardiamente para não atrasar o tratamento do câncer, já que a colocação de próteses pode causar infecções ou rejeição. O adiamento é indicado para mulheres que tiveram tumores agressivos e precisarão passar por sessões de radioterapia. O tempo de espera para a reconstrução é de no mínimo seis meses. Para pacientes muito graves, que tiveram os piores prognósticos, a reconstrução só será indicada de dois a dois anos e meio após a retirada da mama.

O mastologista do Hospital Nossa Senhora das Graças e professor da Universidade Positivo Cícero Urban ressalta que há dificuldades em fazer a reconstrução mamária imediata no mundo todo. No Brasil, os principais problemas são o pagamento na rede pública e a carência de profissionais especializados. “O câncer já é um drama, ele não precisa ser uma mutilação”, defende.

“É um luto que você guarda”, diz paciente

Foi durante a recuperação de uma cirurgia para correção de um problema de coluna que a dona de casa Ireide Maria de Carvalho Ribeiro, de 51 anos, sentiu um caroço no seio. Inicialmente, ela pensou que a bolinha pudesse ser reflexo de uma cirurgia de redução de mama, feita para tentar aliviar as fortes dores nas costas. Por outro lado, havia a desconfiança de que pudesse ser um nódulo, já que a mãe teve câncer de mama.

Em agosto, o diagnóstico foi um baque: era um tumor e, por causa do tipo, era preciso retirar toda a mama. “Foi um choque. Eu nem tinha me recuperado da coluna quando tive a notícia do tumor”, conta. Sem plano de saúde, o tratamento está sendo feito na rede pública, mas não integralmente. Para agilizar o processo, Ireide pagou do próprio bolso as biópsias, mamografias e ecografias que precisou fazer. Gastou mais de R$ 1.000, mas pode começar o tratamento mais rapidamente.

Foram seis meses de quimioterapia e no final de fevereiro deste ano, Ireide fez a cirurgia que retirou seu seio. Para a reconstrução, ainda não há previsão, mas o médico aconselhou que ela esperasse pelo menos seis meses.

Embora esteja se recuperando bem da cirurgia – foi preciso drenar o líquido que ficou retido, mas já houve a liberação para a continuação do tratamento com radioterapia – as mudanças no corpo abalam o lado emocional. “É um luto que você guarda, um pedaço seu que saiu de você”, desabafa.

Cristina Esteche

Jornalista

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